terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O futuro do comércio internacional

Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo afirma que a 8ª Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio foi "um fiasco", e que as práticas unilaterais protecionistas dos Estados membros devem aumentar o número de conflitos dentro da OMC.

Infelizmente, torna-se tendência a proteção do mercado interno, rompendo com décadas de evolução do sistema comercial mundial. Apesar das críticas ao sistema aberto que o Brasil vinha adotando, são notórias as conquistas brasileiras, sendo considerada a sétima economia  mundial no ano de 2010. Convém salientar que o protecionismo não é um ato isolado do Brasil, mas uma prática que vem sendo adotado por muitos Estados. Porém, sem dúvida alguma, o Brasil é um dos países que mais tem se fechado neste ano (2011).

O futuro do comércio internacional e da economia brasileira? Uma incógnita. Particularmente, caso se mantenham as práticas protecionistas, não sou das mais otimistas.


 O comércio e a lei da selva

Fonte: O Estado de S. Paulo

Mais que um fiasco, a conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), no último fim de semana, foi um novo e estridente sinal de alerta. A atividade comercial foi o principal motor do crescimento econômico nas últimas quatro décadas e a expansão das trocas dependeu em grande parte da liberalização dos mercados. Mas a fase da abertura comercial e dos grandes acordos está encerrada e o vírus do protecionismo tende a se espalhar por todo o globo. As condições de concorrência se tornarão menos civilizadas e o atual sistema de regras será submetido a severos testes de resistência, se o salve-se quem puder superar todas as outras considerações. Dez anos depois de lançada a mais ampla negociação comercial de todos os tempos, a Rodada Doha, ninguém mais tenta disfarçar o fracasso dessa iniciativa. Foi a primeira concebida para ser uma Rodada do Desenvolvimento - seu outro nome - e deu em nada.

A grande negociação já estava emperrada em 2007, antes do agravamento da crise, mas ainda houve esforços para levá-la à conclusão. As dificuldades aumentaram nos anos seguintes, quando a recessão travou o comércio e os governos ficaram menos propensos a novas concessões. Além disso, a maior economia do mundo, a americana, passou a ser governada por um partido fortemente vinculado a interesses protecionistas. Alguns esforços ainda foram feitos para salvar compromissos alcançados na fase mais otimista da rodada, mas sem resultado.

O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, passou da coordenação das negociações a uma tarefa de pregação, alertando o mundo para as consequências de uma fragmentação do sistema global de comércio. A primeira ameaça ocorreu quando os governos, diante dos impasses da Rodada Doha, começaram a dar prioridade a acordos bilaterais e regionais, transformando as normas de comércio numa colcha de retalhos. O pior veio depois, quando a crise e o desemprego tornaram muito mais tentador o recurso às barreiras comerciais e aos incentivos causadores de distorções no funcionamento dos mercados.

A pregação de Lamy tem sido um esforço para mostrar o enorme perigo das políticas de restrição comercial adotadas nos últimos anos. Os sinais de isolacionismo lembram o cenário da década de 1930, alertou o diretor-geral da OMC. O seu discurso, assim como o da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, vem ganhando tons mais dramáticos enquanto se agrava a crise no mundo rico e aumenta o risco de uma recessão mais funda e mais duradoura que a de 2008-2009.




Economistas têm usado com menos parcimônia a palavra "depressão", reservada para a descrição de crises como a dos anos 30. Uma das marcas desse período foi a competição sem regras, com muito protecionismo e muito recurso a desvalorizações cambiais. Com cerca de 14 milhões de desempregados nos Estados Unidos e 23 milhões na União Europeia, a tentação de entrar na espiral das políticas de restrição ao comércio é muito forte. A perspectiva de uma crise prolongada realimenta essa tendência, perigosa para todos.

Incentivos à exportação e barreiras à importação, legais ou ilegais, com ou sem disfarce, multiplicam-se em todas as partes do mundo. A instabilidade cambial dificulta o planejamento das empresas. Países com câmbio subvalorizado, como a China, tendem a preservar essa vantagem competitiva, apesar das promessas de correção dos desvios.

Nesse ambiente, os conflitos tendem a multiplicar-se, impondo uma sobrecarga ao mecanismo de solução de controvérsias da OMC. Mas a violação consciente e quase sem disfarce das normas de comércio, como já se vê em vários países, põe em xeque o próprio sistema e tende a minar sua relevância. Mais grave que o abandono definitivo da Rodada Doha e a tendência ao protecionismo será a desmoralização aberta do regime de regras comerciais.

Talvez seja excesso de pessimismo imaginar uma OMC irrelevante. Mas a preocupação não é descabida. No limite, o salve-se quem puder desemboca na lei da selva. Neste momento, é essa a tendência predominante.

2 comentários:

  1. Doutora,
    Gostaria de ler material a respeito do que ocorre atualmente com a China. Muito se fala que a China se aproveita da própria desvalorização cambial no cenário mundial, bem como subsídios para atrair investimento estrangeiro direto ao país vinculado à exportação, o que retiraria, entre outros lugares do mundo, espaço doméstico como o que ocorreu com a própria união europeia. Os produtos chineses substituindo produtos tradicionais europeus.
    Nem mesmo os E.U.A com uma super proteção quanto a entrada da China na OMC, conseguiu impor um mercado forte frente a expansão chinesa que pode muito bem estar utilizando dos mesmos procedimentos protecionistas ou subsídios de forma velada que o seu principal parceiro econômico, o E.U.A.
    Uma forte impressão que fica é uma corrida para proteger os produtos internos desse "ataque" de produtos chineses, que per si, não é culpado pela crise, ao contrário, é justamente a China que impede um problema maior. Mas não é de se negar que essa nova forma de se pensar o mercado, fez e faz uma revolução econômica mundial.

    ResponderExcluir
  2. Olá Savio!

    Tudo bem?

    Excelente tua colocação. Vejo que tens estudado bastante sobre o tema, e peço desculpas por ter demorado em indicar alguns livros. Lembro que ficaste mais propenso às normas chinesas de ordem privada, e tive dificuldade de indicar algum livro em especial.

    Sobre a transformação da economia chinesa, li dois livros muito bons do mesmo autor, o economista Gregory Chow: China's Economic Transformation, Knowing China. Há um outro livro dele sobre a China, chamado Interpreting China's Economy, mas ainda não tive a oportunidade de lê-lo. Um livro ótimo, de autoria de Piya Mahtaney, chama-se India, China and Globalisation. Apesar do preço, vale a pena.

    Recomendo, também, a leitura de livro BRIC: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul: Uma Perspectiva de Cooperação Internacional, de Paulo Borba Casella. Assim como o livro de Mahtaney, não se foca somente na China, mas vale a pena.

    O que pecisar para seu trabalho, e eu puder ajudar, conte comigo! Sucesso no estágio!

    Um abraço,

    Larissa

    ResponderExcluir