quinta-feira, 8 de março de 2012

O risco do protecionismo

Fonte: Valor Econômico
Autor:  Sergio Leo
Para Marcus Wallenberg, da família que detém ativos equivalentes a quase 6% do PIB da Suécia, a flutuação do câmbio não preocupa tanto quanto a tendência mundial de protecionismo



Elas estão no Brasil há até um século, foram fornecedoras do primeiro bondinho do Pão de Açucar e de turbinas para Itaipu; têm nomes familiares como Ericsson, Electrolux, AstraZeneca, Asea Brown Boveri (ABB), Saab; e o presidente da holding maior acionista individual dessas empresas veio ao Brasil nesta semana. Marcus Wallenberg, cuja família detém, na holding Investor, ativos equivalentes a quase 6% do Produto Interno Bruto de toda a Suécia, disse ao Valor que os altos e baixos do câmbio não o preocupam tanto quanto a tendência - "mundial", diz ele - de protecionismo comercial.

"É importante para as empresas suecas que sejamos tão a favor do livre comércio e dos acordos internacionais", comenta ele, ao falar da tendência de aproveitar cada vez mais o Brasil na cadeia produtiva global de empresas como Ericsson, de comunicações, ou a gigante de automação e energia ABB, resultado da fusão de uma empresa suíça e outra sueca. "Estamos preocupados em ver que esses acordos deixaram de ser prioridade globalmente".

Outro fator essencial é a garantia do governo de que manterá a responsabilidade nas contas públicas, diz o executivo, que vê na estabilidade de regras componente fundamental nas decisões de investimento. "A estabilidade fiscal tem sido muito boa para atrair investimentos ao Brasil", afirma.

Para brasileiros acostumados com a exuberância e onipresença de um Eike Batista, os membros da família Wallenberg, considerados uma dinastia secular na Suécia, impressionam pelo oposto: o lema é "essere no videre", frase latina que significa "ser; não ser visto". Marcus, que, com o Investor, detém 22% do segundo maior banco sueco, o SEB, fica corado ao responder se é verdade que costuma viajar de avião em classe econômica. "Viagens de lazer, com filhos, sim", garante. Apesar do crescente desconforto da classe econômica? "Não para mim", diz, sorrindo.

Os dividendos e gratificações das principais companhias da carteira da Investor são aplicados em uma fundação da família, que usa os recursos para financiar bolsas de estudo, pesquisa e desenvolvimento no país. A manutenção da fortuna em trusts familiares, sem que nenhum membro da família controle os ativos diretamente, é apontada como uma das razões para a longa duração do poder dos Wallenberg. O bisavô do executivo, também Marcus, pressionou o governo a permitir que bancos detivessem o controle de empresas e ajudou a formação da Escola de Economia de Estocolmo, em 1909, cinco anos após queixar-se de que a Suécia tinha ótimos engenheiros e bons trabalhadores, mas carecia de empreendedores.

O atual Marcus Wallenberg veio ao Brasil acompanhando missão empresarial liderada pelo presidente do parlamento sueco, Per Westerberg, que teve, entre outros objetivos, o lobby pelo caça sueco Gripen, da Saab, na disputa pelo fornecimento de novos aviões-caça à Força Aérea Brasileira (FAB). Ao comentar a necessidade de investir em inovação e tecnologia para escapar à crise, tanto Wallenberg quanto Westerberg encontram uma maneira suave de lembrar a proposta da Saab, que envolve intensa participação da engenharia brasileira no desenvolvimento do novo caça.

"O Gripen não é uma caixa-preta", lembrou o presidente do parlamento sueco, ao ser recebido, ontem, pelo presidente do Senado, José Sarney e pela senadora Marta Suplicy. A condição de país neutro, em plena Guerra Fria, fez a Suécia dar grande atenção à independência tecnológica, diz ele. Os suecos estiveram também com o presidente da Câmara, Marco Maia, e com o secretário-executivo do ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira. "Ouvi no Brasil o mesmo que na Suíça: não podemos esquecer a necessidade de criar um ambiente que beneficie a inovação, e a preocupação em pensar globalmente", diz Wallenberg.

Não é apenas discurso: os Wallenberg atribuem a longevidade de seus negócios ao esforço em planejar para o longo prazo, mas buscando agilidade na resposta às mudanças. "A disposição de mudar e de se adaptar é uma parte importante: temos de reconhecer que as coisas mudam hoje muito mais rápido", diz Wallenberg, para quem o foco em empresas de alta tecnologia faz parte da estratégia de desenvolvimento da Suécia.

Wallenberg elogia os governos Lula e Dilma Rousseff pela disposição em investir em bolsas de estudo, universidades e centros de pesquisa. "São questões que tomam tempo, como construir empresas; mas o importante é que a disposição de enfrentar o desafio está aí", defende.

As pressões de custo sentidas pelo Brasil, com a moeda valorizada também foram sentidas, em menor grau, pela Suécia, e as empresas tiveram de se adaptar, comenta ele. Wallenberg dá o exemplo da Electrolux, que, há vinte anos, tinha 50 fábricas em território sueco, onde, hoje, só mantém duas. São Paulo costuma ser apontada pela família como o maior parque industrial da Suécia hoje em dia, pela forte presença das empresas suecas que empregam seis mil funcionários no Brasil.

As companhias das quais a Investor é sócia têm planos de expandir atividades no Brasil, garantiu. "As companhias suecas aprenderam há tempos que, para fazer negócios na América e no Brasil, devem estar muito consciente da situação cambial, das mudanças nos parâmetros econômicos", minimiza Wallenberg. "Temos muita experiência nessas dificuldades".

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