terça-feira, 3 de abril de 2012

IOF afeta estratégia de butiques

Fonte: Valor Econômico
Autora: Carolina Oms

A extensão do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6% aos empréstimos externos com prazo de até cinco anos não obrigará somente o setor produtivo a mudar sua estratégia para captar dinheiro no exterior. As emissões de até cinco anos constituem uma parte importante das captações intermediadas por pequenas casas no exterior.

Sem a estrutura e o poder de fogo dos grandes bancos, assessorias financeiras independentes investem em estratégias diferenciadas e um contato mais próximo com as empresas para abocanhar uma parte desse competitivo mercado. Uma delas é o foco em operações de volume menor, realizadas por empresas de risco um pouco mais alto e com prazos mais curtos.

Entre as dez emissões externas captadas com a assessoria de butiques em 2011, metade possuía prazo inferior a cinco anos. Por terem prazos mais curtos, os volumes dessas captações são menores. De um total de US$ 1,307 bilhão de captados no ano passado, US$ 445 milhões venciam em até cinco anos.

Esse número é particularmente significativo para a gestora Queluz, que entre 2005 e 2011 realizou 23 emissões externas de até US$ 10 milhões e com prazos de no máximo três anos. A captação de valores bem menores que a média do mercado de bônus só se tornou possível com a criação de um programa iniciado em 2005, mas que se tornou inviável agora graças ao IOF.


Normalmente, só os gastos com advogados no exterior pesariam demasiado sobre esse tipo de captação. Para evitar um custo que representaria, no mínimo, 1,5% do valor captado, a butique criou uma empresa na Inglaterra que realizava a emissão em nome do tomador, repassando, ao final da transação, o dinheiro levantado e a responsabilidade pela inadimplência à empresa financiada.

De acordo com John Schulz, sócio da Queluz, a empresa criada faz a captação em nome do tomador, os investidores depositam o valor na conta da empresa no Bank of New York Mellon, que, por sua vez, transfere o total para uma filial internacional do banco do tomador. Fechada a cotação do câmbio, o banco do tomador transfere o dinheiro para a conta do cliente no Brasil, fechando a transação.

A empresa inglesa pode captar até US$ 100 milhões no exterior, mas, como no saldo de um cartão de crédito para pessoa física, a possibilidade de empréstimo se renova conforme as parcelas de cada captação vão sendo pagas.

Único em atividade no Brasil, esse programa criado pela Queluz era parte importante da estratégia da butique, como explica Schulz: "A gente trabalha, principalmente, com operações menores, onde os grandes bancos não estão. Sem esse programa, operações de até US$ 10 milhões seriam inviáveis".

Mas como nem o programa, nem a classificação de risco de crédito das empresas tomadoras permitiriam o alongamento das operações, a Queluz já se movimenta para liderar emissões de maior valor, que seriam realizadas em parceria com bancos. "Vamos atuar em uma faixa mais competitiva, com operações acima de US$ 100 milhões, pelas quais os bancos de primeira linha ainda não se interessam", planeja Schulz.

O diretor da BCP Securities, Samy Podlubny, concorda que o mercado está fechado para captações abaixo de US$ 100 milhões enquanto persistir o IOF. Das quatro captações realizadas pela butique em 2011, duas possuem prazo inferior a cinco anos, representando US$ 345 milhões de um total de US$ 1,045 bilhões levantados no ano passado.

Podlubny não acredita que o IOF vá prejudicar as operações da butique neste ano. "A empresa que tem capacidade de fazer uma captação de três anos, pode fazer uma de cinco anos, desde que seja de um tamanho mínimo que gere mercado secundário", defende.

A BCP atua no Brasil há dez anos como uma butique especializada na emissão de dívida. No exterior, a empresa é um banco de investimento fundado nos Estados Unidos, focado no mercado emergente, com filiais na Espanha e em Cingapura. Sua principal estratégia, de acordo com Podlubny, é a chamada distribuição de varejo, que agrega diversas contas menores, mas que somadas têm um grande volume. "Esse mercado é extremamente valioso e agrega à distribuição que os outros bancos normalmente fazem. Além de ser muito estável e bastante confiável em matéria de liquidez".

O diretor da BCP também acredita que a relação mais próxima com o cliente é um diferencial em relação aos grandes bancos: "Damos uma atenção muito maior porque, para nós, uma emissão de US$ 100 milhões é importante, mas para muitos bancos ela pode ser considerada pequena".

As butiques Eurovest Global Securities e a INTL FCStone também apostam no relacionamento com o cliente para ampliar sua base de captações. De acordo com o responsável pela área de renda fixa da Eurovest, Pedro Dias Soares, a instituição atua como assessora financeira de empresas que estão em uma situação de captação local mais complicada.

Por meio desse relacionamento para reestruturação financeira, a Eurovest, quando necessário, também lidera captações "de curto a médio prazo, menores do que o padrão de bônus" para as empresas assessoradas com a ajuda de bancos, explica Soares.

A corretora de commodities INTL FCStone se apoia no relacionamento próximo com o setor do agronegócio. Em 2011, a butique realizou um financiamento à exportação para a Usina São Fernando , mas está montando uma equipe dedicada à captação externa para expandir suas intermediações, conta o diretor-presidente da empresa, Fábio Solferini.

A atual configuração da butique é o resultado da fusão com a corretora de commodities metálicas FCStone em 2009. Mas a INTL já atua no Brasil desde 2005, voltada para o setor do agronegócio, por meio da gestão de risco, corretagem de futuros e operações de balcão de commodities agrícolas.

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