A captação externa da Brasil Food, concluída na quinta-feira, foi a única fechada no mês de maio e pode ter sido um ponto fora da curva. O mercado de renda fixa internacional ainda apresenta bastante volatilidade e permanece praticamente fechado, como resultado da maior aversão ao risco dos investidores em meio à piora das condições na zona do euro.
O mês de maio foi o mais fraco para as captações externas desde novembro de 2008, auge da crise financeira internacional, quando o país atraiu apenas US$ 360 milhões. Executivos de bancos de investimentos acreditam que pequenas janelas de oportunidade possam até surgir nas próximas semanas, mas nada parecido com os primeiros três meses do ano, quando o país atraiu mais de US$ 24 bilhões em recursos.
O banco Pine, que prospectava o mercado para realizar uma captação em francos suíços, da ordem de US$ 80 milhões, deve adiar o negócio.
"A partir de agora, será um mercado de janelas, diferente do começo do ano, quando tivemos dois ou três meses mais tranquilos", diz Cristina Schulman, chefe da área de dívida para Brasil do Santander.
Segundo ela, apenas emissões locais nos mercados americano e europeu encontram espaço, ainda que com volumes menores, e restrito a empresas com grau de investimento.
Mesmo com as dificuldades do cenário internacional, a Brasil Foods conseguiu realizar a emissão de US$ 500 milhões em títulos de dez anos - uma operação que vinha sendo preparada desde o ano passado para a rolagem de parte de sua dívida.
A taxa foi relativamente baixa, de 6% ao ano (yield), inferior ao custo da captação feita em 2010 pela companhia, de 7,25% ao ano. Já o prêmio de risco ficou mais elevado do que o de outras empresas.
A Braskem, que acessou o mercado no fim de abril e tem notas de risco semelhantes, pagou um spread sobre os papéis negociados no mercado secundário ("new issue premium") de 10 pontos básicos, metade do patamar de prêmio obtido pela Brasil Foods, mostrando que o investidor está mais avesso ao risco.
Outras empresas também preparam visitas aos investidores no exterior nas próximas semanas, mas sem emissões vinculadas. O objetivo é manter o relacionamento ou avaliar a demanda dos aplicadores globais.
"Os emissores provavelmente aproveitarão as oportunidades, mas não há grandes necessidades de funding para as empresas que captam regularmente no exterior", avalia Alexei Remizov, diretor do HSBC. "Não vejo um grande volume de emissão à frente", completa.
O atrativo que pode levar algumas companhias a enfrentar a volatilidade do mercado é o custo de captação, que permanece nos menores patamares históricos. O juro para empresas americanas com grau de investimento está abaixo de 4%, para papéis de dez anos, um dos menores já registrados - a taxa é baseada nos títulos da dívida americana, também nas mínimas.
Até o momento, a seca no mercado externo não prejudicou investimentos nem restringiu a rolagem de dívidas. A preocupação, no entanto, é com o futuro. Todos estão aguardando uma definição na zona do euro. A desaceleração mais forte da China e a economia americana, que se mostra ainda incipiente, também acenderam o sinal de alerta para os investidores, reduzindo o apetite pelo risco.
Pedro Bianchi, diretor do Bank of America Merrill Lynch, também acredita em volatilidade, mas não enxerga um risco muito grande de contágio para o Brasil em termos de funding em dólar. Mesmo no caso de empoçamento de liquidez externa, o Banco Central tem mecanismos para minimizar os impactos, com o uso das reservas internacionais.
"O governo mostrou que vai aumentar os gastos para se contrapor a uma falta de poupança externa", diz. "Existe espaço para o governo, em detrimento das contas públicas". (Com Bloomberg)
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