Demora na assinatura do tratado que cortará cerca de 60% da dívida grega é vista com impaciência em Bruxelas e Washington
A demora para a assinatura do acordo para o corte de cerca de 60% das dívidas soberanas da Grécia provocou ontem insatisfação na União Europeia e no Fundo Monetário Internacional (FMI).
Credores privados e o governo de Lucas Papademos discutem há semanas, mas ainda não encontraram a saída do impasse sobre a troca de obrigações que pode vir a representar o corte (haircut, na palavra em inglês) de até € 200 bilhões em dívidas.
Pela manhã, ministros de Finanças da zona do euro pressionaram Atenas para que implemente as reformas fiscais no país. À noite, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, exortou os bancos a assumirem as suas perdas. A preocupação é de que as conversas entre credores e o governo terminem em fracasso, apesar das manifestações de otimismo de Papademos e do presidente do Instituto Internacional de Finanças (IIF), Charles Dallara, representante do sistema financeiro.
Ontem, ao término da reunião do Eurogrupo, fórum de ministros da zona do euro, o ministro de Finanças grego, Evangelos Venizelos, voltou a garantir que o país busca um acordo, mas não aceita pagar juros superior a 4% por ano pelas novas obrigações, que substituirão as atuais.
A questão é o cerne dos debates entre Atenas e os credores, que exigem yields (retornos) mais elevados em troca do corte da dívida. "Estamos na reta final", afirmou Venizelos, prevendo um corte mais "tímido", da ordem de € 130 bilhões.
As promessas não cumpridas de que o acordo se aproxima, porém, irritaram as autoridades europeias. Wolfgang Schäuble, ministro de Finanças da Alemanha, condicionou a liberação de mais recursos dos dois programas de socorro do Banco Central Europeu (BCE), do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef) e do FMI, ao fechamento do acordo sobre a reestruturação "voluntária" da dívida - ou seja, com a anuência dos credores.
Sem a assinatura, a Grécia ficaria sem novas parcelas do primeira programa, de € 110 bilhões, e sem nenhum recurso do segundo, de € 130 bilhões. "Seria totalmente irresponsável dar ainda mais dinheiro sem um engajamento formal de todas as forças políticas gregas de que conduzirão os ajustes até o fim", afirmou Schäuble.
Bancos. Mas, ao longo do dia, os europeus também ampliaram a pressão sobre o IIF. Jean-Claude Juncker, premiê de Luxemburgo e coordenador do Eurogrupo, deu razão aos gregos na reivindicação de juros mais baixos e disse que as novas obrigações deverão ser aceitas pelos credores com "yields inferiores a 4%".
A pressão continuou à noite, quando a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, advertiu os representantes dos bancos de que eles também devem assumir suas perdas na negociação com a Grécia.
"O que ficou decidido há vários meses é que os bancos também assumirão suas perdas. É preciso ser sério e mostrar de quanto ela será. Os bancos devem aportar sua solução", afirmou a executiva, em entrevista à rede de TV pública France 2.
Segundo Lagarde, a hipótese de que o acordo não seja sacramentado e de que um default de pagamento "não voluntário" seja decretado por Atenas não acontecerá. "A falência da Grécia não está em questão. Já ouvi da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e do presidente da França, Nicolas Sarkozy, que isso não está em questão", reiterou, pedindo "um esforço especial dos bancos".
Lagarde afirmou ainda que os programas de recapitalização do sistema financeiro "ainda estão em curso nos quatro cantos da Europa" e que a exigência de aumento de capital das instituições não deve passar por uma restrição de crédito, sob pena de que o crescimento econômico seja afetado.
Ela voltou a sugerir a Angela Merkel que aceite o aumento dos recursos do futuro Mecanismo de Estabilidade Financeira (MES), instituição que substituirá o Feef em julho e conta hoje com € 500 bilhões. Lagarde defende a fusão dos recursos dos dois fundos - MES mais o Feef -, o que elevaria o firewall (barreira) europeu a € 750 bilhões. "Tenho esperança de ser escutada, porque é do interesse de todos, inclusive da Alemanha", justificou.
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