segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

G-20 ainda longe de acordo sobre ajuda à Europa

Fonte: Valor Econômico
Autor:  Assis Moreira

Sob pressão, países europeus prometeram no G-20 reavaliar em março se reforçarão seu futuro Mecanismo de Estabilidade Financeira (ESM, na sigla em inglês) como barreira de proteção ("firewall") contra contágio da crise da zona do euro a outros países, como os parceiros vêm cobrando.

No entanto, o prazo foi considerado longo pelos países não europeus do grupo, que reúne as maiores economias desenvolvidas e emergentes. E a tendência é deixar para abril a definição de recursos para o Fundo Monetário Internacional (FMI) aumentar sua capacidade de apoiar países em dificuldades, contrariando planos da Europa.

Em reunião de vice-ministros de finanças, concluída na Cidade do México na sexta-feira, o FMI reiterou que precisa obter US$ 600 bilhões adicionais para elevar a US$ 1 trilhão sua capacidade de financiamento e cortar possível contágio da crise.

Com os países da zona do euro tendo o desafio de refinanciar justamente mais de € 1 trilhão de dívidas que vencem este ano, e podendo ter de buscar parte dos recursos no FMI, a Europa defendeu no G-20 que o fundo deveria ser fortalecido em fevereiro, na reunião dos ministros de finanças e presidentes de bancos centrais do grupo na capital mexicana.

O racha ficou claro, com os não-europeus reconhecendo a importância de o fundo dispor de mais recursos, mas insistindo que a zona do euro precisa antes fazer muito mais para ajudar suas próprias economias.


No mercado e entre parceiros, persistem dúvidas sobre a viabilidade do "compacto fiscal" da zona do euro, o plano de ajuste a ser aprovado no dia 30. Além disso, independentemente de uma restruturação da dívida da Grécia com os bancos credores, a questão é como o contágio pode ser evitado em outras economias, e qual afinal será a barreira de proteção para a Itália, a Espanha e outras regiões.

"É preciso evitar possível contaminação, contágio a outros países", afirmou o vice-ministro mexicano de Finanças, Geraldo Rodriguez. Para o representante brasileiro, Carlos Márcio Cozendey, não tem sentido o FMI substituir as opções dos europeus para resolver sua situação. Ele defendeu que os recursos adicionais para o fundo devem ser em apoio, e não em substituição, a uma estratégia contra contágio da crise.

Na zona do euro continua a reinar a confusão. O bloco definiu três formas de "firewall" contra contágio da crise: 1) alavancar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF) para € 1 trilhão; 2) implementar seu sucessor, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM) com capitalização de € 500 bilhões já em julho deste ano, um ano antes do previsto; 3) os bancos centrais nacionais fornecem € 200 bilhões ao FMI através de crédito bilateral, driblando a regra do Banco Central Europeu de não emprestar aos governos nacionais, e também transferem o risco de crédito para o balanço do FMI.

Mas a expectativa de um fundo europeu com € 1,5 trilhão contra a crise parece otimista demais. Primeiro, a alavancagem do EFSF não se concretizou e o fundo perdeu sua nota de crédito "triplo A". Segundo, os governos arrastam os pés para capitalizar o ESM e a Alemanha não quer nem ouvir falar de aumentar seus recursos. E, terceiro, os europeus divergem sobre sua própria contribuição ao FMI.

O Bundesbank, o BC alemão, condiciona sua fatia à participação da Grã-Bretanha com € 30 bilhões. Já os britânicos, que não fazem parte do euro, têm dificuldades de passar de € 10 bilhões para o FMI.

Para analistas do Deutsche Bank, a real contribuição da zona do euro para o FMI pelo momento seria próxima de 112 bilhões de euros, tirando as fatias da Itália e da Espanha. Isso significa que a zona do euro precisará pedir mais dinheiro para o FMI, ou aumentar os recursos para o EFSF/ESM.

Na reunião de fevereiro dos ministros do G-20, só devem ser aprovados a modalidade de empréstimo para o FMI e certas exigência, inclusive aos europeus, sobre o uso dos recursos na crise. Valores, só em abril. Mas tudo pode ser acelerado. Muito depende de como o mercado se comportar e da velocidade de ação dos europeus.

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