Está cada vez mais difícil um acordo por causa de protestos contra a proposta de tutela sobre os gastos da Grécia
Uma nova crise entre a Alemanha e a Grécia ameaça jogar Atenas em um colapso financeiro e levar ao fracasso a cúpula da União Europeia (UE), que ocorre hoje em Bruxelas. Para Berlim, se os gregos quiserem novo pacote de resgate, terão de aceitar um controle externo e ingerência sobre suas contas. Do contrário, não receberão recursos.
A tensão ocorre às vésperas da reunião em que líderes europeus travarão uma batalha em torno do controle de orçamentos nacionais e sobre a criação de um fundo de resgate permanente.
Hoje, o bloco se reúne na esperança de assinar um "pacto fiscal" que levaria a UE a um equilíbrio de suas contas e para aprovar medidas que gerariam empregos e crescimento. Mas, às vésperas do encontro, acusações entre líderes ameaçam o sucesso do tratado fiscal.
O que causou a crise foi a proposta de Berlim de que a Grécia terá de sofrer uma intervenção permanente em seu orçamento. Em Atenas, a proposta foi acusada pelo governo de ser de uma " imaginação doentia".
Na esperança de superar a crise, Alemanha e França propuseram, no fim ano passado, um acordo para promover maior integração fiscal do bloco. O "pacto fiscal" tinha como objetivo impedir que situações como a da Grécia voltassem a ocorrer. Países que não respeitassem limites seriam penalizados.
O pacto ainda é fundamental para que a Alemanha aceite abrir os cofres para alimentar um fundo europeu de resgate que teria como função frear a crise e impedir o colapso de países como Espanha e Itália. Esse seria o segundo acordo do dia, com o estabelecimento do mecanismo com pelo menos 500 bilhões. Berlim já deixou claro que não assinará sua participação no fundo se não tiver nas mãos o novo compromisso fiscal europeu.
França, Reino Unido, Áustria, o FMI e até o presidente americano, Barack Obama, insistem em que o fundo precisaria ter 750 bilhões, projeto que Berlim ainda resiste.
Ameaça. Mas, após semanas de negociações, o processo ameaça fracassar justamente por conta disso. No sábado, Berlim circulou uma proposta pela qual caberia praticamente a Bruxelas elaborar o orçamento grego, na prática acabando com a autonomia econômica do país. Um comissário seria designado, com o poder de vetar decisões de Atenas.
Os alemães não escondem que estão desesperados em torno da incapacidade da Grécia em fechar suas contas. Nas próximas semanas, Atenas terá de contar com um novo empréstimo da UE e do FMI se quiser evitar um colapso de sua economia. A negociação de um pacote de 130 bilhões, porém, está mais dura do que muitos imaginavam.
Ontem, Berlim emitiu um alerta: ou Atenas faz o que lhe é exigido e corta gastos e demite milhares de funcionários públicos, ou não terá dinheiro. "A Grécia precisa decidir", disse o ministro de finanças alemão, Wolfgang Schauble, ao Wall Street Journal.
Suas declarações deixaram claro que Berlim não pagará qualquer preço para ter a Grécia dentro da zona do euro. "A Europa está preparada para ajudar a Grécia. Mas, se a Grécia não implementar as decisões necessárias, não há volume de dinheiro que possa resolver o problema."
A atitude alemã foi duramente atacada. "Qualquer um que coloca a uma nação o dilema entre a ajuda econômica e dignidade nacional ignora a história", atacou Evangelos Venizelos, ministro de Finanças da Grécia. "Atenas vai cumprir seus deveres."
Lucas Papademos, primeiro-ministro grego, respondeu quase imediatamente. "Se o processo (de resgate) não for concluído com êxito, enfrentaremos o espectro da falência e teremos de assumir as consequências para a sociedade, especialmente os mais pobres", disse. / J.C.
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