A Argentina poderá não cumprir o acordo anunciado pelos ministros da Agricultura daquele país e do Brasil para permitir a importação de carne suína até atingir uma cota de 3 mil toneladas mensais. Atualmente, as importações estão virtualmente suspensas, desde que o país criou uma declaração jurada a ser apresentada pelos importadores, que precisa ser aprovada uma a uma pelas autoridades do governo.
Principal responsável pela barreira, o secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, advertiu os importadores que só serão permitidas as compras de carne suína que sirvam de insumos para a produção de embutidos de baixo custo. O dirigente conversou por telefone com importadores, ameaçando jogar "todo o peso do governo" contra quem não cumprir a determinação.
Na visão de exportadores brasileiros, a limitação não vai completar a cota negociada pelos ministros Mendes Ribeiro (Brasil) e Norberto Yauhar (Argentina), que serviria de experiência para o estabelecimento de cotas também a produtos importados pelo Brasil, como arroz. A estimativa é que a importação, que ficou em 478 toneladas em fevereiro, poderia ir apenas a 1 mil toneladas.
A indústria argentina de carne suína vinha mostrando avanço vigoroso nos últimos anos, atingindo produção de 300 mil toneladas por ano em 2011, quando houve 6,4% de crescimento. Mas o incremento das importações andou mais rápido e em 2011 houve uma expansão de 14,3% nas compras do país. Cerca de 80% das 54 mil toneladas importadas pela Argentina é do Brasil. O produto importado representa 16% do consumo aparente argentino.
Ao fechar a Argentina para importações, Moreno contava com uma rápida capacidade da criação e da indústria do país em expandir e substituir importações, mas isso não aconteceu e há casos pontuais de desabastecimento em Buenos Aires.
No ministério da Agricultura, havia a previsão de uma reunião nesta terça-feira para formalizar o entendimento sobre as cotas. O acordo, de natureza política, não teria um instrumento jurídico e seria cumprido pela liberação das guias de importação até o volume acertado. A reunião, entretanto, não aconteceu.
Ao conversar com jornalistas na semana passada, Mendes Ribeiro afirmou acreditar que Yauhar estava credenciado pelo governo argentino a estabelecer o acordo. " Tratei com quem tinha que tratar, me pareceu que o ministro ao falar já tinha encaminhado o assunto dentro do governo", disse o brasileiro na ocasião. Segundo informou a assessoria de imprensa do ministério, os dois governos ainda estão definindo as condições pelas quais haverá um acordo entre as partes privadas.
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