O principal contágio que a economia brasileira pode sofrer, no curto prazo, em decorrência de problemas no sistema bancário espanhol é no mercado de câmbio, avaliam técnicos da área econômica do governo. O temor de uma crise mais séria pode provocar saída de capitais e, consequentemente, uma nova rodada de desvalorização do real frente ao dólar, processo que também é favorecido pela contínua redução das taxas de juros no país. O governo vai agir, se for preciso, para evitar volatilidade no câmbio.
O principal instrumento será a atuação do Banco Central (BC) no mercado à vista de câmbio e no mercado futuro (por meio da venda de contratos de swap cambial, que equivalem ao compromisso de compra futura de dólar). Mais que a valorização ou a desvalorização do câmbio, os técnicos do Ministério da Fazenda entendem que a volatilidade da moeda causa transtornos à atividade econômica. Segundo assessores, o BC será "ágil". O plano é atuar no mercado com rapidez para evitar o que os técnicos chamam de "disfuncionalidade".
Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada na sexta-feira, há uma menção explícita aos problemas enfrentados pela Espanha. O parágrafo 69 apresenta a preocupação dos diretores do BC com a situação.
"Na Europa, a crise da dívida segue com o impasse político na Grécia e com os sinais de fragilidade do sistema bancário na Espanha, o que elevou os prêmios de risco desse país, dificultando o acesso ao mercado de dívida soberana. Nesse cenário, o dólar avançou em relação ao euro e às moedas de países emergentes, enquanto os rendimentos anuais dos papéis de 10 anos nos EUA e na Alemanha alcançaram, em maio, os menores valores das respectivas séries históricas", diz o documento.
Além do contágio no curto prazo, por meio da taxa de câmbio, o governo teme que, caso o empréstimo de até € 100 bilhões da União Europeia à Espanha para solucionar os problemas de seus bancos não funcione, a crise espanhola se agrave. Nesse cenário, o Brasil pode ser afetado de forma mais estrutural, admitem técnicos da equipe econômica.
A Espanha é o segundo maior investidor estrangeiro no Brasil, com estoque de capital de aproximadamente US$ 85 bilhões. Em 2011, o comércio bilateral somou US$ 7,97 bilhões, alta de 20% em relação ao ano anterior.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, pode conceder entrevista em Brasília, entre hoje e amanhã, para tentar acalmar o mercado. A ideia, segundo interlocutores do ministro, é destacar que as reservas internacionais do país (de quase US$ 380 bilhões) e a solidez fiscal, assegurada pelo forte superávit primário obtido nos primeiros meses deste ano, configuram um colchão de liquidez capaz de contrabalançar a crise externa. Além disso, o governo alega que o BC dispõe de um colchão de liquidez, representado pelos depósitos compulsórios dos bancos, de R$ 396 bilhões.
No limite, os dólares das reservas podem ser disponibilizados pelo BC ao mercado para diminuir a volatilidade da taxa de câmbio, enquanto que a economia de recursos fiscais realizada no primeiro semestre pode ser reduzida para aumentar os investimentos públicos. Um quadro pessimista, entretanto, não é o mais esperado pelas autoridades do governo Dilma Rousseff.
Os desdobramentos da crise na Espanha foram um dos principais temas debatidos por Dilma e integrantes da equipe econômica na semana passada. A presidente recebeu no último dia 4 comitiva de empresários e autoridades espanhóis, liderada pelo rei espanhol, Juan Carlos I. Durante as conversas, os interlocutores pediram à presidente ajuda do Brasil para superar a crise. Em contrapartida, Dilma defendeu que as empresas do país ibérico mantenham os investimentos no Brasil.
Técnicos do governo entendem que as dificuldades podem ser maiores a partir da semana que vem, a depender do resultado das eleições na Grécia, que serão realizadas no próximo domingo.
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