O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, juntou coro em Davos com a premiê alemã, Angela Merkel, numa proposta de acordo bilateral de comércio entre os Estados Unidos e a Europa, mas discordou frontalmente da líder alemã sobre como resolver a crise na zona do euro.
Cameron refletiu a crescente decepção de boa parte dos líderes com a Alemanha, conclamando Berlim a contribuir com um pacote significativo e garantias para países em dificuldade na zona do euro. O Reino Unido não faz parte da zona do euro, mas insiste que as consequências da crise na união monetária afetam seriamente sua própria economia e que, afinal, a União Europeia como um todo precisa tomar decisões conjuntas.
"A Europa tem escolhas dolorosas para fazer no curto e longo prazos para melhorar sua competitividade", afirmou Cameron.
Merkel está cada vez mais isolada, na resistência a aumentar os recursos para o Fundo Europeu de Socorro. A Itália, sabendo que vai precisar de recursos bilionários, também acha que o fundo deve ser duplicado, para € 1 trilhão.
Sobre comércio internacional, as coisas parecem menos difíceis. Merkel já tinha lançado a proposta na quarta-feira, sem atrair muita atenção, já que todo mundo queria saber sobre a crise da zona do euro. A Alemanha, e agora também o Reino Unido, acha que está na hora de lançar uma negociação para liberalização comercial entre os EUA e a UE, que fazem juntos 40% do comércio mundial. Com isso, driblariam o entrave da paralisada Rodada Doha e trocariam vantagens para suas empresas.
"No ano passado, neste mesmo fórum, os líderes mundiais pediram um grande esforço para concluir a Rodada Doha em 2011. Dissemos que era o ano do ou vai ou racha. Foi. E temos que ser francos a respeito. Não deu certo", afirmou Cameron. "Em vez de tentar envolver todo mundo, vamos tentar acordos bilaterais que possam ser concretizados."
Os exportadores europeus foram favorecidos por uma queda de até 30% do euro e da libra em relação ao dólar nos últimos três anos, o que ajudou a aumentar a sua competitividade.
A ideia de acordo EUA-UE flutua há algum tempo. Em 1998 houve uma tentativa, mas as negociações não avançaram por oposição da França, que não queria fazer concessões no setor agrícola.
Pascal Lamy, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), considerou que se trataria de algo "marginal", nada fácil de negociar. Primeiro, os EUA são ambiciosos na área agrícola, e a UE é altamente protecionista.
O ex-comissário de Comércio da UE Peter Mandelson mostrou-se cético quanto à chance de acordo. "A proposta gastaria anos e muito energia no que temo que será uma tentativa fútil de fazer com que Europa e EUA adotem as práticas regulatórias e padrões técnicos um do outro. Não vai acontecer."
Atualmente, as tarifas entre os EUA e a UE já são baixas. Lamy exemplifica que o Camboja paga mais por causa de tarifas nos EUA do que a Europa. (Com agências internacionais)
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