A possível estatização pela Argentina da petrolífera YPF, controlada pela espanhola Repsol, está gerando tensão entre os governos dos dois países. Jornais argentinos e espanhóis davam ontem como certa a operação.
Segundo o site do jornal "Clarín", a presidente Cristina Kirchner já tem pronto para enviar ao Congresso um projeto de lei para que o governo fique com 50,01% do controle da YPF, a maior petrolífera da Argentina, com a alegação de que a operação é de "interesse público". Desde o final do ano passado, o governo está em atrito com a YPF, acusando-a de não investir o suficiente na produção de petróleo, o que teria feito o país passar de exportador a importador da commodity.
Pelo projeto, o governo irá comprar 100 milhões de ações pertencentes ao Grupo Petersen, da família argentina Eskenazi, equivalentes a 25,5% do controle acionário da empresa, e outros 96,6 bilhões da Repsol. O valor das indenizações será determinado por um tribunal especial e pela Secretaria de Energia. Com isso, o grupo espanhol passaria a ter em torno de 20% da YPF, em vez dos atuais 57,4%. As reservas da YPF representam 42% das reservas totais da Repsol, que são estimadas em 2,1 bilhões de barris de petróleo.
O governo espanhol reagiu à provável estatização antes mesmo de o anúncio oficial.
Após o jornal "Clarín" apresentar detalhes do projeto de lei, o ministro da Indústria espanhol, José Manuel Soria, disse que haveria "consequências". "Se em alguma parte do mundo houver gestos hostis contra os interesses de empresas espanholas, o governo irá considerá-los como hostilidade contra a Espanha", afirmou.
Segundo o jornal espanhol "El País", o próprio Soria vinha trabalhando discretamente para debelar o conflito, e até o rei espanhol, Juan Carlos, tentou intervir, sem sucesso. O presidente da Repsol, Antonio Brufau, está há dias na Argentina, fazendo reuniões com ministros do governo - a presidente Cristina teria se recusado a vê-lo. De acordo com outro jornal espanhol, o "ABC", Brufau apresentou novos planos para a exploração da reserva de Vaca Muerta, mas obteve como resposta apenas um "não é suficiente". Vaca Muerta tem potencial de reservas de 22 bilhões de barris de petróleo não convencional (derivado de xisto).
Antes de anunciar a reestatização, o governo de Cristina colocou a YPF sob forte ataque. Desde 13 de março, em reação a manifestações da Casa Rosada exigindo o aumento da produção, os governos regionais de seis Províncias cancelaram pelo menos 15 concessões para a exploração de petróleo - somadas, elas representavam cerca de 16% da produção da empresa.
Criada em 1922, a YPF foi privatizada em 1993, no governo Carlos Menem. Em 1999, a Repsol adquiriu o controle acionário. Segundo informações da Repsol em relatório para investidores, a YPF teve em 2010 uma receita operacional de € 1,4 bilhão - valor que representou 18,4% da receita operacional do Grupo Repsol. A produção total de hidrocarbonetos da YPF em 2010 chegou a 197,4 milhões de barris de petróleo - queda de 5,4% em relação a 2009.
A YPF não é a única sob pressão para aumentar a produção. No dia 3, a Província de Neuquén cassou a concessão da Petrobras para explorar petróleo na área de Veta Escondida. Argenta e Tecpetrol também perderam concessões.
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