É consenso há algum tempo que as instituições e pactos multilaterais surgidos no final da Segunda Guerra não mais refletem o novo equilíbrio de poder mundial. Vem daí a pressão de nações emergentes para obterem mais espaço nos centros de decisão das Nações Unidas e Fundo Monetário, apenas para citar os dois organismos mais proeminentes da governança global.
O encontro de cúpula do Brics, onde estão representados Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - o "s", de South Africa, no acrônimo -, realizado esta semana em Nova Delhi, refletiu, como esperado, a posição crítica do grupo diante do fato de já ter um peso no planeta não refletido nestes e outros organismos multilaterais.
Juntos, os cinco países respondem por 25% do PIB planetário - fatia que tende a se alargar com a crise europeia - e abrigam 40% da população mundial. Em termos de valor da produção, eles movimentam anualmente US$ 13,5 trilhões, quase um PIB americano.
No documento final da reunião, foi devidamente cobrada a execução este ano, como estabelecido, do acordo pelo qual países emergentes como o Brasil terão ampliado o número de cotas no FMI. De maneira nem tão sutil, o Brics mandou o recado: recursos para ajudar a resolver o imbróglio europeu serão colocados disponíveis sem maiores embaraços à medida que a reforma do Fundo avance. O argumento é forte, pois China, Índia e, em plano mais abaixo, Brasil têm elevadas reservas externas e podem, via FMI, ajudar bastante no mecanismo financeiro de estabilização das economias europeias avariadas. O dinheiro já foi oferecido, mas nestas condições.
O Brics deseja, ainda, avançar numa estratégia de descolamento da área do dólar. Planeja ter um banco próprio de desenvolvimento - um sucedâneo de Banco Mundial, Bird - e fazer operações comerciais e de investimento nas próprias moedas do grupo. Pode ser, mas falta muito para que suas economias tenham solidez e confiabilidade capazes de sustentar nova moeda de reserva mundial.
O que era um acrônimo criado por um economista de Wall Street, Jim O"Neill, tem procurado ser mesmo um grupo. Mas não existe, ainda, uma unidade de posições que lhes permita ser tratados como tal. Há, inclusive, interesses contraditórios entre eles, de ordem geopolítica e econômica. China e Índia administram problemas de fronteira. Brasil, Rússia e África do Sul são importantes fornecedores de matérias primas da China, que os inunda de produtos manufaturados de preço baixo, em função de custos de fato reduzidos, mas, principalmente, devido a um câmbio mantido deprimido de forma artificial. São contenciosos que minam a aliança.
O encontro de cúpula, o segundo feito pelo Brics, serviu de palco para a presidente Dilma puxar as críticas à política monetária frouxa de americanos e europeus, causa da tal "tsunami" de divisas sobre o país, fator de valorização do real. Não é dito, mas se a onda impedir um choque de insolvência bancária, a crítica será esquecida. O Brics nem ninguém ganhariam com esta crise.
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