quinta-feira, 1 de março de 2012

Brasil e México ainda estudam forma de garantir 'comércio equilibrado' de veículos

Fonte: Valor Econômico
Autor:  Sergio Leo

A forma como garantir um "comércio equilibrado" de automóveis entre México e Brasil é o único obstáculo sério para um acordo entre os dois países, na avaliação do governo brasileiro. Os mexicanos se queixaram aos ministros do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e das Relações Exteriores, Antônio Patriota, de que o Brasil não apresentou uma proposta detalhada em fevereiro, como prometera, e que é curto o tempo para chegar a uma fórmula aceitável. A presidente Dilma Rousseff determinou aos ministros uma solução para o "desequilíbrio" do comércio, ainda no início de março.

Na avaliação de uma autoridade que acompanha as negociações, não haverá problema em criar um prazo largo para que os carros mexicanos beneficiados pelo acordo aumentem seu conteúdo nacional - uma das reivindicações brasileiras. Também é considerada uma reivindicação negociável, que interessa mais às empresas, a inclusão de caminhões pesados no acordo. O que é fundamental é conseguir reduzir o déficit no comércio de automóveis, que passou de US$ 1,5 bilhão no ano passado.

Os mexicanos resistiram a explicitar no acordo o compromisso de equilibrar o comércio, mas as autoridades brasileiras avaliam que foi bom o clima da reunião que mantiveram terça-feira com os ministros mexicanos de Relações Exteriores, Patricia Espinoza, e da Economia, Bruno Ferrari. É grande a expectativa de chegar a um acordo nos próximos dias, e, por ordem de Dilma, os ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex) farão o detalhamento da proposta brasileira para submeter aos negociadores do México.

Os brasileiros argumentam que não quiseram fechar as portas para uma proposta mexicana, e, por isso, apresentaram em termos gerais a ideia de criar cotas, fixas ou flexíveis, para importação dos automóveis do México. Para o governo, a recessão mundial, a valorização do dólar e especificidades da economia mexicana, como a autorização para importação de automóveis usados (600 mil, no ano passado) desequilibraram os termos do acordo, baseado na venda de carros de alto valor do México ao Brasil e de carros baratos brasileiros ao mercado mexicano.


Dilma mantém sobre a mesa a ameaça de cancelar (denunciar, no jargão diplomático) o acordo que vigora desde 2003. Coube ao secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, explicitar aos mexicanos os temores de que o comércio automotivo com o México se transforme em mais um fator de desequilíbrio nas contas externas, e prejudique, com uma enxurrada de importações, a pretensão do governo Dilma de incentivar a produção industrial nacional com a política de crédito e manutenção do crescimento.

O governo rejeita a crítica dos mexicanos de que o Brasil se beneficiou com superávits até recentemente. Além de acusar o México de permitir uma competição excessiva com os carros brasileiros, ao permitir importação de carros usados de outros países, os brasileiros afirmam que, até 2007, o comércio era limitado por cotas, o que dava aos dois países a garantia de manter os déficits em um patamar manejável. O que incomodou os mexicanos, segundo uma autoridade que acompanha as negociações, foi a exigência de que, de agora em diante, haja equilíbrio nesse comércio, uma ideia difícil de vender ao público interno no México, que se escandalizou com a decisão brasileira de rever o acordo automotivo.

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