O Brasil pagou a investidores estrangeiros volume recorde de lucros e dividendos em 2011. A conta chegou a US$ 39,97 bilhões, 27,8% acima da de 2010. O Banco Central (BC), que ontem divulgou o número, acredita que em 2012 a cifra será semelhante e considera natural que esses gastos subam diante do expressivo fluxo de investimentos estrangeiros diretos (IED) recebido pelo país nos últimos anos.
Só no ano passado, esse fluxo alcançou US$ 66,66 bilhões, também um recorde, o que representou aumento de 37,4% em relação ao ano anterior. Com um mercado interno atrativo aos investidores por causa das perspectivas de expansão, o Brasil se destacou nesse aspecto, pois o IED subiu apenas 17% na média de todos os países do mundo.
Nem todo o investimento direto tem impacto sobre a conta de lucros e dividendos, pois o conceito inclui empréstimos entre multinacionais e suas filiais no país, que rendem juros. Mas a parte dele que tem impacto é a maior, do ponto de vista do fluxo e do estoque. Enquanto o fluxo líquido daqueles empréstimos foi de US$ 11,87 bilhões em 2011, o que foi destinado à compra direta de participações no capital de empresas chegou a US$ 54,78 bilhões, volume recorde e 36% acima do verificado em 2010.
O último censo feito pelo BC apurou que, no fim do ano retrasado, o estoque dessas participações correspondia a US$ 579,62 bilhões, bem mais do que o saldo dos empréstimos intercompanhias (US$ 80,88 bilhões). Diante da magnitude de tal base de rendimento, não foi surpreendente que elas tenham gerado US$ 29,183 bilhões em remessas de lucros e dividendos ao exterior, respondendo pela maior parcela dos US$ 39,97 bilhões gastos com essa conta.
O restante dessa quantia - US$ 10,788 bilhões - foram lucros e dividendos sobre investimentos em carteira, mais especificamente sobre ações adquiridas por estrangeiros em bolsas de valores (Bovespa e Bolsa de Nova York, onde também se negocia recibos de ações de empresas brasileiras). Embora inferior à parte proporcionada pelo IED, a renda remetida ao exterior, nesse caso, subiu quase 60% em relação a 2010.
O Brasil também teve receitas com lucros e dividendos em 2011, pois há investimentos brasileiros em bolsa e em participações societárias diretas no exterior. A renda gerada por tais investimentos, porém, foi bem inferior à do sentido inverso, limitando-se a US$ 1,804 bilhão. Considerando-se o recebimento desse valor, portanto, o país gastou liquidamente com lucros e dividendos ao exterior US$ 38,16 bilhões, o que ficou acima de 2010 (US$ 30,375 bilhões).
No fim de 2010, os brasileiros detinham estoque de US$ 169,06 bilhões em participações societárias adquiridas diretamente no exterior e outros US$ 14,73 bilhões aplicados em bolsa. Em 2011, aplicaram mais US$ 11,86 bilhões na aquisição de participações acionárias e, por outro lado, trouxeram de volta US$ 8,8 bilhões que estavam em bolsa.
Para Luís Afonso Lima, diretor-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), o importante é o fato de os estrangeiros terem trazido para o Brasil em 2011 volume de recursos novos superior ao que levaram em renda. Em relação a 2010, a diferença entre o fluxo de IED (incluindo créditos intercompanhia) e as remessas de lucros e dividendos subiu de US$ 18,131 bilhões para US$ 28,494 bilhões.
Os números divulgados ontem pelo BC mostram ainda que a maior parte dos recursos trazidos por estrangeiros em 2011 para a compra de participações societárias no Brasil veio da Holanda (25,3%), considerados apenas os ingressos brutos. Os Estados Unidos aparecem em segundo lugar, com 12,8%, a Espanha, em terceiro, com 12,4%, e o Japão, em seguida, com 10,8%. O BC pondera, no entanto, que essa estatística considera o local por onde a empresa enviou dinheiro e não o país-sede do respectivo controlador.
Em 2011, o destino do dinheiro no Brasil foi, principalmente, o setor de serviços e comércio, que ficou com 46%. A indústria recebeu 38,6%. E o setor primário (agricultura, pecuária e extração mineral) teve 14,8%. No setor industrial, destacou-se a metalurgia, destino de 10,4% do que foi aplicado diretamente em participações societárias por estrangeiros no ano passado. No setor de serviços, o que mais atraiu investimento foram as empresas de telecomunicações, que ficaram com 9,6%.
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