segunda-feira, 12 de março de 2012

País lidera 'desglobalização' de bancos europeus fora da UE, aponta relatório


Fonte: O Estado de S. Paulo
Autor: Jamil Chade
Dados do BIS mostram redução de US$ 53 bilhões nos empréstimos e ativos dessas instituições só no Brasil; no mundo, foram US$ 800 bi

O Brasil é o país fora da União Europeia que registrou a maior contração de financiamento de projetos e empréstimos de bancos europeus no mundo. No auge da crise, as instituições europeias, obrigadas a lidar com os próprios problemas, deram início a um período de "desglobalização" para se concentrar em socorrer seus negócios, muitos à beira da falência.

Os dados são do Banco de Compensações Internacionais (BIS), que indica que a queda é a primeira em dois anos no caso brasileiro. Mas, apesar da redução de US$ 53 bilhões no Brasil, os empréstimos europeus estão sendo substituídos por instituições locais e sucursais registradas como bancos nacionais e não há sinal da falta de crédito no País, pelo menos por enquanto. Nos últimos meses, a emissão de bônus também ajudou a compensar a queda.

O que o BIS alerta, porém, é que essa tendência europeia ameaça ser mantida por alguns anos e a questão é saber se os mercados emergentes terão como repor o papel desempenhado pelos europeus até agora.

No total, os bancos europeus reduziram a participação em atividades financeiras pelo mundo em US$ 800 bilhões entre julho e setembro de 2011. A desglobalização já resultou numa queda de 39% no financiamento de projetos e 23% no comércio.

Pelo mundo, os bancos europeus têm uma exposição avaliada pelo BIS de US$ 18,1 trilhões. A desalavancagem só não foi maior, segundo o BIS, graças à intervenção de 1 trilhão feita pelo Banco Central Europeu.

No caso específico do Brasil, os estoques de empréstimos estrangeiros em julho chegaram a US$ 568 bilhões. Três meses depois, a taxa havia caído para US$ 507 bilhões. Em valor absolutos, a queda no Brasil foi superior à que sofreu Grécia ou Portugal. Já a China, por depender pouco de bancos europeus, praticamente saiu ilesa do processo.

Os bancos espanhóis - que passam por momento delicado - foram, no caso brasileiro, os maiores responsáveis por essa redução. Depois de manter estoques de US$ 210 bilhões em julho em empréstimos no Brasil, os bancos ibéricos reduziram a exposição em setembro para US$ 179 bilhões. Desse total, US$ 71 bilhões são para financiar o setor público brasileiro.

Para o BIS, a retração dos bancos europeus acabou gerando a primeira redução da exposição de bancos internacionais no País desde o início de 2009. Depois de ver uma expansão de US$ 30 bilhões no primeiro semestre, a retração total foi de US$ 500 milhões no terceiro trimestre.

Só a Polônia e países de dentro da zona do euro registraram um redução maior, principalmente no Leste Europeu. A desglobalização dos bancos europeus também atingiu as atividades no restante da América Latina e na Ásia.

Contraste. Segundo os dados, a retirada dos bancos europeus nos emergentes se contrasta com a forte entrada de fundos na primeira parte de 2011. Pela primeira vez em dez trimestres, os empréstimos totais para os emergentes caíram. A redução foi de US$ 18 bilhões. Já no mundo esse fluxo registrou uma alta de 1,9%, cerca de US$ 610 bilhões. Mas isso graças a empréstimos entre bancos.

Para o BIS, isso prova que bancos com superávit nas contas estão optando por estacionar o dinheiro e não usá-lo.

Segundo os cálculos europeus, 65 dos maiores bancos da região registraram no fim de 2011 um buraco nas contas de US$ 114 bilhões. As estimativas são de que as vendas de ativos por esses bancos poderiam variar nos próximos anos entre US$ 500 bilhões e US$ 3 trilhões.

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