Autor: Fernando Pimentel
O Brasil e a África do Sul tem um histórico recente de relações comerciais que sinaliza a possibilidade de novas e mais profundas parcerias. A corrente de comércio bilateral cresceu de US$ 659 milhões em 2002 para US$ 2,6 bi em 2011. Para o futuro, queremos aprimorar este relacionamento para criar maiores oportunidades de negócio em nossos continentes e reforçar a defesa de novos interesses comuns nos fóruns globais sobre o destino da humanidade.
Nossa aproximação é recente e ocorreu em momentos importantes da história dos dois países, o fim do apartheid na África do Sul e a redemocratização do Brasil. As necessidades comuns de superação de nosso modelos excludentes de desenvolvimento levou-nos a estabelecer um padrão diferenciado, soberano, de parcerias comercias. Nossos investimentos reconhecem a importância do fomento via o fortalecimento da complementaridade econômica que temos. Queremos construir um paradigma de investimentos em que a produção local de maior valor agregado seja componente intrínseco. Para nós, desenvolvimento significa respeito à soberania e saber que somente distribuindo os ganhos do progresso tecnológico podemos efetivamente melhorar as condições de via em nossos países.
O respeito comum à soberania é a base desta história e um valor que queremos fortalecer no futuro desta relação. Brasil e África do Sul são países com muitas semelhanças e com um alto grau de complementaridade econômica. Podemos também argumentar que, se de um lado somos as nações com maior PIB industrial de nossos continentes, de outro, a diversidade de nossas bases industriais pode nos endereçar a uma profícua troca de conhecimento.
Essa posição de liderança regional nos permite a ampliação do diálogo Sul-Sul em novas frentes, seja articulando e integrando as cadeias produtivas de ambos os continentes, seja reforçando a defesa de nossos interesses comuns de desenvolvimento social e econômico num mundo em transformação. Uma nova geopolítica no Atlântico Sul pode vir a surgir desta nova agenda, em especial dada as possibilidades (em vias de aprofundamento) de exploração “offshore” de petróleos entre a Petrobrás e a PetroSA.
Nossa agenda atual de cooperação, ações conjuntas e iniciativas de cooperação é extensa. Tradicionalmente, compramos e vendemos mercadorias e mais recentemente empresas brasileiras da área da construção civil e do setor de serviços passaram a intensificar a atuação brasileira no continente africano.
Hoje o Brasil está fomentando a internacionalização de suas empresas, o continente africano pode se tornar um destino prioritário, e a porta de entrada, o primeiro passo, deve passar pelo aprofundamento das relações com a África do Sul.
Sabemos que a tecnologia (e a produção) sul africana nas áreas de liquefação de gás, produção de carvão e a produção de minérios “especiais” (platina, manganês, vanádio e cromo) é complementar à nossa base produtiva. Por outro lado, há registros da demanda de empresas sul africanas por tecnologia brasileira nos setores de biocombustíveis e de geração de energia hidráulica. Apoiar o desenvolvimento de negócios que potencializam esse tipo de relação é, acredito, um objetivo comum que hoje perseguimos. Queremos fortalecer os mecanismos de oferta de crédito internacional e de garantias bancárias para viabilizar iniciativas como essas, pois sabemos que este é o momento, pois existem projetos em fase avançada de negociação.
Intensa cooperação entre os respectivos Ministérios da Agricultura ocorre desde 2009, fruto do interesse comum em difundir as melhores práticas em programas voltados à agricultura familiar. No campo das tecnologias de produção agropecuária, o Embrapa (Brasil) e a Agricultural Research Council (África do Sul) iniciaram uma agenda de cooperação técnica que tem um futuro promissor. Nosso desejo é o de reforçar esta iniciativa nos próximos anos.
A importância regional que temos em nossos continentes e nossa posição entre os países emergentes transforma-nos em porta-vozes de outras nações na discussão que o mundo ora vive sobre os rumos do comércio mundial, dos fluxos financeiros, de capitais.
O Brasil busca uma estratégia de inserção externa orientada para a universalização do bem estar entre todos os povos.
Do ponto de vista internacional, ambos os países tem a ganhar com maior aproximação de seus projetos de nação, especialmente no debates que ocorrem nos organismos da governança mundial, World Bank, IMF, ONU, OMC, WTO, dentre outros.
A universalização do acesso a serviços elementares de saúde e educação em nossos continentes é uma demanda que nos une e nos faz empreender esforços no sentido de intensificar nossas bases de cooperação. Tal como ocorre atualmente nas parcerias que temos na área de empreendedorismo e de gestão governamental na discussão de nossa melhores práticas. É importante lembrar que o Brasil, por meio do “Square Kilometer Array (SKA)”, é signatário de um grande compromisso acadêmico-tecnológico para a construção do maior sistema de rádio-telescópio do mundo em solo sul-africano.
