Dados econômicos decepcionantes, tensões renovadas nos mercados financeiros e receios cada vez maiores sobre a crise fiscal na Europa levaram a uma mudança de atitude no banco central americano, o Federal Reserve (Fed, na sigla em inglês) que voltou a considerar a possibilidade de agir para estimular uma recuperação da economia.
Tal ação parecia uma ideia remota na reunião do comitê de política monetária do Fed em abril, quando as previsões para o crescimento e o emprego estavam melhorando. Na reunião deste mês, as autoridades do banco deverão avaliar se as perspectivas da economia dos Estados Unidos estão deteriorando o suficiente para justificar novas medidas que impulsionem o crescimento, segundo entrevistas e pronunciamentos do Fed.
A próxima reunião do Fed, nos dias 19 e 20, poderia ser ainda cedo demais para decisões conclusivas. Os formuladores de políticas monetárias do Fed têm muitas perguntas sem resposta e tiveram dificuldades para formar um consenso no passado. Altos funcionários do Fed disseram que apoiariam novas medidas se estiverem convencidos de que os Estados Unidos não estão fazendo progressos na redução do desemprego. Recentes relatórios decepcionantes sobre a geração de emprego já levantaram essa possibilidade, mas os dados podem ser um tropeço passageiro. Além disso, as opções do Fed para oferecer mais relaxamento monetário certamente enfrentarão resistência interna no banco central se forem consideradas.
Entre as opções está não fazer nada e continuar a avaliar as perspectivas econômicas - ou sinalizar mais fortemente uma disposição para atuar caso o panorama piore mais tarde. Os formuladores de políticas do Fed poderiam também dar um pequeno passo, como prolongar por um curto período sua "Operação Twist", programa pelo qual o Fed tem vendido títulos de dívida de curto prazo e usado o dinheiro arrecadado para comprar títulos de longo prazo. Uma medida mais ousada seria lançar outra rodada de compra de títulos.
O panorama para o Fed se complica por causa da eleição presidencial nos EUA. É improvável que o presidente do banco central, Ben Bernanke, ciente de seu próprio legado e da independência do Fed, permita que o calendário eleitoral influencie decisões históricas. Ele parece especialmente imune à política atualmente, com apenas outros 18 meses antes do fim de seu mandato à frente do Fed e poucos sinais de que ele queira permanecer no cargo. Ainda assim, alguns investidores argumentam que o Fed tem um incentivo a mais para tomar decisões rápidas e evitar mudanças em suas políticas na época das eleições em novembro.
Bernanke e a vice-presidente do Fed, Janet Yellen, devem explicar sua visão sobre a economia e as políticas monetárias nos próximos dois dias. Bernanke vai depor amanhã no Comitê Econômico Conjunto do Congresso americano. Yellen fará hoje um discurso em Boston.
Quando os formuladores de políticas do Fed se reunirem, uma questão crucial será se eles rebaixarão muito sua previsões. Em abril, o banco central previu que a economia americana cresceria entre 2,4% e 2,9% e este ano, e a taxa de desemprego cairia para algo entre 7,8% e 8%. Eles também reduziram suas previsões de desemprego para o ano que vem.
Mas na semana passada o governo informou que a economia expandiu-se a uma taxa anualizada de apenas 1,9% no primeiro trimestre, e a taxa de desemprego em maio ficou em 8,2%. Depois de cair substancialmente no fim de 2011, a taxa de desemprego ficou praticamente estagnada nos últimos meses.
Há pouca preocupação dentro do Fed sobre o risco de uma nova recessão. Mas os formuladores de políticas do banco central podem decidir agir caso suas previsões de crescimento caiam o suficiente para levantar dúvidas sobre a capacidade da economia de manter uma redução na taxa de desemprego.
Bernanke vai enfrentar uma equipe de diretores dividida quando o Fed se reunir. Alguns duvidam da eficácia de comprar mais títulos de dívida quando as taxas de juros já estão muito baixas. Além disso, algumas autoridades se sentem frustradas com o fato de que os juros baixos não estão ajudando muitos segmentos da economia devido à falta de disposição dos bancos em emprestar dinheiro. E algumas autoridades temem que o Fed esteja arriscando elevar a inflação ou criar outra bolha financeira no futuro próximo se continuar a expandir sua carteira de títulos e empréstimos de US$ 2,8 trilhões.
Outros, no entanto, acreditam que o Fed deveria estar fazendo muito mais para estimular o crescimento, especialmente num momento em que a inflação parece estar muito próxima da meta do Fed de 2%.
(Colaborou Kristina Peterson.)
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