A crise global impede os países ricos de colocar preocupações ambientais no topo de sua agenda política, dificultando a transição para uma economia verde. "Na Europa ou nos Estados Unidos, as pessoas estão preocupadas mesmo com o colapso financeiro e com a transferência de empregos para a Ásia", disse o consultor em políticas ambientais Thomas Heller, professor da Universidade de Stanford e diretor da Climate Policy Initiative.
Para o economista Jeffrey Sachs, professor da Universidade de Columbia, só a mobilização da sociedade civil poderá convencer os governos a costurar ações mais firmes contra as mudanças climáticas. "Eu tenho certeza de que o presidente [Barack] Obama está preocupado, mas ele não dará uma palavra sobre isso nos próximos meses, porque seus consultores políticos vão lhe dizer para calar-se", afirmou Sachs, referindo-se à corrida eleitoral à Casa Branca. Ele lembrou um dos documentos firmados na Rio92 para exemplificar por que o governo americano dedica pouca atenção às discussões da Rio+20. "Somos 300 milhões de americanos, mas dificilmente chega a 1 milhão o número de pessoas que sabem o que é a Convenção da Biodiversidade."
Heller e Sachs participaram ontem de uma mesa-redonda na Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, no Rio, ao lado de brasileiros como o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga e o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan. Apesar de terem destacado o senso de urgência no combate às mudanças climáticas, nenhum deles mencionou os termos "estilo de vida" ou "redução do consumo" - nem outra expressão parecida - nas três horas de debates, como certamente gostariam de ter ouvido muitos ambientalistas.
Um dos consensos, conforme resumiu Armínio, é que "os mercados sozinhos nunca vão conseguir resolver essas questões". O importante, segundo o ex-presidente do BC, é que os governos desenhem os incentivos corretos para fomentar ações do setor privado.
Mas as mudanças serão graduais, completou Malan. "Não há um big-bang, uma mãe de todas as batalhas", disse o ex-ministro, acrescentando que a recuperação da crise também pode abrir brechas para a economia verde: "Não é inimaginável que se procurem estímulos a investimentos que tenham a ver com a mitigação de mudanças climáticas".
Para Sachs, ainda não se descobriu uma forma de conciliar o crescimento com a descarbonização da economia. Por isso, ele diz não ser exagero classificar o desafio atual como algo sem precedentes, principalmente porque exige coordenação entre os países. "Na história da humanidade, nunca colaboramos uns com os outros em escala global", afirmou. Apesar disso, não é "só uma questão de boa vontade política ou de romper interesses de empresas", mas de desenvolver novas tecnologias.
De acordo com Heller, a transição para uma economia verde significa "liberar recursos naturais consumidos pela baixa produtividade", mas isso requer mudanças em incentivos oficiais e subsídios. Não só em economias desenvolvidas, segundo alertou, mas também para a soja e o gado no Mato Grosso ou no Pará. "Eu sei que muitos economistas não gostam de subsídios, mas é a ferramenta de que dispomos."
Evitando um tom pessimista, Heller citou transformações históricas para jogar esperança na plateia. "Se olharmos para os últimos 250 anos, ninguém conseguiu prever com sucesso o que aconteceria nos 100 ou mesmo nos 50 anos seguintes. Os ciclos de mudanças ficaram mais fortes e fomos capazes de lidar com essas transições. Isso é uma fonte de otimismo."
"A razão do otimismo é que os motivos pelos quais precisamos mudar coincidem com as necessidades de governos e de empresas", prosseguiu Heller. Os recursos naturais estão cada vez mais caros e isso força as empresas a inovar. Em termos políticos, os países estão ficando mais democráticos, mesmo que isso normalmente não tenha nada que ver com mudanças climáticas, concluiu o professor de Stanford.
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