A atitude da Argentina de nacionalizar sua maior petrolífera está aumentando os temores dos investidores sobre as políticas econômicas do país e pressionando ainda mais o valor de sua moeda.
A preocupação com o direcionamento econômico adotado pelo governo da Argentina aumentou a diferença entre o câmbio oficial e o paralelo - determinado principalmente por empresas que fazem transações complexas nos mercados de ações e títulos de dívida para poder conseguir dólares - para o maior nível dos últimos anos.
Essa cotação do dólar, chamada de "blue-chip swap", caiu em 18 de abril, dois dias depois do comunicado governamental, para 5,69 pesos argentinos por dólar, 29% abaixo do câmbio oficial.
Foi a maior diferença desde novembro de 2008, auge da crise financeira.
O catalisador mais recente surgiu quando a presidente Cristina Kirchner disse que seu governo iria nacionalizar uma fatia majoritária da YPF SA. A diferença entre as duas taxas de câmbio já vinha aumentando desde que a presidente implementou uma série de controles cambiais e restrições às importações, após sua reeleição em outubro.
O blue-chip swap envolve a compra de dívida soberana argentina ou ações locais de companhias listadas nos Estados Unidos, e a subsequente troca desses papéis no exterior por dólares. A blue-chip swap é a taxa de câmbio implicita nessas transações.
A cotação menor do peso no paralelo reflete as expectativas de que a Argentina será forçada a reduzir o câmbio oficial mais rapidamente para impedir a fuga de capitais e favorecer os exportadores.
"É um termômetro do sentimento de risco. Ele reflete a demanda por dólares e a confiança menor na moeda local", disse Siobhan Morden, diretor de estratégia latino-americana da Jefferies & Co.
O acionista controlador da YPF, a petrolífera espanhola Repsol YPF, prometeu lutar na justiça contra a expropriação.
O governo espanhol ameaçou impor sanções comerciais.
A estatização também alimentou dúvidas sobre a capacidade da Argentina de atrair os bilhões de dólares em investimentos necessários para desenvolver as vastas jazidas de petróleo e gás natural do país.
O dólar no câmbio paralelo estava a 5,47 pesos, 24% menor que o câmbio oficial de 4,41525 pesos. Os mercados argentinos fecharam segunda-feira e ontem.
Embora a diferença tenha diminuído recentemente, a tendência continua intacta para uma taxa blue-chip swap maior, disse Morden.
Empresas e indivíduos ricos sedentos por dólares tornaram a taxa blue-chip swap uma maneira de obter divisas americanas para poder pagar fornecedores no exterior ou tirar dinheiro do país. É uma maneira legal de driblar as restrições cambiais.
O estrategista de renda fixa Boris Segura, da Nomura Securities, calcula que as transações com blue-chip swaps respondem por de 10% a 15% do mercado cambial argentino. Por si só não é uma fonte importante para se obter dólares",disse Segura. "Esse é o problema. Como é uma janela relativamente pequena, isso aumenta a volatilidade do bluechip swap."
Segura disse que, durante outras ondas de volatilidade no mercado - como a eleição de Kirchner ou a briga dela com o setor agrícola em 2008 -, a cotação paralela subia mas depois voltava ao nível de antes da crise, depois de algumas semanas.
Até agora, não há sinais de convergência das taxas, disse ele.
O abismo entre o câmbio blue-chip e a cotação à vista é fruto das políticas econômicas de Kirchner, que têm priorizado o crescimento às custas do controle da inflação, que economistas do setor privado dizem estar atualmente entre 20% e 25% por ano. Por meio de sua intervenção quase diária no mercado cambial, o banco central do país conseguiu que o peso caísse 2,5% em relação ao dólar este ano. A depreciação gradual do peso, juntamente com a inflação alta, acabou fortalecendo o peso em relação ao dólar quando o valor é ajustado para a inflação, prejudicando as exportações da indústria local.
Se os argentinos são sensíveis às flutuações da taxa blue-chip swap, as autoridades do país também o são. Elas monitoram a taxa por causa de sua importância como indicador do sentimento do mercado.
Operadores dizem que a agência nacional de fundos de pensão Anses, que é o maior investidor institucional da Argentina com mais de 200 bilhões de pesos em ativos sob sua gestão, vende periodicamente dívida em dólar no mercado local para reduzir o hiato entre as taxas de câmbio oficial e blue-ship.
Representantes da Anses e do Ministério da Economia não responderam a emails pedindo comentários. "Nós a acompanhamos, mas é um mercado pequeno", disse um porta-voz do banco central em referência à taxa blue-chip swap.
(Colaboraram Taos Turner e Prabha Natarajan.)
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