A China prevê aumento de disputas comerciais no ano que vem, em meio a forte contração dos mercados globais, e avisou que vai utilizar os mecanismos da Organização Mundial do Comércio (OMC) para defender seus exportadores. Analistas consideram que, nesse cenário, o Brasil poderia ser alvo dos chineses por causa de imposição de mais medidas como o IPI adicional sobre carros estrangeiros. Pequim tem reclamado com o governo brasileiro, mas aparentemente não fez nenhuma ameaça direta - ainda.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, após participar de almoço dos Brics, o grupo formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul, com a presença do ministro de Comércio da China, Chen Deming, reiterou que o seu colega chinês "tem sido franco, mas cordial" e que no encontro "ninguém levantou qualquer óbice" sobre o que o Brasil está fazendo para proteger a sua indústria automotiva.
Outro negociador brasileiro considerou que, quando Deming deixou claro que seria mais tolerante no caso de "países pobres", com os quais preferirá fazer "consultas bilaterais" em vez de levar os casos para os juízes da OMC, na verdade se referia a "países em desenvolvimento" em geral.
Além de suas enormes vendas industriais, Pequim agora quer também exportar produtos agrícolas para o Brasil. O vice-ministro chinês da agricultura, Niu Dun, afirmou em Genebra que a China pode até aumentar as importações agrícolas originárias do Brasil, mas em troca quer também exportar frutas, vegetais e outros produtos para o mercado brasileiro.
"Queremos produtos de alta qualidade, mas também temos produtos de alta qualidade na agricultura. Você acha que dá para nós exportamos para o Brasil também?", indagou ao jornalista.
Por solidariedade com o resto dos Brics, a China acabou aceitando ontem um comunicado do grupo que na prática recusa o compromisso "antiprotecionismo" que a Austrália vai tentar aprovar na conferência ministerial da OMC, hoje e amanhã em Genebra.
Na verdade, o grupo dos Brics vai além, dizendo de um lado que concorda em resistir "a todas as formas de protecionismo". Mas que ao mesmo tempo não abre mão de usar qualquer medida consistente com as regras da OMC para proteger seus mercados.
Os países do grupo acabaram concentrando ataques sobre subsídios e outras medidas dos países desenvolvidos, inclusive no setor automotivo nos Estados Unidos e na Europa. A China mesmo anunciou ontem aumento de tarifa de importação sobre carros dos Estados Unidos, podendo ampliar as tensões bilaterais.
Para o ministro Chen Deming, "há uma possibilidade de protecionismo comercial se tornar mais sério no ano que vem, por causa da contração principalmente nos EUA e na Europa". "A China fez promessa pelo livre comércio e vamos honrar nossa palavra. Não vamos abusar de instrumentos comerciais. Ao mesmo tempo, não tememos usá-los contra o protecionismo para nos proteger."
Segundo Deming, as exportações chinesas caíram nos últimos três meses na base de 2% ao mês, por causa da desaceleração econômica nos EUA e na Europa. "Vamos fazer esforços para estabilizar as exportações e ao mesmo tempo nos manter firmes contra o protecionismo expandindo nossas importações", disse diante de outros países que dependem cada vez mais do mercado chinês.
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