quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Crédito começa a ficar raro

Fonte: Correio Braziliense
Autor: Victor Martins
Cerca de 50% das linhas internacionais às empresas brasileiras não estão sendo renovadas, o que prejudica principalmente exportadores


A crise bateu à porta das empresas brasileiras, sobretudo das exportadoras. Com o recrudescimento da situação na Europa, pelo menos 50% das linhas de crédito oriundas do Velho Continente não têm sido renovadas. Pelas estimativas do Banco HSBC, a América Latina está exposta à Zona do Euro em US$ 206 bilhões — volume referente a todas as operações bancárias de financiamento externo a companhias nacionais. Essa montanha de dinheiro pode desaparecer caso uma solução não seja encontrada para o endividamento dos países e para a dificuldade de captação em dólar das instituições financeiras europeias.

Se o cenário piorar, especialistas afirmam que o Banco Central pode intervir no mercado, a exemplo de 2008, quando liberou cerca de US$ 90 bilhões das reservas internacionais em forma de linha de crédito para exportadores. André Loes, economista-chefe do HSBC para a América Latina, explica que o Brasil é o país da região que mais recebe recursos da Europa. Nos cálculos dele, são US$ 78,6 bilhões, valor equivalente a 38% de todo o financiamento estrangeiro para empresas brasileiras. Até junho, o total estava estimado em US$ 207,5 bilhões vindos de vários países para bancar, sobretudo, as operações de exportação.


Ainda assim, o Brasil é o menos exposto à Europa em uma lista de oito países elaborada pelo HSBC com base em dados do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês). O Chile e o Uruguai, na avaliação de Loes, são os mais expostos — o primeiro com 63% dos recursos externos oriundos da Europa e o segundo com 57%. “O que a gente vê é que boa parte, cerca de 50% desses financiamentos na América Latina, não está sendo renovada”, disse Loes.

Na visão do economista, o fechamento de algumas linhas já encareceu o crédito para os exportadores em 0,06% na média. “O risco vai depender do setor. Alguns vão sofrer mais que outros. Os bancos europeus não estão conseguindo emprestar porque não têm liquidez em dólar”, observou. “É um reflexo da crise de lá. Não tem muito a ver com a gente. Agora, vai ter efeito sobre a competitividade dos exportadores, sobretudo porque as moedas ficaram apreciadas na América Latina.”

Captação
De acordo com o HSBC, o cálculo de exposição de US$ 78 bilhões vindos da Europa exclui as operações de bancos estrangeiros em moeda local. Para a instituição, o dado do BIS, de que a exposição brasileira seria de US$ 416 bilhões, é distorcido porque as subsidiárias dos bancos operam com captação local e em real, não em dólar. Na conta da instituição, estaria também esse componente. Nos números do HSBC, entraram apenas as linhas de crédito com recursos exclusivamente europeus.

Problemas à vista

Com a instabilidade da Zona do Euro, aumenta a exposição de países latinos a financiamentos europeus (Em US$ bilhões)
Quanto de crédito vem da Europa
Brasil 78,6
México 57,1
Chile 30,7
Peru 12,1
Argentina 9,9
Colômbia 7,6
Venezuela 4,9
Uruguai 4,2

Quanto a América Latina recebe de crédito externo
Brasil 207,5
México 114,3
Chile 48,9
Peru 31,8
Argentina 21,4
Colômbia 17,0
Venezuela 11,8
Uruguai 7,4
Fontes: HSBC, BIS e balanços de bancos

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