A Argentina terá dificuldades em atrair investidores para explorar seus campos de xisto, que contêm estimados 22 bilhões de barris de petróleo equivalentes, após ter revogado as licenças da YPF e da Petrobras devido a uma desavença sobre investimentos.
A exploração dos recursos naturais no campo de Vaca Muerta, na Província de Neuquén, é de "fundamental importância" para que o país revitalize sua centenária indústria de petróleo e gás, disse a YPF em fevereiro, ao anunciar a descoberta. O país poderá dobrar sua produção em uma década, investindo US$ 25 bilhões por ano para explorar os campos, disse a companhia.
A Argentina está buscando ajuda para explorar os recursos numa área que abriga cerca de metade das reservas de 50 bilhões de barris contidas no chamado pré-sal brasileiro, após ter revogado licenças da YPF e da Petrobras e congelado o preço do petróleo em US$ 42 por barril durante a década passada.
"Nenhuma das grandes companhias petrolíferas gostaria de entrar num campo expropriado de outra grande petroleira", disse Peter Hutton, analista da RBC Capital Markets, de Londres. "O xisto está no radar de todo mundo, mas há incertezas, no momento."
A YPF tornou-se pioneira na exploração de recursos petrolíferos não convencionais em "tempo recorde", tendo aprendido com empresas americanas as técnicas exploratórias de depósitos que exigem perfuração horizontal, em um processo conhecido como fraturamento hidráulico, ou "fracking", disse a empresa.
Neuquén, que abriga a maior parte da formação petrolífera de xisto de Vaca Muerta, continuará a atrair investidores, mesmo em meio a uma estatização da YPF, disse o governador Jorge Sapag em comentários postados no site da Província, ontem. Ele reuniu-se no início desta semana com representantes da Petrobras e também deverá encontrar-se com a norueguesa Statoil ASA e a Apache nesta semana. As empresas estrangeiras que se comprometem a investir em reservas de petróleo na Província são "bem-vindas", disse Sapag.
A decisão governamental de assumir o controle da YPF "esfriará o interesse de outras empresas, e não é uma boa maneira de atrair investimentos quando o país necessita know-how estrangeiro", disse Andrea Williams, gestor de 1 bilhão de libras (US$ 1,6 bilhão) em um fundo de ações europeias na Royal London Asset Management, em entrevista por telefone, ontem. "O temor é de que eles revoguem mais licenças."
Williams tem ações da Repsol em sua carteira e, recentemente, ampliou sua exposição aos papéis.
Cristina exigiu mais investimentos das companhias petrolíferas, numa tentativa de aumentar a produção em queda e reduzir as importações de combustíveis, que dobraram, para US$ 9,4 bilhões, no ano passado. A Província argentina de Santa Cruz revogou três concessões de exploração petrolífera da YPF, medida cuja efetivação depende de aprovação legislativa, disse ontem a Télam, agência estatal de notícias.
Os investimentos petrolíferos na Argentina caíram na última década, depois que o governo impôs um teto ao preço do petróleo desde 2002. Os exportadores de petróleo recebem US$ 42 por barril, e o governo fica com o restante, ao passo que o petróleo vendido no mercado interno é pago a cerca de US$ 60. No ano passado, o governo também ordenou que os produtores de petróleo e as mineradoras repatriassem todas as receitas de exportações, como parte da política de governo para conter a fuga de capital.
A produção petrolífera americana avançou por três anos consecutivos, quando os produtores aceleraram a perfuração em depósitos não convencionais.
"A Argentina tem a oportunidade de repetir a revolução que os hidrocarbonetos não convencionais têm significado para os EUA, mediante a exploração de recursos naturais na formação de Vaca Muerta", disse a Repsol numa declaração em 8 de fevereiro.
O governo argentino não dispõe do capital para explorar sozinho as reservas, disse Jason Kenney, analista do Banco Santander SA, em Edimburgo, numa entrevista por telefone.
"A Argentina necessita que alguém invista em suas reservas energéticas, tanto convencionais como na oportunidade proporcionada pelo xisto", disse Kenney. "Quanto mais tempo isso se prolongar, menor será a chance de alguém fazer alguma coisa na Argentina."
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