segunda-feira, 9 de abril de 2012

Argentina e Brasil desafiam Índia na terceirização

Fonte: Valor Econômico
Autor: John Helyar | Bloomberg Businessweek

Durante anos, basicamente havia apenas uma opção para empresas dos Estados Unidos interessadas em transferir empregos ao exterior: a Índia. A terceirização desenvolveu-se tanto na Índia a ponto de tornar-se um mercado de US$ 69 bilhões e transformar cidades estagnadas como Chennai e Hyderabad em centros urbanos dinâmicos. A onda já chegou a seu ponto máximo. Em 2011, empresas na América Latina e Leste Europeu abriram 54 novas instalações de terceirização de serviços, em comparação às 49 abertas na Índia, segundo o Everest Group, que acompanha o mercado.

As duas regiões vêm desafiando o domínio indiano na terceirização, enquanto as empresas americanas enviam cada vez mais empregos de alta qualificação ao exterior. A Índia teve vantagens substanciais na primeira fase da transferência de empregos ao exterior: mão de obra de sobra fluente em inglês para abastecer as centrais de atendimento telefônico e um volume suficiente de trabalhadores da área de tecnologia para centros de processamento de dados e de assistência técnica de computadores que operam a distância - tudo com cerca de 60% de desconto em relação aos Estados Unidos.

Depois de ter encolhido custos com funções de suporte, as empresas americanas passaram a exportar empregos de "colarinho branco", de alta capacitação, nos setores de pesquisa, contabilidade, compras e análise financeira. Como esses cargos não se tratam de funções de processamento em grandes volumes, o ponto forte da Índia, surgem mais oportunidades para países como Argentina e Polônia, que possuem custos de mão de obra maiores que os da Índia.


Usar uma empresa de terceirização para contratar um contador com qualificação básica na Argentina, por exemplo, custa 13% a menos do que um similar nos EUA, enquanto um na Índia custaria 51% mais barato. Muitas empresas, no entanto, se importam com mais do que apenas conseguir o menor salário. "A terceirização de empregos de maior valor exige maior compreensão do contexto de negócios e maior interação com os clientes", diz Phil Fersht, executivo-chefe da HfS Research, uma consultoria de terceirização.

Cidades como São Paulo possuem grande concentração de jovens engenheiros e administradores que falam inglês e são capazes de fazer de tudo, desde programar jogos eletrônicos até fazer análises sobre inadimplência em financiamentos imobiliários, para empresas dos EUA. O Brasil tem o maior número de programadores em Java do mundo e é o segundo país com mais programadores em linguagem para computadores de grande porte (Cobol), de acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). A IBM instalou seu nono centro de pesquisas na cidade em 2010, o primeiro desde 1998, quando havia inaugurado um na Índia.

Também ajuda o fato de haver maior sincronia entre os fusos horários da região e os da América do Norte. Foi por esse motivo que a Copal Partners - desde 2002 oferecendo serviços de terceirização de análise de investimentos em Gurgaon, na Índia - abriu um escritório em Buenos Aires. A diferença de fuso entre a cidade e os clientes da Copal em Nova York é de apenas duas horas. "Se você está trabalhando com um gestor de fundo hedge com quem precisa interagir 10 a 15 vezes por dia, é importante ter alguém em um fuso horário próximo", diz Rishi Khosla, executivo-chefe da Copal.

Até a Tata Consultancy Services, líder em terceirização na Índia, com vendas em 2011 previstas para US$ 9,8 bilhões, tem 8,5 mil funcionários em países da América do Sul, como Peru e Paraguai. E a Genpact, maior empresa indiana de terceirização de processos organizacionais, abriu um centro de contabilidade e finanças em São Paulo, em 2011, para o laboratório farmacêutico britânico AstraZeneca.

Essa "terceirização nas proximidades" (nearshoring, em inglês) também beneficia o Leste Europeu. Nos anos do comunismo, a economia da Breslávia, quarta maior cidade da Polônia, girava em torno da indústria pesada. Agora, é um centro de terceirização, com 30 faculdades locais fornecendo uma grande concentração de mão de obra qualificada. Os empregos locais de serviços de terceirização dobraram entre 2008 e 2010, quando foram abertos centros da IBM, Microsoft e Ernst & Young. Em 2011, a empresa de auditoria adicionou outro centro em Breslávia, onde os funcionários prestam serviços de recursos humanos e assessoria legal e imobiliária a clientes europeus. A Ernst & Young emprega 1,3 mil pessoas em seis centros na Polônia.

A população polonesa da "Geração Y" tem alto índice de formação universitária - cerca de 50% da faixa entre 20 e 24 anos estão na faculdade, diz Hersht, em comparação aos 10% na Índia - e fala várias línguas. No centro da Hewlett-Packard em Breslávia são faladas 26 línguas, o que o torna ideal para atender suas operações na Europa, África e Oriente Médio, diz Jacek Levernes, que administra a terceirização dessas regiões. O centro em Breslávia emprega 2,3 mil funcionários, mais que o dobro do imaginado (1 mil) pela Hewlett-Packard quando o inaugurou, em 2005. Os trabalhadores inicialmente realizavam tarefas financeiras básicas e de suporte contábil; agora, também lidam com serviços de marketing e de análise da cadeia de fornecimento.

A Capgemini Consulting, da França, fez uma grande aposta no futuro de sua terceirização no "nearshoring", instalando centros financeiros e contábeis na Cracóvia, na Polônia, e na Cidade da Guatemala. A engarrafadora Coca-Cola Enterprises, por exemplo, transferiu empregos de seus escritórios em Tampa, em Dallas, e Toronto para o centro da Capgemini na Guatemala, e de Paris, Bruxelas e Londres para o da Cracóvia.

Fersht, da HfS, visitou os dois centros e diz que poderiam muito bem ser confundidos com escritórios nos EUA, a não ser pela riqueza de idiomas - cerca de 25 são falados no centro na Cracóvia, enquanto na Guatemala fala-se inglês e espanhol - e pelo fato de quase todos os funcionários serem jovens. A média de idade é de 26 anos, segundo a Capgemini. A empresa elevou o pessoal de 180 funcionários terceirizados em funções de processo organizacional, em 2003, para 2,5 mil atualmente.

O centro na Guatemala emprega pessoas com formação superior capazes de analisar os contratos de fornecedores da engarrafadora e otimizar os custos com compras, segundo o chefe das operações de terceirização mundial de processos organizacionais da Capgemini, Hansjörg Siber. "Os guatemaltecos falam inglês com sotaque americano, o que é bem-aceito [...] e não sotaque indiano, o que não é", diz.

Fersht cita outra vantagem: os clientes da Capgemini contam com poloneses e guatemaltecos diplomados em universidades pelo preço de americanos apenas com formação de ensino médio.

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