Os países do G-20 querem que os líderes europeus usem todos os meios possíveis para "salvaguardar a integridade da zona do euro", conforme rascunho de resolução da reunião de cúpula do grupo, na segunda e terça-feira, em Los Cabos (México), a que o Valor teve acesso. Isso inclui a utilização de "todas as fontes de financiamento" para recapitalizar os bancos e melhorar o crescimento.
As maiores economias do G-20 estão preparadas para turbulências advindas do resultado das eleições gregas, no domingo. Segundo fontes do grupo disseram à "Reuters", os bancos centrais estão preparando uma ação coordenada para garantir a liquidez e estabilizar os mercados. Ontem, o Banco da Inglaterra e o Tesouro do Reino Unido anunciaram plano de 100 bilhões de libras (US$ 155 bilhões) para combater os efeitos do agravamento da crise.
O mexicano Felipe Calderón vai presidir a cúpula do G-20 em Los Cabos e não espera soluções imediatas para os problemas da Europa
Os principais países europeus deverão se comprometer a "salvaguardar a integridade da zona do euro", usar "todas as fontes de financiamento" para recapitalizar os bancos e melhorar o crescimento, na cúpula do G-20 na segunda e terça-feira em Los Cabos (México).
O compromisso faz parte de um acordo que os líderes vão propor "para tratar de riscos de curto prazo e restaurar confiança", conforme um "draft" ao qual o Valor teve acesso. Para os líderes das maiores economias desenvolvidas e emergentes, riscos significativos persistem com a crise da dívida soberana e bancária na zona do euro "e mais ação é necessária" para estabilizar a situação.
Esta semana, o presidente mexicano Felipe Calderón reconheceu que a cúpula que ele vai presidir dificilmente trará soluções imediatas para os problemas da Europa. Mas, como diz o texto, poderá pavimentar o terreno para "minimizar riscos econômicos afim de reforçar o crescimento e a confiança no curto prazo e maximizar o potencial de expansão global no longo prazo".
A cúpula do G-20 ocorre um dia depois da eleição na Grécia, que poderá sinalizar a saída ou não do país da união monetária, além de eleição legislativa na França e presidencial no Egito.
Formado em 2008 para coordenar uma resposta global à crise financeira, o G-20 reúne economias que respondem por 80% do PIB mundial e 80% do comércio. É formado por Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, França, Brasil, Reino Unido, Itália, Rússia, Canadá, Índia, Espanha, Austrália, Coreia do Sul, Indonésia, Turquia, Argentina, África do Sul, Arábia Saudita e União Europeia.
No plano de ação, que continuará em negociação a partir de hoje em Los Cabos pelos "sherpas" (representantes dos líderes), o grupo identifica a crise da zona do euro como um dos riscos mais significativos que precisam ser administrados na economia global, além do ritmo do ajuste fiscal, desemprego alto e em expansão, preço do petróleo e aterrissagem de algumas economias emergentes.
Nesse cenário, no plano, os membros da área do euro que fazem parte do G-20 - Alemanha e França de um lado, e Espanha e Itália do lado do contágio - se dizem "resolutamente comprometidos em salvaguardar a integridade da zona do euro e adotar todas as ações requeridas para alcançar esse resultado".
O texto diz que "a zona do euro está comprometida a prosseguir com ações adicionais para reforçar sua estratégia de cinco pontos para resolver a crise da dívida soberana e bancária".
A estratégia europeia inclui "assegurar a disponibilidade e máxima eficácia" do "firewall" (barreira de proteção) europeu para conter o risco de contágio, "usando todos os meios para quebrar os problemas de vínculo entre o setor bancário e as finanças públicas". O mecanismo europeu é atualmente de € 500 bilhões.
Além disso, a ideia é agir fortemente para completar a recapitalização dos bancos até o fim do mês "usando todas as fontes disponíveis de financiamento, incluindo fundos públicos, se necessário". O prazo dado pela autoridade bancária europeia é para que os bancos reforcem suas reservas de capital mínimo para pelo menos 9% dos ativos ponderados pelo risco.
