A pedido dos EUA, o país asiático aceita aumentar a pressão internacional sobre o regime persa
Honras militares O presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad, desembarcou ontem em Quito, na última parada da viagem pela América Latina. O líder islâmico foi recebido com honras militares na base aérea de Guayaquil, de onde partiu para reuniões privadas com o presidente Rafael Correa. Antes de chegar à capital equatoriana, ele passou pela Venezuela, pela Nicarágua e por Cuba. Na ilha, ele se encontrou com o ex-presidente Fidel Castro e com o atual mandatário, Raúl Castro. O iraniano reforçou os laços de amizade com os cubanos e obteve apoio para o uso pacífico da energia nuclear.
A diplomacia norte-americana atravessou o mundo e conseguiu apoio de um importante aliado na pressão internacional que busca exercer sobre o Irã. O Japão, terceiro maior comprador do petróleo iraniano, aceitou impor um embargo às importações provenientes da república islâmica. A sanção ainda não tem data para entrar em vigor, mas os japoneses já quebram a cabeça para encontrar fornecedores alternativos. Analistas ouvidos pelo Correio afirmam que o aumento das restrições pode levar o país dos aiatolás a um colapso financeiro, como desejam os Estados Unidos. Isso, no entanto, não impediria um eventual conflito no Golfo Pérsico, a quebra do mercado petroleiro e consequências severas para a economia global, especialmente para as nações do leste asiático.
O anúncio da decisão japonesa foi dado após uma reunião do ministro das Finanças, Jun Azumi, com o secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner. "O assunto nuclear é um problema que o mundo não pode ignorar. Por isso entendemos perfeitamente as ações empreendidas pelos Estados Unidos", disse Azumi. "Trabalhamos estreitamente com a Europa, o Japão e nossos aliados do mundo inteiro para incrementar consideravelmente a pressão contra o Irã", reforçou Geithner. O jornal Yomiuri Shimbun noticiou, no entanto, que os japoneses estariam tentando convencer os EUA a não levar as medidas restritivas para os bancos do país, que mantêm muitos negócios com as autoridades iranianas.
Sem reservas fósseis e com um problema de fornecimento de energia após as explosões nas usinas nucleares de Fukushima, o Japão já corre atrás de possíveis parceiros comerciais. O ministro de Relações Exteriores, Koichiro Gemba, visitará, esta semana, a Turquia, a Arábia Saudita, o Catar e os Emirados Árabes Unidos, todos produtores de petróleo.
"O problema é que há poucos países produtores com facilidade de acesso", lembra Paul Sullivan, professor de economia na National Defense University, em Washington. Embora o Irã não tenha dado continuidade à ameaça de fechar o Estreito de Ormuz — por onde escoa o petróleo de todos os países do Golfo Pérsico —, é possível que o governo islâmico retome essa ideia. "Algumas vezes, você pressiona um país de forma tão dura que essa tensão pode acabar levando a erros", diz.
Exibição
Para piorar ainda mais o complicado relacionamento entre os EUA e o Irã, a Marinha norte-americana enviou ao golfo um segundo porta-aviões, com cerca de 80 aeronaves a bordo. O porta-voz do Pentágono, John Kirby, disse se tratar de uma manobra de rotina, "planejada há muito tempo". É possível que um terceiro navio chegue à região, vindo da Tailândia. "Os EUA sempre mantiveram uma forte presença no local. Abandonar essa estratégia seria visto como um sinal de aceitação das ameaças e ultimatos iranianos e também deixaria os Estados do golfo nervosos", avalia Mehran Kamrava, diretor do Centro de Estudos Internacionais na Georgetown University.
As manobras militares, a pressão econômica e a guerra verbal entre os dois países têm colocado governos e analistas de todo o mundo em alerta. Kamvara critica o que chama de aumento da retórica por parte dos iranianos, dos norte-americanos e também da União Europeia, em especial da França. "Por muito tempo, eu achei que cabeças mais frias iriam prevalecer em ambos os lados. Hoje, não estou tão otimista. Os ocidentais estão caminhando cegamente para uma guerra com o Irã", teme o professor. Além do envio do porta-aviões, 8 mil técnicos do Exército dos Estados Unidos desembarcaram em Israel, arqui-inimigo da república islâmica, nos últimos dias.
Caso um conflito seja deflagrado, todo o mercado de petróleo será afetado. Para Paul Sullivan, os países asiáticos seriam os mais afetados. Japão e Coreia do Sul compram mais de 70% de seu petróleo de nações da região.
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