Um tipo de contraofensiva poderá ocorrer este ano no que vem parecendo uma "guerra cambial global" de um lado só, enquanto o ritmo de crescimento das economias em desenvolvimento desacelera, as economias ricas dão uma pausa na impressão de dinheiro e a valorização das moedas emergentes perde força.
A "guerra" de três anos, que é como o Brasil vem chamando as políticas de desvalorização dos países desenvolvidos que buscam reduzir os efeitos dos apertos de crédito domésticos, poderá completar um círculo e, como resultado disso, esgotar-se. Mas a direção invertida da desvalorização cambial dos mercados emergentes carrega seus próprios riscos, que vão do adiamento de decisões de investimentos ao agravamento dos problemas na diplomacia comercial.
E mais: é o sucesso que o Japão vem tendo este ano em finalmente enfraquecer o supervalorizado iene, com novas rodadas de impressão de dinheiro, que poderá se mostrar fundamental ao perturbar o delicado equilíbrio existente na Ásia. Alguns economistas alertam que a queda de mais de 10% do iene desde janeiro já força a China a amolecer em sua controvertida política de impor um teto ao yuan, de uma maneira que poderá provocar consternação em Washington em um ano eleitoral.
Longe de sofrer uma grande valorização como resultado da política chinesa de maior flexibilidade no câmbio - uma grande demanda multilateral e dos Estados Unidos -, o yuan na verdade vem se enfraquecendo este ano, em razão da queda do crescimento e da inflação na China, do agravamento da balança comercial e dos temores de uma "aterrissagem brusca".
Embora o rigidamente controlado yuan tenha valorizado mais de 10% em comparação às maiores moedas do mundo nos últimos cinco anos, ele é uma das poucas moedas de grandes economias emergentes a permanecer mais baixa em relação ao dólar em 2012. Recuperando-se de um 2011 calamitoso, o rublo da Rússia, a rúpia da Índia, o peso do México e o rand da África do Sul acumulam valorizações que vão de 5% a 10%.
Em fevereiro, a China registrou seu maior déficit comercial em mais de uma década, e os sinais de uma desaceleração da atividade econômica aumentam em praticamente tudo, dos preços dos imóveis à demanda por minério de ferro e os investimentos estrangeiros. Mas se o país permitir ou engendrar o enfraquecimento do yuan, então é improvável que outros gigantes emergentes possam ignorar isso.
Albert Edwards, estrategista do Société Générale (que tem uma perspectiva negativa para os mercados globais no longo prazo), afirma que é de uma importância vital que os investidores globais considerem a possibilidade do yuan chinês mais fraco, uma vez que o consenso reinante não leva em consideração os riscos.
"A opção de desvalorização do yuan está sendo amplamente ignorada pelos mercados, da mesma maneira que eles estão ignorando a possibilidade de a economia chinesa estar entrando em um processo de aterrissagem brusca", diz Edwards. "A opção da desvalorização deveria ser vista como "em jogo", não importa o quanto isso possa ser impensável no momento."
Segundo Edwards, grande interdependência das economias regionais da Ásia significa que é impossível ignorar a influência mútua das taxas de câmbio na região. E ele acrescenta que o grande enfraquecimento do yuan a partir dos picos históricos de 1995 a 1997 foi um grande gatilho das devastadoras crises cambiais asiáticas e do colapso em 1997 e 1998.
Neil MacKinnon, economista do banco russo VTB Capital, admite que se olhar para as "guerras cambiais" como uma tentativa de desvalorização das moedas dos países do G-7 em bloco, contra os mercados emergentes, então este pode ser o momento para se ficar atento em relação aos últimos. "Os chineses certamente têm menos estômago para um yuan forte a esta altura e a história de valorização relativa mudou agora, no geral, para as moedas emergentes", afirma.
Além disso, Stephen Jen, do fundo de hedge SLJ Macro Partners, diz que se você olhar para a inflação nos salários de 15% na China nos últimos anos, em vez da inflação mais modesta do índice de preços ao consumidor, verá que o yuan pode já estar "equilibrado" e mais risco de duas vias vem por aí. "Não está mais claro se o yuan está subvalorizado ou não." A questão, então, é se será possível para os investidores permanecerem otimistas com os mercados emergentes e ao mesmo tempo céticos com a China.
Uma pesquisa mensal dos gestores de fundos do Bank of America Merrill Lynch, divulgada na semana passada, mostra que os fundos ainda estão bastante sobreposicionados em ações de mercados emergentes. No entanto, enquanto as expectativas para o crescimento da economia mundial melhoraram este mês, as perspectivas para a China pioraram. Mas a equação cambial deverá ser importante. O UBS estima que, ao longo da última década, as movimentações cambiais contribuíram com uma média de 46% do retorno total em sete dos anos do período em que os retornos totais e os retornos cambiais foram positivos.
E as movimentações têm tanto a ver com as tendências do dólar, quanto com qualquer concepção sobre as moedas locais. Das 22 principais moedas emergentes, 11 registraram valorizações de mais de 10% em relação ao dólar no período, mas apenas três moedas - a brasileira, a chinesa e a peruana - registraram ganhos de 10% em termos nominais ponderados.
Portanto, se o dólar quiser se recuperar em uma economia americana que está se estabilizando, e num cenário de alta dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, a aposta nas moedas emergentes fica ainda mais complicada. O UBS reconhece que as moedas emergentes ainda parecem boas num horizonte de um a três anos, mas poderá haver muitos solavancos nesse período.
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