terça-feira, 3 de abril de 2012

Brasil ameaça, Madri negocia

Fonte: Correio Braziliense
Autora: Larissa Garcia
Itamaraty diz que a Espanha já admite rever as exigências para a entrada de turistas. Espanhóis que chegaram ao território brasileiro tiveram mais dificuldade para entrar.

No dia em que entraram em vigor as novas exigências do Brasil para a entrada de turistas espanhóis — medida de reciprocidade aos requisitos impostos aos brasileiros na Espanha —, o Itamaraty deu sinais de que há um diálogo positivo entre os dois governos e que um acordo pode ser alcançado nas próximas reuniões. Desde ontem, para desembarcar em território brasileiro, eles têm de apresentar passaporte com validade mínima de seis meses e bilhetes aéreos de ida e volta, além de comprovar condições financeiras para se manter durante a estada, com o equivalente a R$ 170 por dia. Além disso, têm de dar garantias de hospedagem — reserva de hotel ou carta-convite e comprovante de residência do morador que o receberá.

O embaixador da Espanha no Brasil, Manuel de la Cámara, confirmou a possibilidade de um acerto. Ele afirmou que o objetivo é diminuir as exigências para a entrada de turistas em ambos os países. De acordo com o diplomata, os dois governos são "muito amigos" e o sucesso das negociações beneficiaria a ambos os lados, já que o Brasil passa por um bom momento econômico e a Espanha vive uma dura crise. O Itamaraty e a Polícia Federal não tinham, até o início da noite, um balanço de quantos turistas foram barrados no primeiro dia das novas medidas. Atualmente, mais de 60 mil espanhóis vivem no Brasil.

No ano passado, de cada cinco estrangeiros barrados na Espanha, um era brasileiro. Nos quatro anos de vigência das regras exigidas pelas autoridades espanholas, mais de 10 mil brasileiros tiveram a entrada negada, dos quais 1,4 mil apenas em 2011.
No início do mês passado, a Espanha deportou uma idosa que chegara ao Aeroporto Internacional de Barajas, em Madri, para visitar parentes que moram na capital espanhola. Dionísia Rosa da Silva, 77 anos, desembarcou acompanhada de uma neta, mas foi barrada na imigração por falta da carta-convite exigida para comprovar que se hospedaria com familiares, ou de um comprovante de reserva em hotel, embora tenha apresentado passagem de retorno ao Brasil.

Ela teve de esperar três dias no terminal para voltar a Sumaré, no interior de São Paulo, onde mora. O Itamaraty cobrou uma explicação sobre o caso após a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, ter enviado uma carta à chancelaria. O governo brasileiro anunciou que investigaria alegações de maus-tratos a cidadãos brasileiros que tentam entrar em território espanhol. O incidente de março foi a gota d"água para o governo brasileiro colocar em prática o princípio diplomático da reciprocidade. Desde então, 10 turistas voltaram à Espanha assim que desembarcaram em São Paulo e no Rio de Janeiro.

A "guerra das deportações" teve um ponto alto em fevereiro de 2008, quando 535 brasileiros foram barrados na Espanha. Na época, o Itamaraty reagiu duramente e a Polícia Federal impediu que 24 espanhóis entrassem no Brasil.

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