terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Acordo reforça posição hegemônica da Alemanha

Fonte: Valor Econômico

Greve geral na Bélgica: grevistas bloqueiam acesso ao aeroporto de Bruxelas, cidade onde fica a sede da União Europeia

Os dirigentes europeus chegaram ontem a Bruxelas, para a cúpula destinada a discutir crescimento e emprego, e encontraram uma cidade quase fantasma. A Bélgica estava paralisada, na primeira greve geral em 18 anos, em protesto contra o plano de rigor do novo governo de Elio di Rupo.

O tempo na cidade-sede da União Europeia era cinzento, quase escuro, e finos blocos de neve caíam desde o começo da manhã. Um prédio em construção ao lado do Conselho Europeu, com as gruas vazias apontadas para as instituições europeias, tinha um cartaz desejando a todos "Feliz 2012"".

Na entrada principal do prédio do Conselho, achou-se prudente colocar um aviso de que é "proibido entrar com armas"", com os desenhos de revólver, faca, spray, etc.

A cúpula de ontem reforçou a posição hegemônica da Alemanha e escanteou na prática a dobradinha da premiê Angela Merkel com o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Em plena campanha eleitoral, Sarkozy continua colado a Merkel, mas a posição francesa se enfraqueceu muito depois da perda da nota de crédito triplo A. Em contrapartida, a nova configuração de poder inclui gradualmente o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, que começa a recuperar a influência de Roma na zona do euro, depois dos anos da pobreza intelectual de Silvio Berlusconi.


Merkel decide, mas não convence sempre, como destaca o jornal italiano "Corriere della Sera", resumindo um sentimento que se propaga nas chancelarias europeias, onde surgem críticas, sob o manto do segredo, de que ela coleciona erros e oportunismo nacionalista.

Por exemplo, os alemães pressionam os países europeus em dificuldade a duros programas de austeridade, o mesmo tipo de medida que jogou Portugal numa forte recessão em 2002, quando José Durão Barroso era o premiê. No entanto, em 2003, quando também a Alemanha enfrentou dificuldades econômicas, Berlim se recusou a respeitar as regras que tinha defendido um ano antes.

O presidente da Bulgária, Rosen Plevneliev, admite sem rodeio que "a Alemanha vai nos guiar"". Ele apoia a liderança alemã na UE e a visão dura por reformas exigidas por Merkel. Mas até ele ressalva que os países do sul europeu veem os planos de ajuste alemães como "duros demais e ingovernáveis"".

Analistas notam que a posição hegemônica da Alemanha na UE significa que Berlim, com a maior economia do continente, precisa, ainda mais do que antes, assumir sua enorme responsabilidade e tomar decisões corretas.

Alguns analistas alemães criticam os novos planos que a Alemanha apresentou à UE, de instalar um protetorado, ou um vice-rei moderno, em Atenas, pelo qual as decisões econômicas do governo grego poderia ser vetadas pela UE. Para esses analistas, isso parece uma tentativa de "empurrar"" a Grécia para fora da zona do euro.

Nos últimos tempos, Merkel se recusou a fornecer mais ajuda para a Grécia, piorando a crise, acreditam alguns analistas.

Antes do começo da cúpula, o novo premiê espanhol, Mariano Rajoy, em sua primeira participação, não notou que a TV transmitia ao vivo naquele momento e contou a seu colega finlandês, Jyrki Katainen, que a reforma do mercado de trabalho que vai fazer "vai me custar uma greve"" - ilustrando como cada um quer ser bom aluno, mas sabendo que a tensão é forte.

Nesse cenário, mesmo os falsários parecem ter dúvidas sobre o futuro do euro. A UE informou que o número de notas falsas da moeda retiradas de circulação caiu em 19,3% no ano passado, totalizando 606 mil. Também o número de moedas de euro falsificadas retiradas de circulação diminuiu 15% em relação a 2010, para 186 mil.

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