sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Risco de guerra no Irã causa temor em Davos

Fonte: Valor Econômico
Autor:  Gideon Rachman

Uma das primeiras sessões do Fórum Econômico Mundial a ter as inscrições esgotadas leva o nome de "E se o Irã desenvolver armas nucleares?".

O risco de um conflito em decorrência do programa nuclear iraniano é debatido todos os anos em Davos, mas desta vez os especialistas e políticos reunidos parecem estar levando mais a sério a possibilidade de guerra.

Eles estarão ouvindo com atenção as palavras do vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, quando ele discursar hoje no Fórum.

Os motivos são muitos. Primeiro, acredita-se que o Irã tenha obtido progressos significativos em seu programa de armas nucleares. Especialistas em Irã temem que a tecnologia nuclear seja deslocada para silos subterrâneos protegidos, o que deixaria partes importantes do programa iraniano bem menos vulneráveis a bombardeios.

O governo israelense há muito é incisivo em suas exigências por ações para parar o Irã e deixou claro que considera a opção de um ataque militar unilateral.

Países do Golfo Pérsico e a Arábia Saudita, no entanto, também expressaram profundas preocupações aos líderes dos EUA e da Europa quanto ao progresso do programa nuclear iraniano. Uma autoridade ocidental descreve os sauditas como "obcecados" com a ameaça iraniana. Sauditas teriam comunicado a seus interlocutores ocidentais que, se o Irã adquirisse capacidade de produzir armamentos nucleares, a Arábia Saudita responderia de imediato também tentando juntar-se ao clube nuclear.

A continuidade da turbulência no mundo árabe também aumenta as tensões, pois altera o equilíbrio de poder no Oriente Médio. O mundo árabe sunita teme que a influência iraniana esteja crescendo no Iraque, após a retirada das tropas dos EUA.


A turbulência na Síria, contudo, oferece aos países árabes do Golfo Pérsico a chance de corroer a influência iraniana, por meio de pressões pelo fim do regime de Assad, que é próximo dos iranianos.

O Irã também está sob pressão de outras maneiras. Nesta semana, a União Europeia aprovou plano para proibir as importações de petróleo bruto do Irã, medida que entrará em vigor em 1º de julho. Há ansiedade entre os representantes empresariais em Davos quanto ao impacto dessas medidas no preço internacional do petróleo, particularmente se o Irã preventivamente cortar as exportações à Europa.
Também há uma ação velada, muito ativa, voltada a interromper o programa nuclear iraniano. Envolve desde o uso de vírus de computador até a venda de equipamento defeituoso ao Irã e o assassinato de cientistas iranianos.

Richard Haass, que dirige o Conselho de Relações Exteriores (CFR, na sigla em inglês), de Nova York, e está em Davos, argumenta que é "cedo demais" para achar que as sanções não conseguirão obrigar o Irã a interromper seu programa nuclear. Ele admite, porém, que o histórico de sanções passadas sugere que podem acabar não conseguindo forçar uma mudança na política iraniana.

Como sempre, há a discussão se uma ação militar seria ou poderia ser tomada por Israel de forma unilateral ou se um ataque eficiente ao programa iraniano precisaria envolver os EUA.

John Chipman, diretor do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), argumenta que "Israel poderia organizar um bombardeio, mas só os EUA poderiam organizar uma campanha sustentada". Um "ataque" do tipo que Israel poderia realizar provavelmente deixaria partes substanciais do programa nuclear iraniano intactas - assim como deixaria o Irã com capacidade militar suficiente para fazer retaliações contra Israel e interesses ocidentais na região.

A retaliação iraniana, particularmente, se envolvesse o fechamento do Estreito de Ormuz ou ataques diretos a interesses ocidentais, quase certamente traria os EUA e os aliados europeus, como o Reino Unido e a França, para o conflito. Os países árabes do Golfo Pérsico também poderiam ser envolvidos em uma campanha contra o Irã, caso se tornassem alvos diretos.

As verdadeiras intenções tanto de Israel como do Irã continuam obscuras. Os líderes ocidentais, depois da Guerra do Iraque, baseada em parte em informações de inteligência falsas, mostram-se relutantes em entrar em um conflito contra o Irã sem evidências indiscutíveis de que o país esteja próximo de ter uma bomba nuclear. Por outro lado, o sucesso no conflito na Líbia trouxe de volta certa confiança no "poder aéreo" como forma de atingir objetivos militares.

Enquanto representantes americanos, árabes e europeus debatem a perspectiva de um conflito com o Irã, alguns observadores asiáticos veem tudo com surpresa e alarme. Um estrategista asiático observou que "os EUA seriam loucos de se envolver em outro conflito no Oriente Médio". "Se ficarem amarrados lá de novo, seria um completo presente geoestratégico para a China".

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