Na Casa Branca, presidente brasileira volta a criticar "políticas monetárias expansionistas", mas isenta China
A presidente Dilma Rousseff cobrou de seu colega americano, Barack Obama, mais responsabilidade para enfrentar a crise econômica mundial e isentou a China das consequências negativas da desvalorização artificial de sua moeda. "Precisamos ter clareza de que a responsabilidade de todos nós, nesse processo de contenção da crise, de retomada, é compartilhada", disse Dilma em entrevista após o encontro na Casa Branca com Obama. Ela voltou a criticar as "políticas monetárias expansionistas", que chamou novamente de "tsunami monetário", e insistiu que a resposta a esse problema exige ação conjunta e imediata. "Os EUA são um país diferente do resto do mundo. Ele emite moeda", disse a presidente, ao afirmar que o caso da China é diferente porque o país asiático atrelou sua moeda ao dólar. Em relação ao Irã, Dilma disse ainda ter reafirmado a preferência do Brasil pela diplomacia antes de sanções.
Na conversa de uma hora e meia com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, na Casa Branca, a presidente Dilma Rousseff cobrou ontem mais responsabilidade do colega no enfrentamento da crise econômica mundial e isentou a China de todas as consequências pela desvalorização artificial de sua moeda.
"Precisamos ter clareza de que a responsabilidade de todos nós, nesse processo de contenção da crise, de retomada (do crescimento) é compartilhada", afirmou Dilma, em entrevista sem a presença de Obama. "Ninguém pode falar: "Não, eu não tenho responsabilidade, não tenho nada com isso. Não é bem assim."
O tom crítico havia sido adotado ainda na Casa Branca, após a conversa no Salão Oval. "Essas políticas monetárias, solitárias no que se refere às políticas fiscais, levam à valorização das moedas dos países emergentes, levando ao comprometimento do crescimento dos países emergentes", afirmou Dilma.
Na parte pública do encontro, nenhum dos dois deu sinal de sincero entrosamento.
Dilma mostrava-se tensa, com papéis à mão, e desconfortável. Falou à imprensa por cerca de 21 minutos - três vezes o tempo da declaração de Obama. Os jornalistas não puderam fazer perguntas.
"Joãozinho". Só à noite, em entrevista coletiva em que se mostrou mais descontraída, Dilma detalhou a conversa com Obama. A brasileira chegou a usar uma expressão mineira (Joãozinho do passo certo) para dizer que ninguém é dono da verdade e afirmou que o Brasil não tem apenas divergências com os EUA. "Não podemos acreditar - principalmente nós, as duas maiores democracias do continente -, que todo mundo é Joãozinho do passo certo. Nós não somos Joãozinho do passo certo, nem do passo errado."
Apesar da ressalva, a presidente disse a Obama que o receituário de ajuste fiscal para economias em crise, e também para as superavitárias, não faz sentido. Foi nesse momento que ela cobrou mais investimentos. "Apostar só em políticas monetárias expansionistas leva a um verdadeiro tsunami monetário", insistiu Dilma, repetindo expressão usada desde o encontro com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, em março.
Diante de Obama, Dilma bateu na tecla de que a resposta à instabilidade provocada pela manipulação cambial exige ação conjunta e imediata. Mas eximiu desse processo a China, parceira do Brasil nos Brics, grupo formado também por Rússia, Índia e África do Sul. "Os Estados Unidos é um país diferente do resto do mundo. Ele emite moeda", insistiu Dilma, ao dizer que a contribuição da China é diferente porque o país asiático atrelou sua moeda ao dólar.
Em seguida, diante de empresários dos dois países, Dilma foi mais didática ao explicar o efeito das medidas monetárias dos EUA na valorização do real e exercitou seu estilo pragmático. "O governo brasileiro tem tomado e continuará tomando todas as medidas necessárias para neutralizar os efeitos nocivos do afrouxamento monetário dos países desenvolvidos", afirmou, ao encerrar o seminário Parceria para o Século 21, promovido pela Câmara de Comércio dos EUA.
Alfinetadas. Mesmo com a cobrança, a presidente afirmou que a conversa a portas fechadas com Obama, seguida de almoço na Casa Branca, foi "muito positiva". Deu, porém, algumas alfinetadas no colega. Disse, por exemplo, que países ricos como os EUA não podem exportar a crise. "Somado a isso, outro fator que compromete a retomada do crescimento é a elevação dos preços de petróleo num cenário de restrição da demanda."
A questão do programa nuclear do Irã e o cancelamento da compra de 20 aviões Super Tucano da Embraer pela Força Aérea Americana não foram tratados na conversa com Obama, segundo Dilma. Mesmo assim, ela disse ter manifestado ao colega americano a posição do Brasil de defesa dos direitos humanos.
"O Brasil defende um mundo de paz, de diálogo, de respeito aos direitos humanos e, de preferência, de gestões diplomáticas antes de qualquer outro tipo de medida", afirmou Dilma.
A brasileira também citou a questão de Cuba na Cúpula das Américas, marcada para o fim de semana, na Colômbia. "Eu disse que não haverá outra Cúpula sem Cuba", contou Dilma. Os jornalistas quiseram saber, então, o que Obama respondeu. "Nada. Não era uma pergunta. Era uma constatação."
A presidente disse que a conversa não girou em torno da pretensão do Brasil de integrar o Conselho de Segurança da ONU. Em março de 2011, quando esteve no Palácio do Planalto, Obama manifestou "apreço" por essa postulação. "Não tivemos discussão formal sobre isso. Manifestamos preocupação sobre Oriente Médio e o Norte da África. O Brasil sempre prefere evitar conflitos e sempre acrescentamos responsabilidade ao proteger populações civis", comentou Dilma.
Questionada se os EUA se mostraram mais abertos a esse discurso, Dilma mostrou contrariedade. "Não vou classificar a posição dos Estados Unidos como aberta, fechada ou entreaberta."
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