Em setembro de 2008, quando a eurozona ainda via de longe a crise americana e a Grécia só era assunto das revistas de turismo, a moeda única da União Europeia recebeu um sinal inequívoco de prestígio. A Polônia, maior economia entre os 12 países da Europa Central e do Leste que entraram no bloco na década passada, anunciou sua intenção de aderir ao euro até 2012.
Com a quebra do Lehman Brothers, apenas duas semanas mais tarde, os planos começaram a mudar; hoje ninguém mais fala em abandonar a moeda nacional, o zloty, no curto prazo. O que parecia ser um desvio da rota planejada tornou-se acidentalmente uma tábua de salvação: graças às exportações incentivadas por um zloty desvalorizado e à queda de juros propiciada pela preservação de sua política monetária, a Polônia enfrentou a crise global sem cair em recessão (foi o único país da UE onde isso ocorreu) e terá a maior expansão do bloco neste ano.
A economia polonesa deverá crescer 2,7% em 2012, segundo projeções da Comissão Europeia. A Eslovênia e a Eslováquia, seus vizinhos que adotaram o euro, vão ter um desempenho bem inferior: queda de 1,4% e crescimento de 1,8%, respectivamente. O PIB da Estônia, que também adotou a moeda, teve contração de 14,3% em 2009 e sua economia ainda não voltou aos níveis pré-crise.
"Vamos ficar com o zloty pelo menos até 2017 ou 2020. O euro é uma boa casa, mas que precisa ser pintada e remodelada antes de ganhar novos moradores", diz Iwona Chojnowska-Haponik, diretora da Invest in Poland, a agência oficial de promoção de investimentos. "Não termos adotado o euro seguramente nos permitiu atravessar a crise com menos dificuldade".
Basta caminhar um pouco pelas ruas de Varsóvia, que se tornou um canteiro de obras com os investimentos em construção civil e infraestrutura, para perceber o ceticismo com o euro. "Não parece uma boa ideia abrir mão do zloty agora. Além dos problemas da Grécia, todos os países que adotaram o euro tiveram aumento de preços na troca da moeda, não?", questiona a estudante de arquitetura Anna Stachniak, que era favorável à entrada da Polônia na zona do euro, mas mudou de ideia com o aprofundamento da crise grega.
Uma pesquisa recente do instituto TNS OBOP, com 1.004 entrevistas, demonstrou que só 13% dos poloneses acham que adotar o euro pode ser vantajoso para o país. A rejeição é especialmente forte entre mulheres, trabalhadores e agricultores. Jovens de até 19 anos e executivos são menos resistentes, mas mesmo entre eles o apoio à adoção imediata do euro jamais supera 25% dos entrevistados.
Para o economista-chefe do Bank of Austria, Stefan Bruckbauer, a crise do euro desestimula sua adoção pelos países da Europa Central neste momento, mas isso pode se reverter em um prazo de cinco anos. Segundo ele, a moeda única ainda é bem vista pelos governos da região, como conceito. "Mas é preciso que haja mais integração na UE, com a emissão de eurobônus e uma política fiscal comum. Antes de isso acontecer, não será fácil alguém entrar [na zona do euro]", diz Bruckbauer.
Se quisesse entrar, a Polônia já estaria cumprindo os requisitos do Tratado de Maastricht - algo que não ocorre com a maioria de seus sócios na UE. A previsão do Ministério das Finanças é que o déficit nominal seja de 2,9% do PIB neste ano (abaixo dos 3% exigidos), enquanto a relação dívida/PIB ficará em 55% (o máximo permitido pelo tratado é 60%, mas Itália e Grécia têm o dobro ou mais disso).
O euro, que valia 3,42 zlotys quando o primeiro-ministro Donald Tusk anunciou sua intenção de adotar a moeda única, chegou a alcançar 4,87 zlotys no auge da recessão global. Hoje está em 4,32 zlotys. As exportações receberam um forte estímulo com isso. Agora, mais uma vez a Polônia faz uso de sua política monetária. Com a economia aquecida e inflação chegando a 3,9% em 12 meses, o que preocupa o governo, a taxa de juros foi elevada para 4,75% ao ano - medida, como se sabe, impossível de ser tomada isoladamente quando o país deixa de ter a sua moeda.
Mas há exportadores de manufaturados, como a Medcom, indústria polonesa de sistemas elétricos para trens e metrôs, que não veem muito sentido em ficar de fora do euro. "Não vendemos moeda, vendemos produtos, e o mais importante para os nossos negócios é ter estabilidade", diz o diretor comercial da empresa, Piotr Wronski.
Para o executivo da Medcom, apesar de o zloty ter tido momentos de grande desvalorização frente ao euro, a média dos últimos cinco anos mostra relativa neutralidade. "E temos um enorme trabalho com hedge. Se a Polônia adotar o euro, posso cortar pelo menos dois postos de trabalho, na nossa sede, que só existem porque precisamos estar o tempo todo olhando o mercado de câmbio".
Nos antigos países socialistas, quem já trocou a moeda nacional pelo euro tem dúvidas na hora de fazer um balanço. Para o diretor da Câmara de Comércio e Indústria da Eslováquia, Frantisek Kupciha, é difícil afirmar se houve mais benefícios ou desvantagens. A Eslováquia entrou na zona do euro em 2009. "De uma hora para outra, as pessoas tinham uma moeda tão forte que passaram a fazer turismo e ir de compras nos países vizinhos, como a Hungria e a República Tcheca", lembra.
Kupciha diz que "a grande vantagem de termos o euro é que operamos no mesmo ambiente dos nossos principais parceiros comerciais", mas reclama do encarecimento do custo de vida. "Os salários na Eslováquia são muito menores do que os da Europa Ocidental, mas as tarifas de energia e de gás às vezes são mais altas até do que na Áustria ou na Alemanha", protesta.
O repórter viajou a convite da Advantage Austria
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