Os bancos da zona do euro cortaram US$ 300 bilhões de sua exposição nas economias emergentes num prazo de seis meses. O movimento deve continuar e resultar em corte de 20% da exposição total nesses mercados, de acordo com o Royal Bank of Canadá (RBC).
A forte contração econômica, aumento de calotes, fragilidade nos preços dos ativos, deterioração de negócios e intensificação de riscos financeiros ou políticos têm forçado os bancos na zona do euro a reduzirem seus balanços, diz Nick Chamie, economista-chefe para mercados emergentes do RBC.
Em novembro, o RBC estimou que as instituições europeias precisavam cortar € 1,4 trilhão nos balanços, para alcançar o "Tier 1" de 9%, o nível de capital mínimo de melhor qualidade, e um terço dessa redução viria com a venda de ativos nos emergentes.
Agora, o banco canadense calcula que as instituições da zona do euro baixaram de US$ 2,6 trilhões para US$ 2,3 trilhões sua exposição nos dois últimos trimestres de 2011. A expectativa é de que, ao final deste mês, outros US$ 200 bilhões de venda de ativos tenham sido realizados.
As instituições europeias vem se desalavancando nos emergentes por meio da redução de financiamentos e da venda de fatias de filiais. No segundo caso, o RBC calcula que US$ 12 bilhões de vendas de participações em filiais tomaram o rumo das matrizes para reforçar seu capital.
O RBC acha que outras vendas poderão se materializar na América Latina, como o fundo de pensão do BBVA na região. Por sua vez, o Santander Brasil rejeita enfaticamente planos de venda.
Numa lista de 38 fatias de negócios que os europeus tiveram de abandonar, boa parte foi comprada por bancos dos próprios emergentes. É o caso de uma operação do HSBC no Chile, adquirida pelo Itaú Unibanco. Instituições chinesas compraram fatias de operações europeias na América Latina e Ásia.
Chamie atribui a desalavancagem à parte da saída de capital gerada pela repatriação de euros para as matrizes europeias. É dinheiro que saiu do sistema bancário local, reduzindo a capacidade disponível de funding, diz o analista.
O declínio nos empréstimos nos emergentes também é evidente e "representa um freio no crescimento do crédito e, assim, no crescimento econômico".
Os bancos da zona do euro tem prazo até o dia 30 para alcançar o nível de 9% de capital mínimo de melhor qualidade (Tier 1). Mas a desalavancagem, tanto dos europeus como de outras instituições de países desenvolvidos, deve continuar, em meio a recessão, fraca rentabilidade e mercados deteriorados.
Para o analista, o processo global de desalavancagem poderá continuar em 2012 e além, atuando como um persistente contra-peso para moedas dos emergentes, crescimento global e mercados, ajudando na valorização do dólar americano.
Em relatório, o Banco Internacional de Compensações (BIS) confirma a mais forte baixa na exposição de bancos desenvolvidos no exterior desde a falência do Lehman Brothers, há três anos. Os empréstimos externos para economias desenvolvidas caíram US$ 630 bilhões, essencialmente na zona do euro. E declinaram US$ 75 bilhões nos emergentes no último trimestre de 2011, basicamente na Ásia-Pacífico. Somente cresceram em América Latina e Caribe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário