De nada adiantaram os elogios à economia brasileira que estaria mais protegida do que nunca de um possível contágio da crise europeia. Interessada em conseguir mais dinheiro do Brasil para ajudar os europeus, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, deixará o país de mãos vazias. Após se reunir com Lagarde, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o país está disposto a colaborar com um aporte adicional de recursos, por meio de acordos bilaterais de crédito.
No entanto, o Brasil não abre mão de determinadas condições, como o aumento das cotas do Fundo, acertadas em 2009 e 2010, e uma atuação mais firme dos países europeus para superarem a turbulência e a falta de liquidez.
Mantega também deixou claro que qualquer decisão do governo brasileiro será tomada em conjunto com os demais membros dos Brics (sigla para o bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China). Disse que espera que isso ocorra antes de fevereiro, quando o G-20 financeiro (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo) se reunirá mais uma vez.
Mantega: EUA e Europa também têm que ajudar
Ele frisou ainda que outros países, como os Estados Unidos e os próprios europeus, devem participar desse aporte. Normalmente, ele é feito com recursos das reservas cambiais dos países, embora outras fórmulas para essa operação de socorro estejam em discussão.
Durante conferência de imprensa concedida por Mantega e Lagarde, o ministro aproveitou para fazer uma brincadeira com a número 1 do Fundo:
- Vejo com satisfação que, desta vez, o FMI não veio dar dinheiro, mas pedir. Prefiro ser credor do que devedor.
Em sua primeira visita ao Brasil como diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde foi recebida pela presidente Dilma Rousseff e manteve encontros com Mantega e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Afirmou que o Brasil tem um histórico "extremamente sólido" e se encontra em situação econômica "muito favorável".
- Acreditamos que o Brasil está mais bem protegido do que quaisquer outros países dos efeitos de contaminação e das consequências da crise do euro - enfatizou.
Em comunicado divulgado pelo Fundo depois, porém, Lagarde afirmou que a economia brasileira "não está imune".
"O desafio agora é encontrar um equilíbrio que permita ao país apoiar o crescimento e conduzir a inflação para a convergência da meta fixada pelo Banco Central. E tudo isso sem deixar de proteger - ou expandir - seus gastos sociais e modernizar a infraestrutura", diz a nota.
Por sua vez, Mantega afirmou que o governo brasileiro continua bastante preocupado com a economia europeia. Em sua opinião, a situação está piorando, devido à falta de liquidez.
- Conversamos (ele e a diretora-gerente do Fundo) sobre o papel do FMI e a situação da economia europeia. Do meu ponto de vista, a crise europeia está se agravando. Estamos vendo um mercado com cada vez menos recursos financeiros. Esperamos uma solução a mais rápida possível, antes que a situação financeira se deteriore. Nossa preocupação é que a crise chegue aos países emergentes - afirmou.
Já Christine Lagarde disse que o FMI está presente "para apoiar a todos os seus membros", ou seja, não apenas os europeus:
- O FMI não está focado apenas na zona do euro.
Os dois comentaram a atuação conjunta dos seis maiores bancos centrais do mundo para reduzir os juros e aliviar as pressões sobre o euro. Lagarde deu sinal de que considerava a medida positiva, mas insuficiente.
- Vemos com bons olhos a atuação conjunta dos bancos centrais. Trata-se de uma iniciativa positiva, mas não é a única necessária - disse.
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