sexta-feira, 2 de março de 2012

Tsunami monetário

Fonte: O Estado de S. Paulo
Autores: Rafael Moraes Mourae e Tânia Monteiro
A presidente Dilma Rousseff fez duras críticas ontem à política que tem sido adotada pelos países ricos para enfrentar a crise financeira. Segundo ela, as medidas têm provocado um "tsunami monetário". Num discurso incisivo, a presidente afirmou que a política de juros dessas nações é "absolutamente inconsequente" e prometeu impedir a "canibalização" dos mercados dos países emergentes.

"Nos preocupamos, sim, com esse tsunami monetário dos países desenvolvidos, que não usam políticas fiscais de ampliação da capacidade de investimento para sair da crise em que estão metidos, e que literalmente despejam US$ 4,7 trilhões no mundo ao ampliar, de forma muito perversa para o resto dos países, principalmente aqueles em crescimento, que são os países emergentes", disse Dilma, durante cerimônia no Palácio do Planalto, horas depois de o governo ter lançado mais uma medida para segurar a forte entrada de dólares no Brasil.

A presidente considerou que a atitude dos países ricos demonstra que essas economias tem compensado a rigidez fiscal com uma política monetária "absolutamente inconsequente".

Dilma fez questão de lembrar que somente na quarta-feira o Banco Central Europeu (BCE) injetou mais de meio trilhão de euros nos bancos da região para tentar incentivar o crédito e conter a recessão do continente.

"Só ontem (anteontem) eles completaram, na União Europeia, um trilhão de euros. Além disso, você tem também o Japão praticando a mesma política monetária", criticou a presidente. Em pouco mais de dois meses, os empréstimos do BCE totalizaram um trilhão de euros.

Assim como ressaltado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, a presidente deixou claro que o governo adotará outras medidas para combater os efeitos negativos dessa enxurrada de recursos nos mercados internacionais que tem migrado para economias com a do Brasil. "Nós teremos de criar outros instrumentos de combate dos processos que vão ser desencadeados", disse.

Canibalização.

Dilma prometeu, mais uma vez, que vai proteger a indústria nacional, que tem sofrido forte concorrência das fábricas estrangeiras. "Vamos continuar desenvolvendo este país, defendendo a sua indústria, impedindo que os métodos de saída da crise dos países desenvolvidos impliquem a canibalização dos mercados dos países emergentes e, ao mesmo tempo, assegurando que o nosso mercado interno, o nosso mercado de massas cresça, mas cresça qualitativamente", discursou.

"Sabemos que hoje as condições de concorrência são adversas. As condições de concorrência são adversas não porque a indústria brasileira não seja produtiva, não porque o trabalhador brasileiro não seja produtivo, mas porque tem uma guerra cambial baseada numa política monetária expansionista que cria condições desiguais de competição", disse a presidente.

A desvalorização do real preocupa o governo brasileiro, já que prejudica a competitividade da indústria nacional.

Dilma também afirmou que o Executivo deseja que a taxa de investimento no Brasil cresça e ultrapasse o valor equivalente a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. "Temos consciência de que, para esse desenvolvimento com bases sociais ser sustentável, ele tem de ter aceleração", disse. "Não queremos só criar empregos. Nós queremos criar empregos e distribuir a riqueza." A presidente disse que vai lutar para o Brasil ter um "nível de desenvolvimento significativo" em 2012, citando investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a contratação de 2 milhões de moradias do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.

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