segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Crise ajuda a reduzir desequilíbrios no comércio mundial

Fonte: Valor Econômico
Autor: Assis Moreira

Os desequilíbrios no comércio mundial estão diminuindo, como consequência direta do severo choque de demanda que derruba a atividade econômica e as exportações, acreditam especialistas.

Nos últimos anos, o superávit externo de países exportadores de petróleo e produtores de commodities aumentou, assim como houve deterioração da balança de importações de matérias-primas. A outra tendência dominante tem sido a redução do enorme déficit comercial dos EUA, e menor superávit de China, Alemanha e Japão

Esse cenário deve continuar em 2012, não exatamente pelas boas razões, já que será provocado pela recessão na Europa e provavelmente por mais barreiras comerciais e tensões protecionistas.

A melhora é clara na balança comercial dos EUA. O déficit na balança de mercadorias (fora serviços), que sempre causou atrito com os asiáticos, primeiro com o Japão e ultimamente com a China, declinou de US$ 882 bilhões, em 2008, para US$ 660 bilhões em 2011 (até novembro).

Em novembro, porém, pela primeira vez em cinco meses houve alta no déficit comercial americano, em boa parte por causa do preço do petróleo importado. E, pelo segundo mês seguido, as exportações caíram, num sinal de que a desaceleração da Europa começa a afetar a economia americana. Mas o déficit ainda está bem abaixo do nível de antes da crise de 2008.


Assim, o déficit dos EUA em conta corrente caiu US$ 240 bilhões (cerca de 35%), desde o início da crise global, em meados de 2007, segundo o Instituto Internacional de Finanças (IIF). Diminuiu para US$ 440 bilhões no terceiro trimestre de 2011, equivalente a 2,9% do PIB. E pode ficar em US$ 400 bilhões em 2012/2013, com uma redução gradual em relação ao PIB.

Nos países ricos, essa situação é contrabalançada pelo enorme declínio no resultado comercial do Japão, que amarga déficit após mais de 50 anos de grandes superávits. Em parte, isso reflete os estragos que o terremoto e o tsumani de março causaram nas exportações. Os japoneses sofrem também com a deterioração nos termos de troca e com uma moeda valorizada. Mas continuarão com bom saldo na conta corrente.

Por sua vez, China e Alemanha mantêm superavit comercial considerável, mas também em queda. O saldo da China caiu de US$ 298,1 bilhões para US$ 157,9 bilhões entre 2008-2011 (até outubro).
"O saldo comercial da China está caindo não por causa de melhor demanda interna, mas sim porque o país não consegue exportar mais devido à crise na Europa", diz Qinwei Wang, da consultoria Capital Economics, de Londres. "A demanda por importações ainda é forte em razão de investimentos domésticos, e não de consumo."

Para Jos Ebregt, do World Trade Monitor, publicação do Centro de Pesquisa Econômica da Holanda, o mais importante desenvolvimento em relação a economias emergentes tem sido o declínio no saldo comercial da Ásia, capitaneado pelos chineses. A região como um todo amarga déficit, um evento raro.

Quanto à Alemanha, seu saldo comercial caiu de US$ 261 bilhões para US$ 164 bilhões entre 2008 e 2011 (até outubro). E em 2012 deve cair mais. Para o Deutsche Bank, o país entrará em recessão no primeiro semestre. E grandes exportações, que foram vantagem do país na crise de 2009, agora não ocorrerão. As vendas para o exterior representam 25% do PIB. E 60% das exportações vão para os outros países da União Europeia, em crise. O banco estima que a queda nas exportações cortará 0,5% no PIB.

O saldo comercial da zona do euro com o mundo não é questão central. Mais importante é o sério desequilíbrio interno. A Alemanha tem um enorme saldo, enquanto a França tem déficit de mais de US$ 80 bilhões, a Espanha de US$ 40 bilhões e a Itália de mais de US$ 20 bilhões. Portugal, Grécia e outros também estão no vermelho.

No geral, diz Simon Evenett, professor de comércio internacional da Universidade de Saint-Gall, na Suíça, o cenário é diferente de 2010, quando os EUA propuseram no G-20, sem sucesso, que déficits ou superávits de conta corrente não deveriam passar de 4% do PIB.

A ideia era atacar as estratégias de crescimento de países com enormes superávits comercial e de conta corrente, como China, Alemanha e Japão. Isso reduziria a dependência em relação à exportação em favor de um crescimento liderado mais por demanda doméstica. Por sua vez, as mudanças nos países com superávit, emergentes ou desenvolvidos, precisariam ser complementadas por reformas em nações como os EUA, para aumentar a poupança e exportar mais.

Com os "desequilíbrios excessivos" diminuindo, Evenett acha que as disputas comerciais vão se focar mais em concessão de subsídios e nas políticas industriais que levantam barreira às importações.

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