sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

‘Plano B’ da Grécia envolve uso de cláusula coletiva e calote forçado

Fonte: Estadão
Autora: Daniela Milanese

Se os envolvidos não chegarem a um acordo sobre a renegociação da dívida, a Grécia tem outra opção bem menos palatável: acionar as cláusulas de ação coletiva (CACs), impondo a reestruturação da dívida mesmo sem a anuência dos credores. Até o Banco Central Europeu entraria no barco, o que não está previsto no plano atual - os 50 bilhões de euros em dívidas gregas detidos pelo BCE devem ficar de fora da reestruturação.

O uso das cláusulas de ação coletiva também se configuraria um calote formal e dispararia os contratos de swaps de default de crédito (CDS), com implicações negativas e difíceis de projetar para os mercados, segundo analistas consultados pela Agência Estado.

"É possível que os credores sejam forçados a participar, mas aí entraríamos em um território nunca antes navegado porque o BCE também seria afetado", disse Thomas Costerg, economista para a Europa do Standard Chartered Bank. "Seria um processo compulsório e agressivo aos investidores. Os mercados reagiriam muito mal e Portugal e Irlanda seriam os primeiros a sentirem os efeitos", disse Achilleas Georgolopoulos, estrategista de dívida do Lloyds Bank.

O terceiro cenário seria ainda pior: a Grécia poderia simplesmente deixar de pagar o vencimento do dia 20 de março, de 14,4 bilhões de euros, num default desordenado. Nesse caso, haveria uma onda global de aversão ao risco, com rápido efeito dominó sobre os mercados.

Mesmo com acordo, dúvidas sobre finanças prevalecerão

Mesmo se a dívida for renegociada, a Grécia não se livrará de uma ampla lista de incertezas. As dúvidas incluem a real adesão dos credores à oferta de troca de dívida, a disparada dos contratos de swaps de default de crédito (CDS) e a sustentabilidade fiscal.

A obtenção de um acordo voluntário pelos negociadores seria um passo importante. Mas, a partir daí, prevalecerá a expectativa de como será a adesão de toda a base de investidores. "O governo quer obter o apoio de 100%, mas isso é difícil de atingir", disse Thomas Costerg, economista para a Europa do Standard Chartered Bank, à Agência Estado. "Os investidores privados são muito heterogêneos e podem ter objetivos diferentes."

As agências de risco já classificaram a troca da dívida como default. Mas há dúvidas sobre se os termos são suficientes para acionar os contratos de CDS, um mercado com pouca transparência, o que dificulta as previsões.

Analistas também acreditam que a renegociação da dívida significaria alívio, mas não conseguiria, por si só, trazer sustentabilidade fiscal para a Grécia. O endividamento em poder dos credores privados soma 200 bilhões de euros e deve sofrer um corte nominal de 50%, um refresco de 100 bilhões de euros. O objetivo é fazer com que a dívida caia para 120% do Produto Interno Bruto (PIB).

"O acordo seria um começo muito bom, mas não resolveria tudo, será preciso continuar com o trabalho fiscal", disse Achilleas Georgolopoulos, estrategista de dívida do Lloyds Bank. "A recessão é maior do que a esperada e o governo tem dificuldade para tapar o buraco entre os gastos e as receitas, portanto a Grécia ainda tem muita lição de casa para fazer", afirmou Costerg, do Standard Chartered Bank.

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