A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, chega hoje a Brasília para conversas com a presidente Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini. A expectativa é que ela venha discutir a importância de os países se unirem para combater a crise global, que aflige principalmente a zona do euro. Em outras palavras, o FMI vem passar o pires. Ou seja, uma situação completamente diferente da que o Brasil enfrentou até o fim dos anos 90, quando o país recebia missões do Fundo para fiscalizar suas contas.
Agora, o Brasil está disposto a estender a mão à Europa, desde que isso seja feito via FMI e traga para o país mais voz dentro da instituição.
Embora exista uma pressão dos países europeus para que o Brasil e os demais integrantes do chamado Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul) ajudem as economias em dificuldade comprando diretamente os títulos de suas dívidas, essa hipótese está fora de cogitação. Segundo técnicos da equipe econômica, o que o Brasil quer é repetir a fórmula usada em 2009 e pôr recursos para reforçar o arsenal do FMI, de forma que a própria instituição possa ajudar a União Europeia (UE).
Emergentes têm de pedir mais voz, diz Langoni
Segundo o diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carlos Langoni, esse é o melhor caminho. Ele lembra que há uma razão técnica para não ajudar a Europa diretamente.
- É muito arriscado, e proibido para alguns países, aplicar suas reservas em títulos de economias que não sejam classificados como "AAA" (os mais seguros do mercado). Comprar títulos da Itália ou da Espanha é algo inaceitável neste momento - disse Langoni.
Ele destacou ainda que esse é o momento para o Brasil e os demais emergentes mostrarem a força de suas economias dentro do FMI:
- Reforçar o Fundo é uma maneira de alavancar o poder de influência do Brasil no FMI. Ele ainda é muito limitado e não reflete de fato as mudanças estruturais na economia mundial.
Segundo Langoni, o Fundo está recomeçando a ganhar importância no cenário mundial, após ter sido colocado de lado nos últimos cinco anos. Ele destaca que o Brasil, que quitou todos os seus empréstimos com o FMI em 2005 e se tornou credor da instituição em 2009, foi a última grande economia a precisar de ajuda internacional, em agosto de 2002:
- Quando perdeu seu melhor cliente, que era o Brasil, o FMI entrou em crise. Caiu num certo ostracismo e não teve mais papel relevante no mundo. Agora, os emergentes deixaram de ser fonte de problemas, e a crise passou para a Europa e os Estados Unidos.
"É o momento de resgatar a credibilidade do FMI"
Mas os europeus preferiram tentar solucionar seus problemas internamente, criando um fundo de estabilização financeira que também não está conseguindo contornar as dificuldades. Por isso, segundo Langoni, o FMI voltou a ganhar relevância.
- Lagarde sabe que este é o momento de resgatar a credibilidade do FMI, pois os países consideram mais seguro ajudar a Europa por meio de um organismo multilateral - afirmou o diretor da FGV.
O Brasil já contribuiu para reforçar o poder de fogo do Fundo ao depositar US$14 bilhões no chamado NAB (linha de financiamento da instituição voltada para ajudar economias em crise). Essa foi uma das condições que permitiram ao país aumentar sua quota no Fundo, que passou de 1,38% para 1,78%. Agora, os emergentes querem discutir uma nova reforma que continue aumentando suas participações no organismo.
Outra condição que vem sendo ressaltada pelo governo brasileiro para dar ajuda à Europa é que o continente precisa mostrar comprometimento com as reformas fiscais que já foram anunciadas para os países da zona do euro, mas que não chegaram a ser implementadas.
- É importante que a Europa mostre (ação), fazendo o dever de casa e trabalhando para implementar as medidas fiscais que foram anunciadas em outubro - afirmou ontem o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Carlos Cozendey.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário