O governo federal anunciou nos últimos meses grande número de medidas para proteger a indústria nacional da concorrência com os produtos importados. Ao todo, foram cerca de 40 medidas, implantadas ou em fase de implantação, todas com o objetivo de atenuar o impacto da desindustrialização do país. Mesmo assim, continua grande o empenho das lideranças industriais mais identificadas com o protecionismo pela adoção de outras medidas, principalmente neste momento em que percebem existir indiscutível simpatia de autoridades pelo tema.
A "bola da vez" dos protecionistas é o Projeto de Resolução número 72, em discussão no Senado Federal. A resolução quer impedir que governadores de vários Estados continuem dando incentivos para o desenvolvimento e descentralização de atividades portuárias. O grande empenho desses setores se deve à possibilidade de uma votação e decisão do Senado sobre a questão no curto prazo. Seja qual for posição do Senado, é certo que outras propostas para maior fechamento da economia brasileira serão feitas.
As verdadeiras causas da falta de competitividade da indústria, porém, são outras, e bem conhecidas: sobrevalorização do real, altas taxas de juros, carga tributária elevada, logística deficiente, excesso de burocracia e custo de energia. Além de manifestações públicas, que até seriam compreensíveis se as verdadeiras causas fossem criticadas e debatidas, as organizações da indústria têm divulgado estudos com dados que ignoram os verdadeiros resultados do comércio exterior brasileiro, em especial o comportamento das importações.
Até mesmo as operações da própria indústria são diminuídas, com o objetivo de demonstrar uma fragilidade em muitos casos questionável.
Os números oficiais da balança comercial brasileira não são considerados em muitos dos estudos divulgados. Em 2011, o Brasil exportou US$ 256 bilhões, dos quais US$ 128 bilhões foram de produtos industrializados (manufaturas e semimanufaturas), superando os básicos, com US$ 122 bilhões em vendas externas. Considerando que o Brasil é um dos países mais competitivos do mundo em produtos básicos, devido à excelente performance da agricultura nacional e da produção mineral, como se pode considerar "catastrófico" o desempenho da indústria?
Empresários e autoridades também repetem a toda hora expressões como "avalanche de importações" ou "invasão de importados", como se o Brasil fosse hoje um grande consumidor de produtos finais produzidos no exterior. Os dados de nossa balança comercial, mais uma vez, desmentem esse argumento. Nos últimos dez anos, especialmente nos oito anos do governo Lula, o comércio exterior brasileiro apresentou crescimento extraordinário. A corrente de comércio, a soma das exportações e das importações, saltou de US$ 107 bilhões em 2002 para US$ 482 bilhões em 2011. Esse crescimento, embora mais acentuado na exportação, tornou também mais visível o produto importado, especialmente para o consumidor de classes de menor poder aquisitivo.
É uma ocorrência absolutamente natural, já que não poderíamos desejar que uma evolução tão expressiva só ocorresse na exportação. Comércio exterior é uma via de mão dupla. É grande o número de países que consomem produtos manufaturados exportados pelo Brasil em quantidades expressivas.
O importante nesse caso é que a participação dos chamados bens de consumo em 2011 ficou limitada a apenas 17% do total das importações. O percentual é o mesmo de 2010, mostrando um crescimento vegetativo. São alguns exemplos do quanto têm sido distorcidas as informações sobre o comércio exterior brasileiro com um único objetivo: tornar ainda mais fechada a economia brasileira. Os setores protecionistas se esquecem do grande desgaste que essa estratégia pode trazer à imagem do Brasil no exterior.
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