Autores: Barry Moody e Fiona Ortiz
A maioria da
população no sul da Europa vem se mantendo surpreendentemente calma até agora
diante dos cortes mais dolorosos em orçamentos governamentais de que se tem
memória, mas estão aumentando os sinais de que a paciência pode acabar em
breve.
Uma inesperada greve geral na Espanha, na quinta-feira, e a crescente
oposição ao primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, são alguns dos indícios de
que a resistência está ganhando força em uma região que é o centro das
preocupações sobre a retomada da crise da dívida na zona do euro.
Portugal permanece bastante tranquilo no momento e mesmo a Grécia, palco de
repetidos protestos violentos nas ruas, se acalmou recentemente. Mas há sinais
de que os líderes políticos estarão logo na linha de tiro por toda a Europa,
especialmente se for necessário efetuar mais cortes para reduzir a dívida
soberana.
A atmosfera parece ser uma combinação de duas tendências opostas - aceitação
da mensagem de que cortes profundos são o único meio de salvar seus países da
catástrofe econômica e um sentimento crescente de que um sofrimento maior não
poderá ser suportado por populações já arcando com privação e miséria.
O problema para políticos como Monti e o primeiro-ministro da Espanha,
Mariano Rajoy, é que as mesmas medidas de austeridades impostas para reduzir a
dívida - sob pressão dos líderes da zona do euro - poderão aprofundar a recessão
e criar uma necessidade ainda maior de cortes mais severos.
Pode haver somente ainda uns poucos meses para que as reformas comecem a dar
resultados antes de as populações retaliarem nas urnas ou as pessoas iniciarem
protestos em grande número.
Os investidores estão começando a demonstrar preocupação novamente com as
incertezas políticas e econômicas na Itália e na Espanha, e o rendimento dos
títulos inicia uma escalada depois de ter ficado sob controle no começo deste
ano.
"Existe um tipo de aceitação resignada, mas essa aceitação resignada não é
uma posição de equilíbrio estável. As pessoas realmente ficam cansadas de se
sentirem culpadas por sua situação horrível", disse o professor Erik Jones, da
Universidade Johns Hopkins em Bolonha, Itália.
Ele comentou que as populações estão preparadas para suspender o julgamento
sobre seus políticos e aceitar o sacrifício se acreditarem que haverá um longo
período de sofrimento, mas não por tempo indefinido.
QUESTÃO DE MESES
"Temos apenas cerca de seis meses para agir antes que os eleitores comecem a
olhar para seus políticos e a retirar as lentes cor de rosa", disse Jones à
Reuters. "Assim que isso acontecer, vamos ter não apenas uma rápida reviravolta
nos governos que estejam para enfrentar as urnas, mas também um aumento no nível
geral de insatisfação, o qual será expressa em forma de greves e outros meios de
desobediência social."
O professor de economia Jean-Paul Fitoussi, do Instituto Sciences Po, em
Paris, disse a repórteres em uma conferência de negócios no norte da Itália, na
sexta-feira, que as medidas de austeridade eram "uma abordagem perigosa que
poderia desencadear agitação social".
Muitos espanhóis parecem conformados com os violentos apertos na economia
feitos por Rajoy, cujo governo conservador foi eleito por esmagadora maioria em
novembro, quando se tinha pleno conhecimento de que ele planejava impor medidas
de austeridade.
Na sexta-feira, o governo anunciou cortes de 27 bilhões de euros (36 bilhões
de dólares) do orçamento do governo central, equivalente a 2,5 por cento do
PIB.
Uma pesquisa recente mostrou que metade dos espanhóis adultos aceitaria os
cortes nos serviços de saúde e educação se isso fosse necessário para recolocar
a economia nos eixos. Os sindicatos representam apenas um quinto dos
trabalhadores da Espanha e muitas pessoas furaram os piquetes na quinta-feira,
temendo perder o emprego.
No entanto, a greve teve um impacto muito maior do que paralisações
anteriores, 18 meses atrás, num indício de que a paciência pode estar se
esgotando no país, que tem o pior índice de desemprego da União
Europeia.
Centenas de milhares de pessoas participaram de manifestações de protesto e
fábricas e portos fecharam. Houve alguns episódios de violência nas ruas.
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