Os europeus prometem também assegurar a "coerência e integridade do sistema de seguro dos depósitos na zona do euro", sem entrar em detalhes.
Sob pressão, os europeus deverão fazer mais depois da cúpula do G-20. Para a cúpula europeia do dia 28, a França sinaliza que planeja propor que o Banco Central Europeu se encarregue da supervisão bancária e use o Mecanismo de Estabilidade Europeu para recapitalizar os bancos diretamente, o que é ainda rejeitado pela Alemanha.
No documento do G-20, os europeus repetem que vão reforçar crescimento e governança econômica com uma série de medidas, incluindo ajustar o déficit e o superávit de países da zona do euro, complementar o mercado comum, aumentar a capacidade do Banco Europeu de Investimentos (BEI), desenvolver "project bonds" para investimentos em infraestrutura e promover melhor uso de fundos estruturais e do orçamento da União Europeia. De maneira geral, o compromisso do G-20 é o de assegurar um "ritmo apropriado" de consolidação fiscal nas economias desenvolvidas para não sufocar uma recuperação.
Os EUA aceitarão, pelo menos no papel, "calibrar" o ritmo de sua consolidação fiscal no curto prazo às condições da demanda. E a "evitar uma forte contração" em 2013, por meio do fim de benefícios fiscais e cortes automáticos de despesas.
Os líderes do G-20 vão concordar que países com "flexibilidade" em seus planos de ajuste fiscal, como Alemanha, EUA, Austrália, Canadá e China, "considerem ações fiscais adicionais se as condições econômicas se deteriorarem bruscamente". Ao mesmo tempo em que asseguram estabilidade de preços, as economias desenvolvidas acenam com maior flexibilização monetária, incluindo "medidas não convencionais", para apoiar a recuperação econômica "onde for necessário".
Embora o plano de ação não especifique quais "medidas não convencionais" poderiam ser adotadas, o principal nos últimos anos tem sido o afrouxamento quantitativo, ou compra de ativos financeiros para aumentar liquidez e estimular crescimento econômico.
Os países desenvolvidos prometem ser "vigilantes" para as consequências de suas políticas domésticas, incluindo o potencial impacto no fluxo de capital para economias emergentes. "Reiteramos que excessiva volatilidade e movimentos desordenados nas taxas de câmbio têm implicações adversas para a estabilidade financeira e econômica", diz o documento. "Estamos alertas para os riscos associados com a recente alta na volatilidade e comprometidos em reduzir esses riscos".
Quanto aos emergentes, se dizem prontos a ajustar suas políticas macroeconômicas, como as taxas de juros, se pressões inflacionárias aumentarem, ao mesmo tempo evitando uma forte desaceleração no crescimento. O documento menciona especificamente Brasil, Índia e Turquia.
Por sua vez, a China promete reequilibrar a demanda doméstica, acelerando a liberalização da taxa de juro, por exemplo. Sobre taxas de câmbio, os líderes vão de novo conclamar por rápido movimento em direção "de taxas mais determinadas pelo mercado e abster-se de desvalorização competitiva das moedas".
Outro risco que exige "vigilância" é a alta do petróleo. O G-20 registra a promessa da Arábia Saudita de mobilizar mais de 2,5 milhões de barris por dia de capacidade ociosa. O plano lista também uma série de áreas prioritárias que o G-20 considera importante para sustentar a recuperação e reequilibrar a demanda global. Retoma no geral compromissos assumidos no ano passado na França.
No caso do Brasil, por exemplo, reduzir o peso tributário sobre o trabalho e promover investimentos na infraestrutura para acabar com gargalos que afetam a competitividade da economia.
Um levantamento discutido no G-20, conforme fontes, estimou que os países implementaram dois terços dos compromissos de reformas estruturais e 40% dos compromissos totais assumidos em outras cúpulas. Agora, para facilitar o acompanhamento dos compromissos nas áreas fiscal, monetária e cambial, os líderes vão mandar os ministros de finanças e presidentes de bancos centrais concordarem, na próxima reunião neste ano, em estabelecer medidas para avaliar, por exemplo, déficit e dívida governamentais relativos ao PIB, e taxas de câmbio real e nominal.
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