quinta-feira, 19 de abril de 2012

Espanha ameaça guerra comercial com Argentina, mas faltam opções

Fonte: Valor Econômico

A Espanha ameaça promover uma guerra comercial contra a Argentina após a estatização dos 51% das ações da YPF que estavam nas mãos da espanhola Repsol. Mas analistas dizem que isso poderia ser mais prejudicial para empresas europeias, incluindo espanholas, com interesses no país. Sem muitas opções, Madri tem pressionado a União Europeia (UE) a retaliar.

A cúpula do governo espanhol tem reunião marcada para amanhã para decidir que tipo de resposta pode ser dada à expropriação anunciada nesta semana pela presidente argentina Cristina Kirchner. O ministro da Indústria, José Manuel Soria, afirmou as medidas podem atingir o comércio e o setor energético.

Ontem, o porta-voz do Partido Popular (PP, governista) para assuntos exteriores, José María Beneyto, disse que a Espanha pode deixar de comprar soja e biocombustíveis da Argentina.

"O governo está vendo exatamente que consequências terão esse tipo de represálias comerciais e o que se pode fazer", disse ele. "Já foi anunciada a possibilidade de que as importações importantes para a Argentina, como soja e bioetanol, sejam eliminadas, além de uma série de outras medidas."


Em entrevista ao jornal "Financial Times", o diretor do Centro Europeu para Economia Política Internacional, Fredrik Erixon, disse que quem tem mais a perder com uma guerra comercial seriam as empresas europeias. "Se a Europa adotar medidas de retaliação, quem vai perder mais são os importadores europeus de produtos argentinos", afirmou. "Isso seria um tiro no próprio pé."

A Espanha é o maior investidor estrangeiro na Argentina, à frente dos Estados Unidos. O investimento direto espanhol atingiu US$ 23,2 bilhões em 2010, ou 26,3% do total na Argentina. Os americanos ficam com uma fatia de 16,8%, segundo o Banco Central argentino.

O comércio bilateral também é favorável à Argentina, e não parou de crescer desde que Cristina Kirchner assumiu a Presidência, em 2007. Em 2011, no auge de sua crise da dívida, a Espanha importou US$ 2,745 bilhões em produtos argentinos. Isso representa mais que o dobro de suas exportações para o país sul-americano, que chegaram a US$ 1,313 bilhão.

Apesar do saldo amplamente favorável à Argentina, o país é sul-americano é responsável por apenas 0,8% das exportações totais da Espanha. Isso, em tese, dá margem de manobra a Madri para promover sanções sem prejudicar sua balança comercial.

Do lado argentino, apesar de a Espanha assimilar apenas uma pequena fração de suas exportações totais (US$ 86 bilhões em 2011), o país europeu é importante para compor o superávit comercial desejado pelo governo. Em 2011, o superávit com a Espanha somou US$ 1,42 bilhão, enquanto o saldo total da balança argentina ficou positivo em US$ 10,3 bilhões.

Ontem, a agência de risco Moody"s anunciou ter colocado a nota da Repsol em revisão, para possível rebaixamento, medida que a Fitch já havia anunciado anteontem. Isso se deve à perda de ativos e receita da filial argentina da Repsol.

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