O comércio mundial enfrenta uma nova escassez de crédito, com bancos europeus cortando financiamentos, o que pode intensificar a queda das trocas mundiais em 2012. A crise no financiamento das exportações é global, e não só europeia, disseram analistas à margem da conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), encerrada no sábado.
Para o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, a crise atual ameaça mais o comércio mundial que a de 2008, à medida que os governos dispões de menos munição financeira para atenuar seus efeitos e estimular a retomada das atividades.
Bancos europeus controlam 80% do mercado global de crédito ao comércio ("trade finance"), descrito como a "graxa" que facilita exportações e importações, normalmente com maturação de até 180 dias. Esse tipo de operação cobre até 90% dos mais de US$ 12 trilhões do comércio mundial.
Ocorre que os bancos europeus estão sob pressão para se recapitalizar e elevar seu capital próprio. Eles devem desalavancar entre US$ 2 trilhões e US$ 3 trilhões, pelas estimativas do Morgan Stanley. Em consequência, não há mais liquidez suficiente para financiar todas as transações. E "trade finance" é considerado um dos setores onde os bancos tem mais custos em termos de capital e liquidez, por causa de suposto risco, apesar da garantia real em mercadorias.
Na semana passada, o banco francês Credit Agricole, o segundo maior em "trade finance", anunciou que fechará várias atividades de financiamento ao comércio, como parte de seu esforço para elevar seu capital de base.
O BNP Paribas, o maior operador de "trade finance", já tinha também anunciado a decisão de reduzir significativamente sua exposição nesse setor, para cortar seus ativos em cerca de 25%.
No total, o "trade finance" de commodities poderá sofrer redução de 25% a 30% no ano que vem, nas projeções de Jacques-Olivier Thomann, presidente da Geneva Trading and Shipping Association e diretor do BNP Paribas no financiamento de matérias-primas.
Um assessor da OMC para essa área confirmou que tem havido uma retração de grandes bancos no financiamento do comércio, em particular bancos europeus.
BNP Paribas e Credit Agricole fornecem 20% do crédito para grandes traders de commodities, como Glencore e Cargill, de forma que a redução pode ser administrável. Já para clientes menores, a expectativa é que o crédito será improvável em 2012. Com isso, muitos deles terão de acelerar a venda de estoques, como ocorreu em 2008, quando a demanda de várias commodities degringolou.
Outro aspecto discutido paralelamente à reunião da OMC foi que o recuo de bancos europeus não está sendo automaticamente ocupado por bancos de países emergentes. Ou seja, instituições chinesas, por exemplo, não estão aumentando sua fatia de mercado.
O ministro de Comércio da França, Pierre Lelouche, chegou a apontar uma espécie de guerra no financiamento oficial à exportação. Analistas notam que os EUA são especialmente agressivos, para estimular suas vendas. Há um compromisso americano com o Brasil, na disputa do algodão, de reduzir o subsídio no financiamento a seus exportadores. Mas os americanos até agora fizeram apenas alterações cosméticas.
Na crise de 2008, os principais governos prepararam um pacote de US$ 250 bilhões para socorrer o comércio mundial, que ainda assim teve forte deterioração.
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