quinta-feira, 15 de março de 2012

Empresas vão à OMC pressionar por abertura

Fonte: Valor Econômico
Autor:  Assis Moreira

A crise econômica, com retração da demanda e aumento do protecionismo, provocou ontem uma mobilização inédita do setor privado junto à Organização Mundial do Comercio (OMC) para defender liberalização e menores custos para seus negócios.

A Câmara de Comércio Internacional (CCI) levou à OMC mais de 80 executivos de multinacionais como Daimler, Renault, Du Pont, Zurich Financial, Great Eastern Energy, da Índia, e representantes de federações industriais de dezenas de países para pedir por acordos menores de abertura de mercados, mas essenciais para as transações. "O risco de protecionismo aumentou, e o custo de fazer comércio está crescendo"", disse Victor Fung, presidente da Li & Fung, empresa de Hong Kong que é um dos maiores supridores globais de mercadorias feitas na China.

"É hora de nos voltarmos para o setor empresarial, os reais usuários e de fato os beneficiários do sistema global de comércio para falar sobre suas necessidades"", acrescentou.

Pascal Lamy, diretor da OMC, observou que nos últimos dez anos, o setor privado pouco se fez ouvir ou apoiou a Rodada Doha porque a negociação ocorreu em período de forte crescimento global econômico e comercial. "A crise provocou uma situação muito diferente, bem-vindo de volta!".

"Estamos numa fase em que temos de voltar ao essencial, trabalhando com as empresas na identificação dos obstáculos ao comércio e removê-los", acrescentou Lamy. "Não estamos em um momento onde podemos contar com energia política para fazer avançar o sistema multilateral de comércio. Precisamos dos outros para irmos para a frente"".

Para conter a ameaça de mais protecionismo, o presidente do CCI, Gerard Worms, defendeu um acordo rápido para facilitação de comércio e reduzir, por exemplo, a burocracia nas aduanas. Lamy calcula que as regras já desenhadas para facilitação de comércio representam 50% dos benefícios de uma conclusão da Rodada Doha.


Para os executivos, os países precisam deixar para trás sérios desentendimentos sobre regras que já estão caducas. Lembram que nos últimos dez anos o modelo industrial foi alterado com as cadeias globais de produção, e hoje não se pode falar mais de um produto feito num único país.

Jean-Guy Carrier, secretário-geral do CCI, alertou especialmente para a alta de protecionismo nas grandes economias. "O Brasil tem um crescimento econômico importante, mas ao mesmo tempo é um dos mercados menos abertos que estamos vendo", afirmou por sua vez Harold McGraw III, presidente da McGraw-Hill Companies.

De modo geral, segundo a CCI, os países do G-20, grupo das maiores economias desenvolvidas e emergentes, adotaram mais medidas de proteção, mas os "Brics são piores e o Brasil é um dos menos abertos". Num índice publicado em novembro de 2011, a CCI apontou o Brasil como o mais protecionista no G-20, com política comercial mais restritiva do que países como Argentina, China e Rússia.

A OMC está monitorando o que ocorre nas trocas globais e Lamy notou que até agora não viu o Brasil romper seus compromissos e impor tarifas de importação além do teto fixado nas negociações. O Brasil tem tarifa de importação média de 10%, mas pode aumentar as tarifas para até 35% sem romper os compromissos na OMC.

Mas Lamy mostrou-se mais circunspecto sobre o argumento de que a proteção no Brasil é necessária devido à guerra cambial. "A relação entre nível de câmbio e fluxo de comércio é extremamente complexa", afirmou. Executivos têm duvidas sobre a proposta do Brasil de um antidumping cambial, ou sobretaxa contra importação de país que manipula a moeda.

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