Queremos intensificar nossa cooperação nas áreas de segurança alimentar, infra-estrutura, mineração, petróleo, energias renováveis e defesa. Nossa última missão empresarial identificou grandes oportunidades e hoje trabalhamos no sentido de viabilizar estes acordos.
O Brasil vive um momento diferenciado de sua economia: consolidamos um modelo democrático e institucional e vivemos um período de crescimento sustentado do PIB com ampliação de nossas reservas internacionais, e as bases do crescimento econômico do país estão na expansão da demanda interna. É importante registrar que nosso país possui um invejável equilíbrio fiscal.
Com o início das operações de exploração de nossas grandes reservas de petróleo em alto mar, o Brasil iniciará um novo ciclo de sua história, e uma maior integração econômica com a África do Sul pode potencializar as relações de comércio entre os dois continentes.
Um nova política industrial, tecnológica e de comércio exterior está hoje em curso no Brasil, e ela estimula nossas empresas a “inovar para competir, competir para crescer”. Este é um desafio colossal. Gostaria de frisar que as experiências bem-sucedidas de nações que alcançaram um estágio superior de desenvolvimento evidenciam dois importantes ensinamentos.
O primeiro é que a história de cada país é formada pelas próprias mãos de seu povo. Não existe, portanto, um modelo de desenvolvimento ideal a ser seguido.
O segundo importante ensinamento da história contemporânea das nações é o papel central do conhecimento científico e tecnológico. O que já se sabia sobre o poder social e econômico do conhecimento nas antigas civilizações (orientais e ocidentais) foi imensamente amplificado com o surgimento da indústria fabril como motor da produção material. A entrada no novo milênio significou o terceiro século da civilização sob o domínio do sistema fabril de produção. As quatro revoluções tecnológicas que se sucederam trouxeram em escala crescente o conhecimento para o comando operacional do sistema fabril. Os chamados sistemas embarcados são a expressão maior desse processo, no qual o computador é completamente encapsulado ou dedicado ao dispositivo ou sistema que ele controla. Pela engenharia mecatrônica pode-se otimizar o projeto reduzindo tamanho, recursos computacionais e custo do produto. A próxima revolução será a difusão da impressora em três dimensões diretamente no processo de produção, trazendo a possibilidade de ganhos de produtividade pela produção flexível, o que mudará definitivamente os parâmetros de retornos crescentes pela lei secular da escala e escopo.
Essas inovações radicais no sistema fabril poderão, paradoxalmente, ser aceleradas pela profundidade e extensão da atual crise econômica mundial. A busca de um novo ciclo de ganhos sustentáveis de produtividade, agora sob a pressão ambiental, pode mais uma vez ser o caminho de inflexão da crise e de retomada da expansão econômica. Como em outras crises sistêmicas da economia monetária mundial, a destruição criadora revigora uns e aniquila outros. Da última crise dessa natureza, a grande depressão de 1929, o Brasil saiu melhor do que entrou.
A política industrial brasileira é uma resposta contemporânea de política de desenvolvimento produtivo a este grande desafio do salto de produtividade. Com um parque manufatureiro e uma rede de serviços avançados, e um sistema de ciência e tecnologia com escala e densidade significativas, a arma principal do país contra o acirramento da competição e apreciação cambial de nossa moeda é explorar as forças conquistadas no período recente, a estabilidade e a retomada do investimento e do crescimento. Mercado grande e em expansão, poder de compras públicas, extensa fronteira de recursos energéticos, força de trabalho jovem e capacidade empresarial constituem ativos institucionais, físicos e sociais formidáveis. Para colocar tais forças em movimento na velocidade exigida, o esforço da inovação será alavanca decisiva na estratégia do salto da nossa indústria rumo ao futuro.
Neste novo cenário, medidas para internacionalização das empresas brasileiras vêm sendo tomadas e não há momento mais adequado para estabelecermos novas pontes para uma profícua parceria econômica e institucional com a África do Sul. Mais do que abertos ao diálogo, queremos construir conjuntamente um novo tempo, aprimorando as bases de nossas parcerias e ampliando nosso papel na definição dos rumos da economia mundial.
A agenda Brasil e África do Sul, uma nova geopolítica no Atlântico Sul visando a integração econômica de nosso continentes e contribuindo para a criação de uma nova ordem internacional mais justa, pois acreditamos que o desenvolvimento deve ser exercitado de mãos dadas para garantir oportunidades iguais para todos.
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