Leia a entrevista do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, concedida à imprensa japonesa.
O texto abaixo foi produzido pela Assessoria de Comunicação Social do MDIC e não é o texto original da notícia veiculada pelo jornal japonês Nikkei, nem mesmo a tradução deste.
Nikkei: Que influência a recente alta do dólar tem sobre a economia brasileira? Até que patamar essa elevação poderia ocorrer sem ameaçar a inflação?
Fernando Pimentel: Com o Real apreciado, havia dois movimentos: o Brasil perdia espaço nas exportações e as importações ficavam muito baratas. O que se observa agora é uma correção de rumo. Até o momento, o governo brasileiro não identificou risco inflação vindo dessa mudança no câmbio. O Banco Central interveio no mercado ontem (23 de maio), impedindo que o dólar ultrapassasse a barreira de R$ 2,10, numa indicação de que o patamar que está sendo trabalhado é um pouco além ou pouco abaixo de R$ 2.
Nikkei: Como o Brasil pretende fortalecer o comércio com o Japão?
Fernando Pimentel: Brasil e Japão já temos relações sólidas, históricas. Neste momento, queremos atrair mais empresas japonesas para o Brasil, queremos que venham produzir aqui. Interessam as áreas mais intensivas em tecnologia, como a indústria naval, eletroeletrônica, automotivas, de petróleo e gás. Nosso mercado tem sido historicamente fornecedor de matéria-prima e alimentos. Nós queremos aprimorá-lo. Em vez de o Japão simplesmente vender para o Brasil, queremos dar mais qualidade à indústria brasileira.
Nikkei: Há possibilidade de um tratado de livre comércio Brasil-Mercosul?
Fernando Pimentel: A possibilidade existe, mas a crise econômica internacional atual torna essa possibilidade mais distante. A crise levou países da região a uma postura mais defensiva em relação ao comércio internacional – e eu menciono a Argentina, que tem mais dificuldade do ponto de vista cambial e industrial. Hoje, há dificuldade de acordo não com o Japão especificamente, mas com qualquer país. Acredito que passado o momento mais agudo da crise, em um ou dois anos poderemos caminhar na direção de um acordo. Há interesse do Brasil num acordo com o Japão.
Nikkei: Por que o Brasil está adotando uma postura mais protecionista, com aumento de IPI para automóveis, revisão do acordo automotivo com o México?
Fernando Pimentel: Não se trata de protecionismo. Temos aperfeiçoado nosso mecanismo de defesa do mercado interno, com o objetivo de preservá-lo para empresas que produzem aqui. Todas as empresas automotivas que estão no Brasil são multinacionais, inclusive as japonesas. O que fizemos foi atrair mais investimentos para o Brasil. As empresas que simplesmente vendem aqui podem passar a fabricar aqui. O Brasil é o terceiro mais mercado automotivo do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Queremos incentivar que mais empresas venham para cá.
Nikkei: Mas sem a concorrência externa essas empresas instaladas aqui não poderiam se enfraquecer?
Fernando Pimentel: O mercado brasileiro é aberto, não há proibição a nenhum tipo de produto. O que fizemos foi criar condições mais favoráveis a quem produz aqui. Hoje, de 15% a 20% do mercado de consumo brasileiro é ocupado por importados. Há alguns anos, esse percentual não chegava a 10%. Não estamos nos fechando, o que queremos é que as empresas venham produzir aqui.
Nikkei: O que o governo vai fazer para atingir a meta de crescimento de 4,5% ao ano?
Fernando Pimentel: A crise internacional afetou o nosso crescimento, desaqueceu o mercado brasileiro e por isso o ministro Guido Mantega (Fazenda) já cuida da revisão da meta. O governo já toma providências para que ela seja atingida. Recentemente, reduzimos os impostos sobre veículos novos, baixamos os juros consideravelmente e oferecemos mais crédito tanto para o consumo como para investimento. Vamos permitir que a economia recupere o fôlego.
Nikkei: Os países asiáticos estão se organizando em bloco e firmando acordo com México, Chile, Peru. Que medidas o Brasil está tomando para se aproximar desse bloco asiático?
Fernando Pimentel: Cada país tem sua história e características. Esses três países latino-americanos têm acesso ao Oceano Pacífico. O Brasil, em compensação, tem longa e boa relação com a Ásia. A China é o nosso maior parceiro comercial. O Japão é um dos países com o qual o Brasil tem mais relações culturais, diplomáticas, históricas e políticas. Muito mais do que simplesmente relações comerciais. Empresas japonesas estão no Brasil há sessenta, setenta anos, e todas caracterizam-se pela transferência de conhecimento tecnológico. Isso nos motiva ainda mais – e, por isso, faço uma viagem como esta à Ásia – a trabalhar para aprofundar essa relação com o Japão.
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