A inovação não é uma questão de luxo para as empresas, mas de sobrevivência. Quem garante é o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Glauco Arbix, um dos conferencistas do Seminário Internacional sobre Pequenos Negócios, promovido pelo Sebrae, em São Paulo. "A inovação e a tecnologia, tradicionalmente, foram consideradas como subprodutos do crescimento econômico e não como pré-requisitos para o desenvolvimento".
Segundo o especialista, o cenário começou a mudar com políticas públicas que elegem a inovação como diretriz. Em junho, a Finep vai apresentar na Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, no Rio de Janeiro, uma feira de negócios sustentáveis para fundos investidores.
Para ele, a inovação terá mais campo fértil para florescer no Brasil a partir de melhores relações entre universidades e empresas, aportes em capacitação de recursos humanos e estímulos ao mercado de fundos de capital semente, capazes de transformar os negócios em crescimento.
De acordo com Arbix, a construção de programas nacionais de desenvolvimento ganhou velocidade a partir de 2007, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Plano Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação e o Plano Nacional de Educação.
"Essas iniciativas desenvolveram novas perspectivas para o país. Foi a primeira vez que uma ação do governo incorporou a inovação como parte integrante", avalia. Com esse empurrão, outras políticas públicas industriais voltam ao cenário, mais abertas à propostas inovadoras.
Nessa mesma linha, o presidente da Finep lembra a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (Pitce), de 2004; a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), de 2008, e o Plano Brasil Maior, lançado no ano passado. "Essas iniciativas de inovação mudam de eixo, com foco também em pequenas e médias empresas. Até o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) mudou de nome, hoje chamado de MCT&I, para aderir à causa".
Para ele, a ajuda do governo é importante, mas as empresas devem mostrar mais interesse em inovar para expandir negócios.
"A maioria das companhias inova somente adquirindo equipamentos, e isso é um problema de pequenos, médios e grandes empreendimentos", diz. "O desafio é construir uma economia amigável à inovação, capaz de estimular companhias de menor porte e desenvolver competências tecnológicas e científicas, de crescente valor agregado. Apesar da existência de novas políticas de estímulo, as empresas ainda não estão, claramente, no foco delas".
Além disso, para destravar processos inovadores, Arbix afirma que é preciso aumentar o diálogo entre universidades e organizações, diminuir a carência de recursos humanos, principalmente na área de engenharia; e estimular o mercado de seed capital ou capital semente, que ainda engatinha no Brasil.
"A inovação é feita de gente qualificada e com competência para trabalhar, mas a maioria dos pesquisadores está na academia e não nas corporações", diz o especialista, que defende um salto de qualidade no financiamento para ampliar e renovar o sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação.
Para ele, a forte presença da China no mercado internacional modifica o padrão de oportunidades e pode aumentar os obstáculos para a evolução tecnológica de países como o Brasil. Para escapar da concorrência, o país deve inflar números de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D), aumentar a quantidade de empresas intensivas em conhecimento e continuar atraindo centros de P&D de grandes corporações, como o da GE, que se instala no Rio.
"Precisamos aumentar os aportes em P&D, de 1,1% do PIB (em 2010) para 1,8%, até 2014", diz. Na lista de prioridades de investimentos do governo, Arbix indica setores como aeroespacial, defesa, energia, pré-sal e etanol, além de tecnologias sustentáveis, saúde e TI.
De olho nesses mercados, a Finep organiza a feira Venture Fórum Brasil Sustentável, prevista para a Rio+20, em junho, que vai reunir empresas inovadoras em tecnologias verdes e sustentáveis nas áreas de energias renováveis e eficiência energética, gestão de resíduos e biodiversidade, além de agricultura e segurança alimentar. Os negócios serão apresentados a potenciais investidores dos setores de seed, venture capital e private equity.
Na semana passada, a entidade lançou mais uma edição do Prêmio Finep, que completa 15 anos em 2012. Neste ano, os vencedores receberão prêmios em dinheiro - de R$ 100 mil a R$ 600 mil para os primeiros colocados regionais e nacionais, num total de R$ 9 milhões. Até o ano passado, os premiados ganhavam recursos não reembolsáveis, cuja liberação era condicionada à apresentação de um projeto de ciência, tecnologia e inovação.
A premiação passa a contar com mais duas categorias: tecnologia assistiva e inovação sustentável. A primeira cobre produtos e processos que promovem a qualidade de vida e a inclusão social de pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida. A segunda destaca iniciativas em que a sustentabilidade está integrada a pesquisas, desenvolvimento e comercialização de produtos.
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