As definições para criar um banco de desenvolvimento dos Brics devem estar prontas até o ano que vem, quando o grupo de países voltará a se reunir, na África do Sul, previu o presidente sul-africano, Jacob Zuma, em encontro com a presidente Dilma Rousseff, ontem, na capital indiana. Hoje, os chefes de governo dos Brics abrem oficialmente a quarta reunião do grupo, na Índia, autora da proposta do novo banco.
A declaração final do encontro vai apenas anunciar a formação de um "grupo de trabalho" para criar o novo banco. Embora o Brasil defenda pouca pressa para formar a nova instituição, pelo menos três países querem vê-lo funcionando em breve. Zuma, ao ouvir de Dilma elogios à associação da empresa sul-africana ACSA ao consórcio que terá a concessão do aeroporto de Guarulhos, disse que a África do Sul vê no futuro banco uma chance de obter créditos para obras em estradas, hidrelétricas e portos, que poderão ter participação brasileira.
Para Zuma, o banco interessa também a outros países africanos, que poderão ter recursos dos países dos Brics. Embora até os indianos, autores da proposta, admitam que o projeto da nova instituição não é para o curto prazo, a África do Sul, além de prever a criação do banco para o próximo ano, reivindica que a sede seja em território sul-africano.
Informalmente, já se fala em capital inicial de US$ 1 bilhão, formado pelos cinco países (com uma contribuição simbólica do país de Zuma), Os chineses querem a presidência, mas o Brasil e a Rússia (o país mais reticente em relação ao projeto) defendem que haja rotatividade no posto.
Tanto autoridades indianas quanto chinesas anunciaram a iminente formação do novo banco como uma maneira de contornar as condicionalidades impostas pelas atuais instituições financeiras multilaterais, como o Banco Mundial, e de canalizar recursos de financiamento por meio de um banco onde tenham poder real de controle das políticas de empréstimo.
Formalmente, o governo brasileiro defende o banco, embora rejeite a designação de banco Sul-Sul usada por outros parceiros. Em reunião com empresários brasileiros, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, garantiu que o Brasil apoia a iniciativa, de preferência para investimentos em tecnologia, comércio entre os Brics e infraestrutura em terceiros países.
Os indianos querem ter acesso aos recursos do banco para complementar o financiamento de seus projetos de industrialização e infraestrutura, que já esgotaram o limite de crédito em instituições como o Banco Mundial. Ontem, por coincidência, o atual presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, estava na Índia para supervisionar projetos do banco no país, e prometeu buscar alternativas para ampliar esses empréstimos, hoje superiores a US$ 35 bilhões.
Os Brics têm discutido extraoficialmente o processo de escolha do substituto de Zoellick, que deixará o posto em junho. O candidato favorito é o americano Jim Yong Kim, sul-coreano de nascimento, indicado por Barack Obama.
Há três outros candidatos de países emergentes: o americano Jeffrey Sachs, indicado por um grupo de países em desenvolvimento, com poucas chances na disputa, a nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala, ex-ministra de Finanças e alta funcionária do banco, respeitada internacionalmente e favorita dos países africanos, e o colombiano José Antônio Ocampo, lançado pela República Dominicana, que contou com a simpatia inicial do Brasil, mas não tem apoio da Colômbia, o que, na avaliação do governo brasileiro, inviabiliza a candidatura.
Com o apoio garantido da União Europeia, os EUA têm maioria de votos para eleger Yong Kim. Os Brics, embora defendam maior transparência e poder para os países emergentes nas instituições multilaterais, evitaram apoiar um candidato comum e têm discutido separadamente com os EUA sobre o assunto. O Brasil decidiu, por exemplo, evitar qualquer manifestação antes do encontro entre Dilma e Obama, em pouco mais de uma semana, durante a visita da presidente a Washington.
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