Desde que a China ingressou na Organização  Mundial do Comércio (OMC) em 2001, sua relação comercial com o Brasil  cresceu tremendamente. O país asiático se tornou o maior e o mais  importante parceiro comercial brasileiro, conforme anunciado pelo  ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante visita oficial ao  presidente chinês Hu Jintao, em maio de 2009, em Pequim.
Nos  últimos dez anos, o comércio bilateral entre Brasil e China aumentou  mais de 18 vezes, alcançando a cifra de US$ 36,9 bilhões em 2009, e com  um crescimento exponencial de 56% entre 2009 e 2010, atingindo US$ 56,3  bilhões o valor total do comércio bilateral.
Essa relação sul-sul,  desenvolvida entre esses gigantes países emergentes, especialmente em  termos de cooperação econômica e parceria comercial, criou uma  oportunidade única para ambos os lados em infraestrutura, agronegócio,  mineração, petróleo e gás, alta tecnologia, maquinário e automóveis.
O  Brasil exporta basicamente commodities para a China, tais como minério  de ferro (57,13% em 2010), petróleo (16,95%) e soja (12,83%), enquanto  que a China exporta principalmente produtos manufaturados para o Brasil,  como, por exemplo, máquinas, equipamentos e materiais elétricos, além  de reatores e equipamentos nucleares. Ainda assim, cerca de 55 empresas  brasileiras já começaram a investir na China, sendo 90% por meio de  escritórios de representação e 10% com "joint ventures" e subsidiárias  integrais internacionais. Ao passo que cerca de 50 empresas chinesas já  estabeleceram seus escritórios e fábricas em território brasileiro,  principalmente por meio de fusões e aquisições parciais (56%),  investimentos em projetos greenfield (23%), fusões e aquisições totais  (21%) e "joint ventures" (10%).
Os principais desafios enfrentados  pelas empresas brasileiras que investem na China são basicamente: 1)  tolerância em relação a prazos, cultura de negócios, valores e tradição,  2) paciência e 3) modificação da filosofia corporativa, alterando a  mentalidade nos negócios para desenvolver seus produtos e serviços,  visando não só a exportação, mas também o atendimento do mercado interno  chinês, ávido por consumo.
"Pensando globalmente, mas agindo  localmente" se tornou adágio popular entre as empresas multinacionais na  China. Porém, devido ao ambiente peculiar de negócios no país, os  empreendedores brasileiros precisam aprender a lição de "primeiro  construir o relacionamento", conceito-chave para ser bem-sucedido na  China, além da necessidade de se empenharem em participar de encontros  informais com os colegas chineses.
Por outro lado, os principais  desafios enfrentados pelas empresas chinesas que investem no Brasil são,  na maioria das vezes: 1) o ambiente jurídico, particularmente o  complexo sistema tributário e os procedimentos para vencerem uma  licitação, 2) o impacto da responsabilidade corporativa e ambiental em  suas decisões comerciais e 3) os prazos para cumprimento da agenda de  negócios, devido à exigência de licenças operacionais e aprovações de  projetos perante os órgãos e departamentos governamentais brasileiros.
Os  empreendedores chineses encontram diversas dificuldades no Brasil,  desde a compra de terras em áreas rurais, aquisição de direitos para  exploração de minas até o cumprimento de todas as leis e regulamentos  estabelecidos pelo governo brasileiro, tais como a nova alíquota de IPI,  que pretende aumentar em 30% para os automóveis que não tiverem 65% do  processo produtivo concluído no Brasil ou nos países do Mercosul, entre  outras condições.
Nesse sentido, Brasil e China ainda precisam ter  um melhor entendimento mútuo, que pode ser conseguido por meio da  Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação  (Cosban), criada em 2006, sob a supervisão dos vice-presidentes de ambos  os países. A entidade visa desenvolver e fortalecer a relação bilateral  em 11 assuntos diferentes, entre eles a cooperação comercial e  econômica, de acordo com o Plano de Ação Conjunta (2010-2014).
A  tensão econômica ocorre naturalmente em decorrência do crescimento do  comércio bilateral. Entretanto, desenvolver canais bilaterais de  comunicação como a Cosban pode diminuir o desconhecimento, melhorando o  diálogo e podendo ser uma alternativa para reduzir a proteção comercial  entre as duas nações, como, por exemplo, a aplicação de medidas  antidumping, dentre outras medidas compensatórias, muitas vezes  excessivamente protecionistas ao mercado doméstico, já que essas são  apenas medidas provisórias para o crescimento inevitável do comércio  bilateral entre essas economias emergentes, particularmente nas ricas  oportunidades de benefício mútuo, tais como a Copa do Mundo em 2014 e as  Olimpíadas em 2016, que serão sediadas no Brasil.
Desde  "Brasil-China: novas oportunidades para parceria estratégica", criado  durante o mandato do ex-presidente Lula, até "Brasil-China: além da  complementaridade - parcerias para benefícios mútuos", criado já no  mandato da presidente Dilma Rousseff, o governo brasileiro também está  envidando seus melhores esforços para obter uma reação proativa e  desenvolver uma relação estratégica de longo prazo com a China, não  apenas visando a cooperação, mas também a parceria, definindo políticas  para o melhor desenvolvimento dessa relação bilateral.
Definitivamente,  desde que a China ingressou na OMC, diversas oportunidades de negócios  foram criadas para os dois países. Entretanto, o entendimento mútuo e a  troca de conhecimento são ainda essenciais para uma relação bilateral  harmoniosa e para o desenvolvimento de um ambiente comercial favorável  para ambos os países emergentes.
 
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