O governo argentino reagiu com ainda mais rigor sobre a demanda de dólar por parte de pequenos poupadores. Hoje entra em vigor outra restrição, obrigando a compradores de pacotes turísticos a informarem à AFIP, o órgão da receita, dados como a duração da estadia no exterior, o destino final e as escalas aéreas.
A justificativa do governo é que a medida visa a coibir fraudes: as agências podem adquirir dólares pelo mercado oficial, onde a cotação está 4,48 pesos pela moeda americana e os pacotes são vendidos na moeda local, parceladas em prestações congeladas pela cotação do dia do fechamento do contrato.
Desde novembro, diversas medidas foram tomadas pelo governo argentino para restringir a compra de dólares por pessoas físicas ou jurídicas. Dado o costume no país de se entesourar moeda estrangeira, as reservas do país passam por constantes crises de volatilidade. No ano passado, saíram do mercado financeiro cerca de US$ 23 bilhões. O turismo não havia sido afetado por nenhuma das restrições já existentes.
O governo disse suspeitar de operações fictícias, como a cobrança de um valor acima dos gastos reais com passagem aérea e hospedagem, devolvendo uma diferença em dinheiro estrangeiro para o comprador. Caso a nova norma implique dificuldades de se adquirir dólares pela cotação oficial, da mesma maneira que ocorre com as compras diretas em casas de câmbio, ainda resta o cartão de crédito como o último caminho para um argentino viajar para o exterior sem recorrer ao câmbio paralelo. A presidente Cristina Kirchner ainda não limitou os saques e compras com cartão.
Em 2011, segundo dados oficiais, 2,1 milhões de argentinos saíram do país, retirando US$ 2,8 bilhões. Foi um crescimento de 8% em valor em relação ao número registrado em 2010. Do total de turistas, 473,5 mil se dirigiram ao Brasil. O cálculo leva em consideração apenas os viajantes de avião. Não há estimativas de qual é o trânsito terrestre de argentinos para o Brasil. A conta dos viajantes aéreos é superavitária. Em 2011, ingressaram na Argentina 2,692 milhões de visitantes, que trouxeram US$ 3,5 bilhões. O fluxo do Brasil para a Argentina foi de 1,1 milhão de turistas. Dos viajantes argentinos, apenas 18% saem do país por meio de um pacote.
Na quinta-feira, último dia útil da semana (foi feriado na sexta), o mercado paralelo de dólar registrou uma desaceleração, com a moeda americana sendo negociada nas "cuevas", ou casas de câmbio clandestinas, a 5,90 pesos. O dólar oficial oscilou de 4,49 para 4,48 pesos. As reservas do Banco Central se mantêm acima de US$ 47 bilhões.
Ao discursar em Bariloche, durante a cerimônia de 25 de maio, a presidente Cristina Kirchner fez um apelo para que os argentinos deixassem de poupar em dólar. Ela relatou a história de um amigo da família que em 2002, um ano antes da chegada de Néstor Kirchner ao poder, comprou dólares a 4,80 pesos imaginando que a moeda em breve valeria dez pesos. "Conseguimos mostrar que o modelo válido é o de mercado interno forte, exportações fortes e desendividamento", disse.
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