quinta-feira, 15 de março de 2012

Câmara internacional de comércio acusa o Brasil de protecionismo


Fonte: O Estado de S. Paulo
Autor: Jamil Chade
Levantamento da instituição aponta o Brasil como a economia mais protecionista entre todas que formam o G-20

Diante de uma onda de elevação de tarifas no Brasil, uma das maiores alianças de empresas do mundo acusa o governo brasileiro de protecionismo, alerta que tarifas não resolverão a variação cambial e alerta que o País corre o risco de perder competitividade se continuar nesse caminho. O ataque é da Câmara Internacional de Comércio, que em um levantamento aponta o Brasil como a economia mais protecionista de todo o G-20 e ontem fez questão de não poupar alertas ao governo de Dilma Rousseff.

Enquanto isso, o diretor da Organização Mundial do Comércio, Pascal Lamy, alerta que a relação que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, faz entre a valorização do câmbio e o comércio pode não ser tão simplista quanto o governo brasileiro aponta.

"O crescimento da economia brasileira é inspirador", disse Harold McGraw, vice-presidente da entidade com representantes em 120 países e que reúne algumas das maiores empresas do mundo. "Mas da mesma forma que cresce agora, é também um dos países menos abertos", declarou McGraw, que preside ainda o Conselho para Negócios Internacionais dos Estados Unidos. Para ele, essa onda protecionista não tem como sobreviver no Brasil e não é por meio de tarifas que o governo conseguirá compensar a valorização do real.

"É uma questão de tempo. Esse protecionismo não poderá durar se o Brasil quiser continuar a crescer", declarou. "O Brasil, mais cedo ou mais tarde, vai ter de liberalizar sua economia, se de fato quiser manter uma taxa importante de crescimento."

McGraw coordenou um levantamento entre as economias do G-20 que revelou que o Brasil adotou mais barreiras ao comércio que qualquer outro governo, inclusive o da Argentina. "Os dados brasileiros não são nada positivos", alertou.

Compensações. Entre os empresários estrangeiros, poucos compram a ideia do governo brasileiro de que as barreiras eram necessárias para compensar a valorização do real, que tornou as importações mais baratas. "Prefiro não me pronunciar sobre isso", declarou Victor Fung, presidente da Li & Fung, multinacional com sede em Hong Kong e uma das maiores empresas de distribuição do planeta. "O que os empresários querem é apenas um câmbio estável. Mas posso trabalhar com qualquer taxa de câmbio", insistiu.

Lamy também evitar embarcar no argumento brasileiro de que as barreiras são uma resposta à valorização do câmbio e alerta que a relação entre a moeda e o comércio pode não ser tão simples como diz o Palácio do Planalto. "A relação entre o câmbio e o comércio é extremamente complexo ", disse. "Nunca ouvi um assunto onde houvesse 200 visões diferentes ", afirmou o francês, em referência a um estudo realizado pela entidade e que mostra que não há um consenso.

Portas fechadas. Na próxima semana, à pedido do governo brasileiro, a OMC realiza seu primeiro seminário para debater a relação entre o câmbio e o comércio internacional. Essa foi a forma que o Brasil encontrou para concretizar a pressão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para introduzir o tema na agenda internacional.

Mas, apesar da iniciativa ter sido aceita pelos demais governos, a delegação dos Estados Unidos fez questão de impedir que o evento e o debate fossem públicos. A reunião, portanto, ocorrerá a portas fechadas. "Foram os embaixadores que decidiram assim", justificou Lamy.

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