Christine Lagarde afirma que crise na Europa não acabou, que o protecionismo avança e emergentes já sofrem efeitos da turbulência
A crise das dívidas na Europa, a desaceleração dos grandes países emergentes e a escalada do protecionismo ameaçam a economia mundial, que está em "situação perigosa". A advertência não vem de nenhum economista catastrofista, mas da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde.
Em entrevista ao semanário francês Journal de Dimanche, a executiva alertou para o fato de que as medidas tomadas por Alemanha e França não acabaram com a crise na União Europeia (UE), cujas consequências se espalham pelo mundo.
O panorama traçado por Lagarde é mais um cenário duro sobre os rumos da economia mundial, como a diretora tem se especializado em traçar desde que assumiu o fundo, em agosto. Segundo a ex-ministra francesa, a instabilidade ainda ronda os mercados internacionais.
"A economia mundial está em uma situação perigosa", disse, denunciando a perda de espaço dos livres mercados. "Nesta época, os Estado se voltaram para eles próprios e o multilateralismo recuou. Hoje, vemos certos Estados aumentarem barreiras tarifárias, inventar obstáculos não-tarifários e criar obstáculos aos fluxos de capitais."
Para a diretora, a crise das dívidas soberanas na Europa continuará a ser o epicentro da turbulência global em 2012. No seu entender, as medidas adotadas pela União Europeia após o acordo entre a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, não serão suficientes para dirimir as dúvidas sobre a capacidade de países como Grécia, Portugal, Espanha e Itália de honrar suas obrigações. "A cúpula do 9 de dezembro não foi suficientemente detalhada sobre os aspectos financeiros e foi muito complicada sobre seus princípios fundamentais", afirmou, sem citar os dois chefes de Estado e de governo.
Na reunião citada por Lagarde, 26 dos 27 países da União Europeia - exceção feita ao Reino Unido - concordaram em acelerar a integração da governança econômica do bloco, em especial aproximando políticas fiscais e criando mecanismos de punição aos Estados que não cumprirem as metas estabelecidas no Tratado de Maastricht - o Pacto de Estabilidade que estipula limites de déficit e de endividamento dos países do bloco. Para tanto, porém, a UE terá de negociar a criação de um novo tratado, que precisará ser aprovado pelos parlamentos ou pelos eleitorados nacionais.
Para os críticos, as medidas ajudam a trazer mais confiança no futuro da UE, mas não acabam com a estabilidade presente. Medidas como a emissão de obrigações do tesouro da Europa e a intervenção mais ativa do Banco Central Europeu (BCE) vêm sendo sistematicamente vetadas pela Alemanha.
"Houve progressos consideráveis na Europa, mas são graduais e mal compreendidos. É preciso acelerar a implantação das medidas", disse. Lagarde exortou o bloco a "falar com uma voz" e "anunciar um calendário simples e detalhado" de ação.
A diretora do FMI também advertiu que a desaceleração do crescimento nos países emergentes - como China, Brasil e Rússia -, "motores" da economia mundial nos anos 2000, é reflexo da instabilidade na Europa e dos riscos de recessão.
E as consequências podem ser piores: países menos desenvolvidos, como os da África, podem sofrer com a redução das transferências de dinheiro feitas por expatriados que auxiliam suas famílias. "A instabilidade é um perigo para o todo o mundo. O crescimento mundial será afetado."
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