Na presidência de um país que cresceu 8% no ano passado, elevou o investimento público a 13% do produto Interno bruto e reduziu o desemprego a 4,5% da força de trabalho, "o mais baixo patamar da região e da história do país", um confiante Rafael Correa diz estarem definitivamente encerrados os conflitos com o Brasil, que chegaram ao auge com a expulsão de engenheiros da Odebrecht, acusados de irregularidades na obra de uma hidrelétricas, há quatro anos. Correa quer mais investimentos brasileiro e pretende colocar o Equador no Mercosul, como membro pleno do bloco.
O interesse no Mercosul parte, porém, da avaliação de que os países do grupo compartilham a rejeição do governo equatoriano a acordos de livre-comércio como os que foram frequentes nos anos 90. "O Mercosul também teria um porto no Pacífico", argumenta Correa, dizendo precisar de "instrumentos comerciais" para compensar a dolarização da economia equatoriana.
Em entrevista ao Valor acompanhada por um semicírculo de cinegrafistas de emissoras equatorianas, Correa, algumas vezes, falava diretamente às câmeras, como se estivesse em um programa de TV, e pareceu empenhado em afastar a imagem de inimigo da imprensa - alimentada por processos judiciais contra jornalistas do país. Não deu pistas do que pretende fazer em relação ao pedido de asilo do fundador do site WikiLeaks, Julian Assange, abrigado na embaixada equatoriana em Londres.
Correa em 2010 conseguiu receber indenização da Odebrecht por alegadas falhas na hidrelétrica de San Francisco e, depois disso, chegou a realizar um pacote de ofertas (de até US$ 2,5 bilhões) a empresas brasileiras, com financiamento do BNDES, que levou a Odebrecht a ganhar a concorrência para construir a usina de Manduriacu, de US$ 136 milhões em investimentos. Os desentendimentos com as construtoras e o BNDES ficaram para trás, garante ele.
"Graças a Deus isso está superado a tal ponto que a Odebrecht reconheceu sua responsabilidade, consertou a hidrelétrica e ganhou outros dois contratos de megaprojetos", argumenta. Ele diz que o interesse em atrair empreendimentos do Brasil vai muito além da construção civil. "Adotamos o sistema japonês-brasileiro de TV digital; isso significa US$ 2,5 bilhões em negócios", calcula.
Na Rio+20, defendeu sua proposta de recompensar os países pelo "valor econômico" de suas reservas naturais não exploradas e potencialmente liberadores de gases de carbono; a começar pelo projeto Yasuni ITP, pelo qual pretende abrir mão de explorar reservas petrolíferas em um parque natural (entre elas reservas que já foram da Petrobras) em troca de recursos de investidores.
"É preciso sobretudo compensar [os países] pela geração de valor, não só geração de mercadorias", argumenta, ao expor o projeto de vetar a exploração do parque que diz conter três campos com reservas de 800 milhões de barris, "com valor presente líquido de US$ 14 bilhões". Ele dedicou parte de seu discurso na conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável a expor seu plano Yasuni ITP, e à análise de que os países pobres e em desenvolvimento são produtores de bens ambientais, consumidos de maneira predatória pelos países ricos, maiores responsáveis pelas emissões de CO2 do planeta.
Na Rio+20, Correa tratou não só de projetos, mas de ações concretas de intervenção estatal na economia. Um de seus encontros foi com o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, para quem mais uma vez defendeu o projeto aprovado por ele no Equador que impede os bancos de cobrarem dívidas imobiliárias dos equatorianos que entregarem sua hipoteca. São 8.000, pelo menos, os equatorianos endividados no sistema de hipotecas da Espanha, com altas dívidas nos bancos espanhóis. Havia firmas equatorianas comprando dívidas de migrantes do Equador na Espanha para pedir na Justiça equatoriana a apreensão de bens desses cidadãos. "Tomamos medidas para evitar isso", conta, orgulhoso.
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